Um Olhar de Fé:
Quem estuda filosofia aprende a pensar, perguntar e responder. Dizem que uma pergunta bem feita já é a metade da resposta. Na verdade, ao perguntar já começamos a desconfiar onde queremos chegar, pois atrás de uma pergunta sempre tem uma intenção.
A pessoa se revela pelas perguntas que faz: elas mostram que inquietações a pessoa tem, o que ela considera importante, até aonde foi caminhando o seu raciocínio. Há perguntas que são afirmações disfarçadas. Imaginemos alguém que pergunta: - Você quer casar comigo? Mais do que uma pergunta, a pessoa está revelando um anseio.
No rádio jornalismo, o entrevistador que conduz as perguntas sempre demonstra o seu lado, o seu conhecimento (ou não) e a sua tendência.
Há pessoas que perguntam pouco, seja porque são tímidas ou porque não se deixaram provocar pela vida a ponte de formular questionamentos. Que pena! Nada ensina tanto como uma pergunta. As crianças, que precisam aprender muito em poucos anos, são naturalmente “perguntadeiras”. Há quem prefira que elas fiquem caladas, há quem ache que pergunta incomoda. E é verdade. Incomoda mesmo! Mas são os inquietos, os que incomodam, que levam o mundo para a frente.
Os grandes sábios nos alertam para o perigo de pensar que sabemos tudo. Dizem que o verdadeiro sábio é o que sinceramente reconhece, como Sócrates, o pai da filosofia: só sei que nada sei. Quanto mais sabemos, mais sabemos que temos que saber, isto é, reconhecemos que temos ainda muito mais a aprender. O saber leva a buscar mais saber, com humildade e sinceridade.
Isto nos mantém a mente aberta para acolher novas e surpreendentes revelações que a vida gosta de fazer. Quem pensa que sabe não pergunta, não ouve, não percebe o novo que vem chegando.
Disse um poeta:
“Quando a realidade decreta ponto final,
a Vida coloca ponto e vírgula.
Quando uma possibilidade se esgota,
outra nasce dela e é inaugurada.”
(Benjamin Gonzalez Buelta,
Salmos nas margens da cultura e do mistério. Paulinas)
Os discípulos de Jesus pensavam que sabiam muito sobre Deus, o Messias, o cumprimento das antigas promessas. E Ele resolve fazer perguntas sobre o que pensavam a seu respeito. E ficou claro, pelas respostas recolhidas, que o povo não sabia direito o que esperava e o que dizia. E aí aparece a sabedoria do Mestre, na pergunta fundamental para aqueles discípulos e para todos os seus seguidores, em todos os tempos: -E vós, quem dizeis que eu sou?
A graça de Deus nos inspira respostas. Pedro deu a resposta que Jesus queria ouvir. E louva ao Pai por isso. Deus inspira, questiona, chama, dá a oportunidade, mas não impõe; é necessário abrir-se ao dom.
Se a graça de Deus não me segurasse pelos cabelos,
meu epitáfio seria ridículo:
Afogado num copo d’água que nem ao menos estava cheio.
(D. Hélder Câmara - Mil Razões para viver –
Ed. Civilização Brasileira).
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