quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Cuidar da Terra, Casa Comum


                  “A Diocese de Bagé, que já acolheu cinco Romarias da Terra, com a graça de Deus e muita alegria, está com o coração aberto para acolher a 39ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul. À semelhança das outras Romarias, esta será um espaço muito rico para a reflexão, a oração e o fortalecimento da opção preferencial pelos pobres.
                     Nela, à luz do magistério do Papa Francisco, milhares de romeiros e romeiras vão “olhar o passado com gratidão, viver o presente com paixão e abraçar com esperança o futuro”. Ao olhar o passado contemplarão a missão dos padres Jesuítas que marcou indelevelmente o território do Rio Grande do Sul. Com fé, esperança e caridade pastoral estes missionários colocaram-se a serviço dos  indígenas, ajudando-os a edificar, o que  alguns historiadores chamam de “República Guaranítica”. E quando essa “República” foi atacada por portugueses e espanhóis, manifestou-se o heroísmo legendário de Sepé Tiarajú e seus mais de 1500 companheiros que tombaram, defendendo a sua gente e a sua terra, convictos de que a terra era um presente de Deus e do Arcanjo São Miguel,  os únicos que tinham o direito de os “deserdar”.
               Com certeza, a presença do Arcebispo de Porto Velho, Rondônia, e Presidente do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), Dom Roque Paloschi, enriquecerá a Nossa Romaria, ajudando-nos a abraçar com esperança a causa dos indígenas e de todos os pobres nos quais Cristo (Mt 25,36) aguarda a solidariedade dos cristãos.
                As Romarias da Terra perfazem plenamente as cinco urgências da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, especialmente aquela urgência que torna a Igreja “samaritana”, a  Igreja a serviço da vida plena para todos. O Papa Francisco, com palavras e gestos, mostra-nos a necessidade urgente de a Igreja fazer a sua parte no “cuidado da casa comum”, convertendo-se para uma ecologia global e promovendo “mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder”.
             Sejam bem-vindos e bem-vindas, Romeiros e Romeiras à bela e hospitaleira cidade de São Gabriel.
                 Toda a comunidade gabrielense com suas autoridades, Civis e Eclesiásticas, está se preparando com grande entusiasmo  para acolher com o melhor do seu coração os Romeiros e Romeiras desta 39ª Romaria da Terra. “Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido... Ela não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que guardava cuidadosamente, mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso podemos pedir-Lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar sapiente” (LS 241) e interceda a Deus pela 39ª Romaria da  Terra.”

Dom Gilio Felicio – Bispo Diocesano de Bagé.



quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Fazer o que Ele nos disse


            O Evangelho de João coloca Jesus realizando sete sinais. O primeiro deles é nas Bodas de Caná, onde ele “obedece” a sua mãe, que pede aos servidores da festa de casamento que “fizessem tudo o que ele dissesse”. 
            João usa da simbologia do casamento para falar da nova criação e da Igreja, que deve ser como uma festa. Não do jeito antigo, legalista, onde o vinho velho provoca bebedeiras. Mas uma nova festa, que exige vinho novo em barris novos, isto é, ideias novas, posturas novas, estruturas novas.
            João nos pede, na verdade, não continuarmos a construção de uma religião baseada em corações petrificados, “barris velhos” (religião baseada no templo e na lei), onde não cabe a novidade Jesus, “o vinho novo”.
            E quem percebe a alta do vinho, que representa o amor? É a mãe, a “mulher”, como Jesus a chama. Ela é mais que a mãe de Jesus. Representa também a comunidade da nova aliança. Nesse senti do, é a esposa nesse casamento. Jesus é o marido dessa aliança. E mais. A mãe de Jesus, por ser a noiva da nova aliança, é a amada-amante que segue no ar o seu amado-amante, tal como os jovens enamorados do livro de Cântico dos Cânticos, como nos explica o biblista Ildo Bohn Gass, no texto-base do 14º. Encontro Estadual de CEBs do Rio Grande do Sul, que acontecerá de 21 a 24 de abril, em Farroupilha.
            Acho genial a frase de Maria para os servidores da esta: “Façam tudo o que ele vos disser”. Eis a nossa missão, eis a nossa bússola, o nosso GPS. Se assim fizermos, teremos a alegria do “vinho novo”, que não empeda nem traz ressaca, mas sim ajuda a construir a verdadeira felicidade. Como num casamento.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Herodes e o menino


