terça-feira, 27 de março de 2018

Páscoa hoje e todos os dias


          “Este é o dia que o Senhor fez para nós”! Assim se reza no Domingo de Páscoa na liturgia cristã. Para mostrar que a Páscoa é o dia dos dias, o dia que dá sentido a todos os outros dias...
         A Páscoa vai acontecendo na medida em que nós não nos conformarmos com os sinais de morte e construirmos sinais de vida, de ressurreição. Todos os dias. Páscoa é não ignorar, fugir e se alienar dos problemas do dia-a-dia. Páscoa é comunicar-se, e não fechar-se. É buscar a Deus que está em tudo e em todos. Tudo está envolvido em Deus. Seu olhar de amor marca toda a obra da Criação. Em tudo há um sentido, um brilho e uma semente de eternidade.
         Ressuscitar é experimentar, acolher e viver a presença de Deus no cotidiano. Viver a ressurreição de Jesus hoje é deixar-se expandir e transbordar tudo o que é vida dentro de nós. Onde há rancor, tecer o perdão. Onde há angústia, construir serenidade. Onde há medo, fazer brotar a coragem. Onde há alienação, fazer crescer a consciência. Onde há indiferença, fazer brilhar a sensibilidade. Onde há consumismo, fazer nascer a simplicidade. Onde há insegurança, afirmar nossas poucas e preciosas certezas. Onde há solidão, fazer acontecer a solidariedade. Assim, contaminar de luz as trevas que criamos e que sufocam a alegria plantada em nós desde sempre.
          Nascemos para a felicidade, para ela fomos criados. O nosso Deus revela-se um poeta inspirado ao criar o Universo, e Pai amoroso ao colocar nele o homem e a mulher. Ele envia seu Filho a nós, para que a sua alegria habite o nosso coração e, assim, a nossa alegria se faça completa.
       Minha Páscoa, nossa Páscoa não pode ser reduzida a um ovo de chocolate (ainda por cima oco!). Ela se realiza quando o túmulo fica no passado, esquecido e abandonado. Quando o túmulo fica em minha história como o casulo fica na história de uma borboleta, uma fase, um tempo duro e difícil que passou, foi vencido e superado.
      Rompida a casca, a terra, a pedra, temos diante de nós os desafios da vida. Páscoa é construir caminhando e caminhar construindo. Todos os dias!                 
        Celebrar a Páscoa é trabalhar para a superação de todas as violências, intolerâncias, preconceitos, discriminações, ódios, sentimento de revanche e ou de vingança.
       Existem ainda muitos sinais de morte em nosso mundo. Existem ainda muitos condenados por tantas injustiças. Existem muitas sextas-feiras santas e muitas vias-sacras. Muitas cruzes e mortes.
        É dentro deste mundo que devemos trazer presentes os sinais de vida e de ressurreição, sinais de esperança e de vitória.
        É Páscoa. Cristo venceu, uma vez por todas, a morte. Nele também somos vencedores.
        Em Cristo crucificado-ressuscitado, Feliz Páscoa!
               

quarta-feira, 21 de março de 2018

Domingo de Ramos e da Paixão


Com o Domingo de Ramos encerram-se os quarenta dias da Quaresma e começa a Semana Santa. Nela, somos convidados a contemplar o grande amor de Deus, que desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-se homem, deixou-se matar pela nossa salvação. É uma oportunidade para reviver os mistérios centrais da Redenção.
A Liturgia lembra deste dia nos apresenta dois momentos:
1 - a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém montado num jumento, quando o povo o reconhece como Salvador e o aclama alegre... (Jo 12,12-16)
2 – O início da Semana Santa, com a leitura da Paixão de Jesus Cristo, segundo São Marcos... (Mc 14,1-15,47). São dois momentos da vida de Cristo: O Triunfo e a Humilhação...
Ao longo da Semana Santa, teremos a oportunidade de ler as quatro narrativas da Paixão de Jesus Cristo. É um exercício para todos os cristãos entenderem melhor todo o processo da condenação, violência, paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus.
Podemos perceber que a violência e a inju8stiça que Ele sofre continua presente nos dias de hoje. Ele foi morto porque incomodava, questionava as estruturas injustas dos sistemas político, econômico e religioso da época.
Os ramos, que carregamos com alegria e entusiasmo na procissão e que levamos com devoção para nossas casas, são o sinal de um povo que aclama o seu Rei e o reconhece como Senhor que salva e liberta.
Os ramos devem ser o sinal do compromisso de quem deseja viver intensamente essa Semana Santa.
Não basta apenas aclamar o Cristo em momentos de entusiasmo e depois crucificá-lo na rotina de todos os dias. Que o Lava-pés de Quinta-feira Santa nos motive a limpar o coração com a água purificadora da Penitência e a nos pôr a serviço dos irmãos.
         Que a Ceia do Senhor nos faça valorizar a presença permanente de Cristo em nosso meio na Eucaristia e seja o alimento constante em nossa caminhada.
Que o Getsêmani nos anime a fazer a vontade do Pai, mesmo pelos caminhos do sofrimento e da cruz.
Que o Túmulo silencioso seja o nosso "deserto" para escutar mais forte a voz de Deus e um estímulo para remover todas as pedras que mantém ainda trancado o Cristo dentro do túmulo do nosso coração.
Que a Vigília Pascal reanime nossa Esperança nas promessas do Senhor, enquanto aguardamos a sua vinda.
           Assim esta Semana será realmente santa e a PÁSCOA acontecerá em nós.
           Cristo realmente venceu as trevas do pecado e da morte.
(Texto produzido a partir do amigo Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa)

