Caminhar
é preciso. E há toda uma caminhada que nos chama para a frente (no velho latim
se diria provocar).
Hugo Assmann, um grande teólogo,
gaúcho, já falecido, gostava de contar que em muitos idiomas originais
africanos, há um montão de termos para caminhos
e caminhar, com incríveis
nuances:
·
Caminhar com criança se fala de um modo.
·
Caminhar com os pais se fala de outra maneira.
·
Caminhar com os amigos se diz de um jeito.
·
Caminhar com a pessoa amada, ainda de outro.
Mas – segundo disseram esses amigos
da África – apesar de tantas palavras para caminhar,
nas línguas deles não existe nenhuma palavra para caminhar sozinho.
Ser cristão é sempre caminhar
juntos. Não se é Igreja sozinho. Entender isso faz a diferença.
O tempo litúrgico nos ajuda a
caminhar, tendo como centro o Mistério Pascal. Para os evangelistas, a vida
pública de Jesus é sempre um caminhar para Jerusalém, onde ocorrem os momentos
mais importantes de sua vida: sua entrega eucarística, seu sofrimento, paixão,
crucifixão, morte, ressurreição e ascensão, seguida da vinda do Espírito Santo
no Pentecostes.
O povo das comunidades primeiras
chamavam os seguidores de Jesus como sendo o povo do Caminho. Hoje, nas nossas
comunidades eclesiais, para designar quem é, prá valer, da Igreja, se diz que é
o povo
da caminhada.
Neste
tempo quaresmal e pascal, especialmente na Semana Santa, celebramos tudo isso,
como gratidão, memória, compromisso e esperança.
A Semana Santa nos coloca no Caminho
de Jesus. Nos faz caminhar com Ele. Durante
estes quarentas dias, caminhamos com ele no deserto, onde ficamos em oração e
jejum, para vencermos as tentações. Com Ele, subimos o Monte Tabor, onde
participamos da transfiguração de Jesus. Com Ele, queremos entrar em Jerusalém,
onde vamos, com Jesus, participar de sua Ceia maior, onde, ao celebrar a Páscoa
com seus discípulos, Ele se dá como Cordeiro Imolado pela nossa remissão.
Na Ceia maior, Jesus lava os pés dos
seus seguidores, colocando-se como Servo de todos, como servidor, como Aquele
que veio para servir e não para ser servido. E nos pede que sigamos o seu
exemplo: “Compreendeis o que acabo de fazer? Vós e chamais de Mestre e Senhor e
dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os
pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que
façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,12-15).
E foi na sua despedida, no seu grande
sermão sobre o amor, que o evangelista João nos transmite nos capítulos de
treze a dezessete, que Jesus se apresenta como o Caminho, a Verdade e a Vida
que nos leva à felicidade eterna. “Ninguém vai ao Pai a não ser por Mim” (Jo
14,6).
O Pão da Eucaristia é o Pão da Vida,
que nos ensina a amar e a caminhar
Caminhemos. Mas caminhemos juntos.
Que a humanidade comece a entender o que é esse “caminhar juntos” e a diferença
que isso faz!
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