            Estou indignado. A matança dos Santos Inocentes continua. No dia 30 de dezembro, no apagar do ano velho, em Imbituba, Santa Catarina, uma criança, de dois, enquanto amamentava no colo da mãe, foi degolada. E o pior de tudo é que a grande mídia se calou. Silenciou. Cumpliciensiou...
            Pedro A. Ribeiro de Oliveira, sociólogo, professor na PUC-MG, amigo de vários encontros que participei, escreve o que também eu escreveria: “Nesse dia seis de janeiro, ao celebrar com a Folia de Reis a visita dos Magos ao menino que amedrontou Herodes, me veio o gosto amargo da derrota sofrida em Imbituba, há apenas uma semana: Herodes mandou degolar mais um menino. Com o requinte de crueldade de ser a criança atacada justamente onde nos sentimos maior segurança – o colo materno.
            Se Vitor fosse branco e estivesse com a família em uma praça do Rio ou São Paulo, o crime hediondo estaria em todos os noticiários e provocaria repulsa maior do que as fotos de prisioneiros prestes a serem degolados por terroristas do Estado Islâmico. Mas Vitor é Kaingang e só foi morto porque índio não tem valor para a sociedade. Tal como o Herodes bíblico, eliminam até mesmo crianças que possam um dia ameaçar seu poder.
            Em outros tempos a Igreja católica não ficaria em silêncio diante de um crime como esse. A nota do CIMI seria acompanhada de uma nota dos bispos e repercutiria por dezenas de milhares de comunidades de base de todo o Brasil. Celebraríamos os Reis magos, com certeza, mas não deixaríamos em silêncio o crime cometido por Herodes apenas uma semana antes. Pediríamos perdão por não termos evitado, com uma legislação e uma educação corretas, o preconceito contra os povos indígenas e nos comprometeríamos com os Santos Reis a tomar outro rumo nos caminhos da história. O sofrimento daquela pequena família Kaingang ao ver seu filho caçula esvaindo-se em sangue deveria dar um sentido mais realista à celebração da Epífania: aprender com os Santos Reis da bela tradição popular, a ver naquela criança degolada o anúncio da Libertação dos Povos Indígenas.
            Que neste ano da Misericórdia, ao passar pela porta do jubileu e entrarmos numa igreja, sejamos chamados à conversão e saiamos pela mesma porta para assumir a defesa da Vida das crianças KaingangKayováMundurucu e de todos os outros povos que há quinhentos anos querem nos ensinar a viver em Paz com eles.”



sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

39ª Romaria da Terra/RS

260 anos da morte de Sepé

Um Olhar de Fé:
............Em fevereiro vamos recordar os 260 anos da morte de Sepé Tiarajú e seus 1.500 companheiros guaranis, durante a luta contra o Tratado de Madri e a permanência nas reduções.
............Desde o ano de 1978, para relembrar este fato, acontece uma romaria, que iniciou em Caiboaté, interior do município de São Gabriel, local do tombamento dos índios guaranis, em 10 de fevereiro de 1756. Naquela época se deu o nome de Romaria dos Mártires. Nos anos seguintes passou-se a denominação de Romaria da Terra, sempre na terça-feira de carnaval. Em 1979 e 1980 esta romaria aconteceu na Vila de Tiarajú.
............A romaria acontecerá no dia 9 de fevereiro, com a concentração na Sanga da Bica (ouma quadra da Estação Rodoviária), local onde foi morto Sepé Tiarajú. Depois da acolhida, será rezada a Via Sacra Missioneira, composta por Dom Tomás Balduíno especialmente para a romaria de 1978.
............A caminhada será feita seguindo pela Rua General Câmara, Avenida das Acácias até o Parque das Carretas, onde será celebrada a missa, presidida pelo Bispo de Bagé, D. Gilio Felício, e acompanhada por muitos outors bispos do Rio Grande do Sul e por D. Roque Paloschi, atualmente Arcebispo de Porto Velho, Rondônia, que por vários anos exerceu seu ministério na Paróquia do Arcanjo São Gabriel.
............Ao meio-dia será partilhado o almoço e à tarde acontece a Tribuna Popular, com a fala de liderenças e apresentações culturais, encerrando às 16 horas, com uma bênção de envio e o anúncio do local da 40ª. Romaria, que acontecerá em 2017.
Tema – o tema da Romaria terá a ótica da ecologia, dentro da proposta do Papa Francisco e da Campanha da Fraternidade 2016, que falam do cuidado do planeta, a Casa Comum. Por isso foi escolhido como tema/lema: Cuidar da Terra, Casa Comum.
............Também será abordado o tema dos 260 anos do martírio de Sepé e o pedido para a Postulação de sua Canonização, encaminhado ao Bispo de Santo Ângelo no dia 10 de novembro de 2015.
Acampamentos – fazem parte deste grande momento celebrativo dois outros eventos. O Encontro dos Povos Guaranis do Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia, de 5 a 9 de fevereiro, e o 11º. Acampamento da Juventude, nos dias 7 e 8 de fevereiro, todos no Parque das Carretas.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

