terça-feira, 23 de setembro de 2014

Somos todos romeiros e romeiras

Um Olhar de Fé:
............Somos todos caminheiros. Por natureza, não somos sedentários. Cada vez mais nos damos conta de que precisamos caminhar para ter mais saúde e melhor qualidade de vida. Não podemos parar nunca, para o nosso bem.
............Uma pessoa que fica algum tempo parado começa a atrofiar seus membros, sendo necessários exercícios para voltar à normalidade. Alguns cientistas afirmam que o mesmo acontece com o cérebro, que é formado por uma série de músculos. E cérebro que não é ativado, também atrofia.
............E o melhor remédio para manter em dia nossos músculos cerebrais é exercitá-los através da leitura. Ler faz bem para tudo, até para nossa saúde. Ler sempre, todos os dias.
............Assim também a fé. O próprio Jesus diz no Evangelho que “a todo aquele tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 25,29). Claro que aqui o Mestre não está se referindo às coisas materiais, mas sim à fé e aos talentos. Precisamos sempre alimentar e aprofundar a nossa fé. Caso contrário, ela irá esfriando, diminuindo, minguando, sumindo...
............Isso vale também para nossa espiritualidade. Somos todos caminheiros para a Casa do Pai. Neste sentido, desde os tempos antigos, todas as religiões realizam suas peregrinações a lugares importantes e sagrados. No Cristianismo, ia-se a Roma, onde foram martirizados tantos fiéis e os apóstolos Pedro e Paulo. Ir a Roma vira sinônimo de “romaria”, e “romeiro” sinônimo de “peregrino”, “caminheiro”.
............Na nossa região temos o Santuário Diocesano de Nossa Senhora Conquistadora, que realiza, sempre no ultimo domingo de setembro, a sua peregrinação, já há quarenta anos. E este ano com a presença da imagem peregrina da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, preparando os trezentos anos em que ela foi encontrada, em 2017.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

A Bíblia e o chimarrão

Um Olhar de Fé

............Setembro é lembrado por muitas comemorações e celebrações. Quero destacar duas: mês da Bíblia (para os católicos) e a Semana Farroupilha.
............O que ambos têm em comum? A tradição. A hospitalidade. A busca e o cultivo da fraternidade. O criar laços e construir pontes.
............Tomar chimarrão é um hábito e uma tradição, herdada dos índios e cultivada por todos os gaúchos, sejam brasileiros ou não. Conhecemos toda a mística do tomar o mate.
............É bom tomar mate sozinho. Principalmente quando queremos estar sós, meditando, estudando, rezando... Nas madrugadas da vida ou nas solidões dos estudos. Mas é muito bom também sorver o chimarrão com a família, com os amigos, no lazer ou no trabalho, nas visitas ou nas reuniões.
............O mate aproxima, não afasta ninguém. Todo mundo, conhecido ou estranho, recebe a cuia, que irmana, cria amizade e cumplicidade.
............Para quem nunca tomou, faz cara estranha, fala que é “quente, amargo, ruim, horrível...” Mas na medida que vai se habituando, nunca mais deixa de tê-lo como companhia.
............Tudo o que falei acima, vale igualmente para a Bíblia Sagrada. E ela é a Palavra de Deus.
............Para quem nunca leu ou pouco lê a Bíblia, diz “que é muito difícil, insossa, não consigo entender o que leio, não tem graça”, etc... Mas na medida em que a vamos tornando próxima de nós e vamos criando o hábito da leitura diária, nunca mais a deixamos.
............É bom ler a Bíblia sozinho, no silêncio do quarto ou do escritório, na cozinha ou embaixo de uma árvore ou em outro local. Até acompanhado de um bom mate. Precisamos dela. Mas melhor ainda é lê-la com os outros: na família, no grupo de oração ou de estudo, na comunidade, na Igreja. Para quem não está habituado, vai estranhar nas primeiras vezes. Mas depois que criar o gosto, nunca mais vai largar. E vai sentir falta quando não puder participar.
............Existem muitos jeitos de se fazer o chimarrão. Cada um descobre o seu. Não existe uma receita só. Assim também com a Bíblia. Quero apresentar um jeito. Cada um deve descobrir o seu.

Como ler a Bíblia

............É preciso dedicar um tempo diário para estudar e meditar a Bíblia: pode ser pela manhã, logo após o acordar; ou, depois do almoço ou da janta; ou, Antes de dormir; ou, ainda, qualquer outro horário que se adapte ao seu tempo livre. A quantidade de tempo também pode ser livremente estabelecida: dez, quinze, trinta minutos ou mais. Quanto mais tempo você tiver, melhor!
............É necessário dividir o tempo: um terço de leitura e dois terços de estudo e oração.  Assim se você resolver dedicar quinze minutos diários, use cinco minutos para leitura e dez minutos para o estudo. Após estabelecer o horário que melhor o satisfaça, cumpra-o rigorosamente, não esquecendo nem adiando nenhum dia, mesmo que se sinta cansado. Lembre-se: devemos amar a Deus sobre todas as coisas!
............Com a Bíblia na mão e o caderno de anotações, inicie o seu estudo com uma oração ao Espírito Santo, pedindo que o ilumine. Selecione a leitura. Você poderá seguir a sugestão da Igreja e ler as leituras programadas para o tempo litúrgico ou ler a Bíblia na forma sequencial, particularmente sugiro que se comece pelo Novo Testamento. Após a leitura, inicie o estudo, tomando nota das passagens que mais o tocam e as coloque em prática.

