terça-feira, 17 de setembro de 2019

Porto seguro ou farol?


“Tua Palavra é lâmpada para meus pés e luz para o meu caminho” (Sl 119,105)

            As pessoas buscam a felicidade. As pessoas querem ser felizes.

              As pessoas buscam a paz. A paz é um caminho.

                As pessoas buscam um porto seguro para suas vidas, e a vida nos apresenta um farol.

        Todos nós caminhamos para um horizonte. Não podemos bani-lo de nossa caminhada existencial, mesmo diante das incertezas. Mais do que um porto seguro, nós devemos ter e procurar um farol, que nos mostre o caminho, que nos faz sempre sair, andar, caminhar, estar em movimento.

            O porto seguro é uma segurança, que pode nos acomodar e impedir continuarmos as nossas buscas. O farol, ao contrário, é referência, é uma sinalização por onde podemos ou não devemos andar.

         A vida encerra riscos e pode ter imprevisibilidades. Por isso, não se pode perder de vista o horizonte que faz parte da própria experiência de fé cristã. O cristão é convidado a mergulhar no seio da história a fim de encontrar sinais do Espírito que testemunhem a vitória da vida sobre a morte e a superação dos medos que bloqueiam a passagem, a páscoa da transfiguração do mundo e sua trans-significação conforme o Mistério Pascal de Cristo. Enfim, o Espírito faz surgir no coração humano, mesmo daqueles que não creem, o desejo incessante de buscar saídas para os problemas éticos de nossos dias. A fé cristã é pensada como caminho, que às apalpadelas vai seguindo a lógica simbólica da Revelação. É necessária uma concepção de fé cristã que, recuperada desde suas origens, seja lida com o horizonte da vida em Cristo, que é um horizonte cheio de possibilidades para o agir humano e não certezas sedimentadas e fixadas para a ação.

             A vida cristã não quer ser um conjunto de regras e leis morais que impedem a pessoa de fazer o seu discernimento, de usar sua liberdade e de fazer o seu caminho. A moral cristã não é pois uma camisa de força nem um brete por onde ou se passa ou não há outra opção possível.     
 
           A Palavra de Deus (e a fé) é luz para o nosso caminhar, para o nosso viver, para as nossas escolhas. O próprio Jesus se apresenta para nós como “Caminho, Verdade e Vida” (cf. Jo 14,6). Hoje, mais do que ensinar o caminho (porto seguro), é preciso mostrar como caminhar e por ande andar (farol). Havia uma época em que se mostrava os endereços a partir de uma referência (casa, rua, árvore, loja, estrada, etc.). Hoje temos GPS, que nos leva onde queremos ir.

     A vida cristã também é assim. Devemos ajudar, através da evangelização, a que as pessoas tenham uma experiência de Deus e, a partir disso, saibam também conduzir suas vidas em consonância com o que se crê e o que se vive, não separando fé e vida, mas interagindo, confrontando, orientando, colocando-se sempre em movimento, em busca de, em crescimento.

            Muito mais do que um porto seguro, precisamos de um farol.

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