260 anos da morte de Sepé

Um Olhar de Fé:
............Em fevereiro vamos recordar os 260 anos da morte de Sepé Tiarajú e seus 1.500 companheiros guaranis, durante a luta contra o Tratado de Madri e a permanência nas reduções.
............Desde o ano de 1978, para relembrar este fato, acontece uma romaria, que iniciou em Caiboaté, interior do município de São Gabriel, local do tombamento dos índios guaranis, em 10 de fevereiro de 1756. Naquela época se deu o nome de Romaria dos Mártires. Nos anos seguintes passou-se a denominação de Romaria da Terra, sempre na terça-feira de carnaval. Em 1979 e 1980 esta romaria aconteceu na Vila de Tiarajú.
............A romaria acontecerá no dia 9 de fevereiro, com a concentração na Sanga da Bica (ouma quadra da Estação Rodoviária), local onde foi morto Sepé Tiarajú. Depois da acolhida, será rezada a Via Sacra Missioneira, composta por Dom Tomás Balduíno especialmente para a romaria de 1978.
............A caminhada será feita seguindo pela Rua General Câmara, Avenida das Acácias até o Parque das Carretas, onde será celebrada a missa, presidida pelo Bispo de Bagé, D. Gilio Felício, e acompanhada por muitos outors bispos do Rio Grande do Sul e por D. Roque Paloschi, atualmente Arcebispo de Porto Velho, Rondônia, que por vários anos exerceu seu ministério na Paróquia do Arcanjo São Gabriel.
............Ao meio-dia será partilhado o almoço e à tarde acontece a Tribuna Popular, com a fala de liderenças e apresentações culturais, encerrando às 16 horas, com uma bênção de envio e o anúncio do local da 40ª. Romaria, que acontecerá em 2017.
Tema – o tema da Romaria terá a ótica da ecologia, dentro da proposta do Papa Francisco e da Campanha da Fraternidade 2016, que falam do cuidado do planeta, a Casa Comum. Por isso foi escolhido como tema/lema: Cuidar da Terra, Casa Comum.
............Também será abordado o tema dos 260 anos do martírio de Sepé e o pedido para a Postulação de sua Canonização, encaminhado ao Bispo de Santo Ângelo no dia 10 de novembro de 2015.
Acampamentos – fazem parte deste grande momento celebrativo dois outros eventos. O Encontro dos Povos Guaranis do Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia, de 5 a 9 de fevereiro, e o 11º. Acampamento da Juventude, nos dias 7 e 8 de fevereiro, todos no Parque das Carretas.


Vence a indiferença e conquista a Paz

Um Olhar de Fé:

............Começamos o Ano Novo com um convite à oração pela paz. Na sua mensagem para este dia, o Papa Francisco nos convida para reletirmos sobre o tema da indiferença. Começa sua mensagem dizendo que “Deus não é indiferente: importa-Lhe a humanidade! Deus não a abandona!” 
............Somos todos convocados para vencermos as indiferenças. “A indiferença constitui uma ameaça para a família humana. No limiar dum novo ano, quero convidar a todos para que reconheçam este fato a fim de se vencer a indiferença e conquistar a paz.”
............Francisco, o Papa, nos coloca algumas formas de indiferença. A primeira delas é em relação a Deus, “da qual deriva também a indiferença para com o próximo e a criação. Trata-se de um dos graves efeitos dum falso humanismo e do materialismo prático, combinados com um pensamento relativista e niilista. O homem pensa que é o autor de si mesmo, da sua vida e da sociedade; sente-se auto-suficiente e visa não só ocupar o lugar de Deus, mas prescindir completamente d’Ele; consequentemente, pensa que não deve nada a ninguém, exceto a si mesmo, e pretende ter apenas direitos.
............A indiferença para com o próximo nos leva a olharmos só para nós mesmos, sem nos preocuparmos com os semelhantes. “A indiferença manifesta-se como falta de atenção à realidade circundante. Algumas pessoas preferem não indagar, não se informar e vivem o seu bem-estar e o seu conforto, surdas ao grito de angústia da humanidade sofredora. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete. Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem.”
............Por fim, “a indiferença pelo ambiente natural, favorecendo o desflorestamento, a poluição e as catástrofes naturais que desenraízam comunidades inteiras do seu ambiente de vida, constrangendo-as à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas, novas situações de injustiça com consequências muitas vezes desastrosas em termos de segurança e paz social. Quantas guerras foram movidas e quantas ainda serão travadas por causa da falta de recursos ou para responder à demanda insaciável de recursos naturais?