quarta-feira, 14 de março de 2018

Por uma cultura de paz


A nossa sociedade está marcada por muitos valores que na verdade são contravalores.
A questão é: em que se aposta para ser feliz? Que valores norteiam nossa vida, nossa política, nossa economia, nossa família, nossa religião, nosso emprego...?
É a questão do ser ou do ter, dos meios e dos fins. Para alcançar um fim (objetivo  da vida), todos os meios servem? O que é mais importante: o capital ou o trabalho, o dinheiro ou a pessoa?
Uma sociedade mais justa, solidária e humana não se constrói sem se fazer este tipo de reflexão. É a questão da ética cidadã, que provoca um humanismo e nos faz ver no outro e na outra não inimigos ou competidores, mas irmãos e parceiros.
Estamos todos no mesmo barco. Não dá para alguns remarem para um lado, outros para o contrário e mais outros torcendo para que o barco afunde.
É tempo de superar a violência. Todas as violências.
É tempo de semear a cultura da paz. Só quando semeamos a paz é que vamos construir o amor.
A superação da violência nasce da relação com o outro. A cultura de paz acontece em todas as realidades da vida e na relação com todos os seres. O primeiro lugar onde o ser humano aprende a se relacionar é na família. Os comportamentos e estímulos de superação da violência exercitados na família balizam as atitudes a serem desenvolvidas na comunidade e na sociedade.
“Ninguém nasce violento. Contudo, a pessoa pode vir a ser violenta. O comportamento violento emerge como produto final, a partir da reciprocidade entre o comportamento da criança e o efeito desse comportamento sobre as atitudes dos adultos. Portanto, o comportamento violento pode ser aprendido na família e reaplicado socialmente em suas relações ao longo da vida”. (Texto Base CF-2018 n. 209)
Tanto o ambiente familiar como os fatores sociais externos contribuem e interferem no desenvolvimento da violência. Por isso, a busca por uma sociedade que quer a cultura da paz não passa só pela família, como pela efetivação dos direitos humanos. A condição deles existirem, mas não serem assegurados a todas as pessoas, prejudica a prática do amor na sociedade contemporânea.
Vivemos num mundo contraditório. Enquanto alguns gritam pela cultura de paz e propondo saídas para superar a violência, outros incentivam uma cultura bélica, de armamento, de confronto, de morte.
Sugerimos a oração e a espiritualidade como condicionamentos para a superação da violência, para criar uma nova mentalidade e assim termos novas atitudes. Elas nos ajudam à conversão e a mudança de comportamentos e a criar uma verdadeira cultura de paz, onde todos aceitam que “somos irmãos e irmãs”.



quinta-feira, 8 de março de 2018

Como superar a violência


Um Olhar de Fé:

............A superação da violência é um desejo de todos nós. Deus quer que “todos vivamos como irmãos” (cf. Mt 23,8). A Campanha da Fraternidade está nos ajudando a refletir. E como aprendemos em química, “para toda ação há uma reação”. Os que querem acabar a violência com mais violência, tornam-se cada vez mais violentos. Em todos os lugares e procuram ocupar todos os espaços: nas mídias, nas redes sociais... E o argumento sempre é a acusação. Os violentos não dialogam: impõem, nem que seja à força, suas ideias. Os violentos são inseguros: partem para a agressão (é o argumento dos inseguros).

............Preparando este texto, recebi uma reflexão do meu amigo e colega dos tempos de teologia na PUC-RS, SelvinoHeck, poeta e militante nas causas eclesiais e sociais, que aqui compartilho.
“Combate-se/supera-se a violência com políticas públicas com participação popular.

Supera-se a violência com mais educação.
Supera-se a violência com diálogo com a comunidade.
Supera-se a violência respeitando as diferenças.
Supera-se a violência com mais direitos.
Supera-se a violência com presos tendo acesso a trabalho e estudo.
Supera-se a violência combatendo a corrupção em todos os níveis.
Supera-se a violência com mais democracia.
Supera-se a violência com conscientização e povo organizado lutando por seus direitos.
Supera-se a violência com mais igualdade.
Supera-se a violência com Reforma Agrária, Reforma Urbana, Reforma Tributária.
Supera-se a violência combatendo a fome, a miséria e marginalização social.
Supera-se a violência com casa e comida, com saneamento básico nas favelas.
Supera-se a violência com valores humanos.
Supera-se a violência com solidariedade.
Supera-se a violência com emprego, saúde e cultura para todas e todos.
Supera-se a violência com economia solidária.
Supera-se a violência com paz no campo e na cidade.
Supera-se a violência com soberania.
Supera-se a violência com ecologia integral.
Supera-se a violência com qualidade de vida para todas e todos.
Supera-se a violência com justiça social e Justiça de verdade.
Supera-se a violência com o poder a serviço.
Supera-se a violência praticando esporte e acesso a lazer.
Supera-se a violência com segurança pública para todas as cidadãs e todos os cidadãos.
Supera-se a violência com respeito à natureza e aos Biomas.
Supera-se a violência com eleições livres e diretas, Referendos e Plebiscitos.
Supera-se a violência com liberdade de informação.
Supera-se a violência no abraço de irmãs e irmãos, companheiras e companheiros.
Supera-se a violência ao passar a cuia de chimarrão para quem está do lado.
Supera-se a violência rezando junto a canção do amor.
Supera-se a violência na dança da polonaise, da valsa e do vanerão.
Supera-se a violência tomando uma caipa coletiva enquanto se assa o churrasco.
Supera-se a violência na festa da comunidade.
Supera-se a violência na fraternidade da família.
Supera-se a violência no rufar dos tamborins da Tuiuti.
Supera-se a violência sonhando juntos a esperança.
Supera-se a violência num sociedade do Bem Viver.
Supera-se a violência construindo juntos e marchando juntos para a Terra Prometida.”