            Bom proveito!



terça-feira, 9 de setembro de 2014

Mateus e o seu Evangelho

            Para se entender melhor um texto, é preciso conhecer algumas coisas: quando foi  escrito, o contexto em que foi escrito, quem é o autor. Todo escrito é filho de uma época, de um lugar e de um conjunto de realidades bem concretas.
Com a Bíblia não é diferente. Toda palavra escrita ou falada tem sempre uma intenção. Assim também os livros sagrados.

            Este ano, a Igreja propõe para nossa reflexão e estudo o tema dos “Discípulos missionários a partir do Evangelho de Mateus”, destacando as últimas palavras de Jesus neste Evangelho: “Ide, fazei discípulos e ensinai” (cf. Mt 28,19-20). 
            A intenção de Mateus é provar aos seus contemporâneos que Jesus de fato é o Cristo, o Messias, o Filho de Davi, o Emanuel (Deus conosco). Seu Evangelho é escrito de uma maneira tal que mostra Jesus como um novo Moisés. Este sobe ao Monte Sinai para receber os Dez Mandamentos. Jesus sobe à Montanha para fazer o seu Sermão inicial, como que um discurso programático de sua missão, proclamando as Bem-aventuranças e o caminho para a felicidade.
            Para Mateus, Jesus sempre proclama a vontade do Pai, que é para concretizar aqui, agora, o seu Reino. É a comunidade a portadora da semente do Reino entregue por Jesus, o Senhor da história. É na comunidade que Jesus se encontra (“onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles”). É a comunidade o espaço da união, do perdão, da presença de Deus.
            Mateus encerra seu Evangelho com a promessa que está no início de seu escrito: “Emanuel, Deus conosco”. Jesus garante sua presença no meio daqueles que põem em prática a sua Palavra. Ele está presente na dura caminhada da comunidade e entre os que continuam sua missão. Até o fim dos tempos. E todo batizado deve ser seu discípulo missionário.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Xingu

            Vivemos num país de dimensões continentais. Muitas partes são desconhecidas da maioria dos brasileiros. Também em matéria de organização da Igreja. Na região oeste do Pará temos a Prelazia do Xingu, com sede em Altamira, com superfície de 368.086 quilômetros quadrados, do tamanho dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina juntos. A maior diocese do Brasil fica no Xingu e soma aproximadamente 800 comunidades, mas tem apenas 27 padres. Fora essa desproporção, a região conta com muitos desafios à defesa dos direitos dos indígenas e, também, ao trabalho da Igreja na Amazônia. Seu Bispo é Dom Erwin Kräutler, que está sob proteção policial desde 29 de junho de 2006, dia e noite.
Dom Erwin Kräutler

            Esta região é banhada pelo rio Xingu, um dos afluentes da margem direita do Rio Amazonas, atravessada pela Transamazônica, que tem seu marco zero em Altamira, sede da Prelazia, que completa 80 anos. Transamazônica que nesta região de Altamira já recebeu asfalto embora as pontes ainda não tenham sido construídas. Asfalto que é muito mais em vista da hidrelétrica do Belo Monte que para atendimento dos moradores.

            Belo Monte é um projeto desenvolvimentista, que conta hoje com 25 mil trabalhadores na sua construção, que tem previsão de término para 2019, quando suas 24 turbinas serão acionadas. Trouxe para a região muitos problemas, como o aumento da violência, drogas, estupros, assaltos, assassinatos, prostituição, desorganização social. Sem falar na destruição da floresta, no deslocamento dos povos indígenas e no desrespeito à natureza e seu curso. É a mostra, mais uma vez, do progresso a qualquer custo, sem levar em conta a pessoa e a natureza. É preciso atender o deus mercado e seu lucro, custe o que custar. 

            Mas é também uma Igreja Profética e banhada com o sangue de muitos, como a Ir. Dorothy Stang, de Anapu, grande defensora da floresta amazônica e dos povos amazônicos. Denunciava a destruição de ambos, foi pedra de tropeço no caminho dos poderosos, e acabou sendo assassinada. Seu corpo foi enterrado em Anapu, no Centro de Formação São Rafael, embaixo de um pé de mangueira. Continua adubando os sonhos, os projetos e as lutas do povo da floresta.