quarta-feira, 10 de abril de 2019

Caminho pascal


              Caminhar é preciso. E há toda uma caminhada que nos chama para a frente (no velho latim se diria provocar).
           Hugo Assmann, um grande teólogo, gaúcho, já falecido, gostava de contar que em muitos idiomas originais africanos, há um montão de termos para caminhos e caminhar, com incríveis nuances:
·         Caminhar com criança se fala de um modo.
·         Caminhar com os pais se fala de outra maneira.
·         Caminhar com os amigos se diz de um jeito.
·         Caminhar com a pessoa amada, ainda de outro.
            Mas – segundo disseram esses amigos da África – apesar de tantas palavras para caminhar, nas línguas deles não existe nenhuma palavra para caminhar sozinho.
            Ser cristão é sempre caminhar juntos. Não se é Igreja sozinho. Entender isso faz a diferença.
       O tempo litúrgico nos ajuda a caminhar, tendo como centro o Mistério Pascal. Para os evangelistas, a vida pública de Jesus é sempre um caminhar para Jerusalém, onde ocorrem os momentos mais importantes de sua vida: sua entrega eucarística, seu sofrimento, paixão, crucifixão, morte, ressurreição e ascensão, seguida da vinda do Espírito Santo no Pentecostes.
          O povo das comunidades primeiras chamavam os seguidores de Jesus como sendo o povo do Caminho. Hoje, nas nossas comunidades eclesiais, para designar quem é, prá valer, da Igreja, se diz que é o povo da caminhada.
           Neste tempo quaresmal e pascal, especialmente na Semana Santa, celebramos tudo isso, como gratidão, memória, compromisso e esperança.
          A Semana Santa nos coloca no Caminho de Jesus. Nos faz caminhar com Ele. Durante estes quarentas dias, caminhamos com ele no deserto, onde ficamos em oração e jejum, para vencermos as tentações. Com Ele, subimos o Monte Tabor, onde participamos da transfiguração de Jesus. Com Ele, queremos entrar em Jerusalém, onde vamos, com Jesus, participar de sua Ceia maior, onde, ao celebrar a Páscoa com seus discípulos, Ele se dá como Cordeiro Imolado pela nossa remissão.
          Na Ceia maior, Jesus lava os pés dos seus seguidores, colocando-se como Servo de todos, como servidor, como Aquele que veio para servir e não para ser servido. E nos pede que sigamos o seu exemplo: “Compreendeis o que acabo de fazer? Vós e chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,12-15).
         E foi na sua despedida, no seu grande sermão sobre o amor, que o evangelista João nos transmite nos capítulos de treze a dezessete, que Jesus se apresenta como o Caminho, a Verdade e a Vida que nos leva à felicidade eterna. “Ninguém vai ao Pai a não ser por Mim” (Jo 14,6).
         O Pão da Eucaristia é o Pão da Vida, que nos ensina a amar e a caminhar
     Caminhemos. Mas caminhemos juntos. Que a humanidade comece a entender o que é esse “caminhar juntos” e a diferença que isso faz!



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