A celebração de São Pedro e São Paulo é
antiquíssima. Ela ajuda a nos achegarmos à fonte da vida cristã, ou seja, à
Palavra de Deus e à Eucaristia que eles viveram intensamente.
Diferentes no
temperamento e na formação religiosa, exercendo atividades diversas e em campos
distintos, chegaram várias vezes, a desentender-se. Mas o amor a Cristo, a
paixão pelo seu projeto, a força da fidelidade e a coragem do testemunho os
uniram na vida e no martírio, acontecido em Roma sob o imperador Nero (54-68
D.C). Pedro foi crucificado e Paulo, decapitado.
Ao celebrar a
Páscoa dos dois grandes apóstolos, a Igreja lembra que em todas as comunidades
estão presentes os fundamentos da missão evangelizadora: a vida eclesial, com
sua dinâmica de comunhão e participação, e sua ação transformadora no mundo.
No testemunho de Pedro e Paulo, temos duas
dimensões diferentes e complementares da missão, como seguidores de Jesus.
Apesar de divergirem em pontos de vista e na visão do mundo, o amor de Cristo e
a força do testemunho os uniram na vida e no martírio. Neles, quer na vida,
quer no martírio, prolongam-se a vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo.
Conheceram e experimentaram Jesus de formas diferentes, mas é único e idêntico
o testemunho que, corajosos, deram dele.
Por isso, são
figuras típicas da vida cristã, com suas fraquezas e forças. As contínuas
prisões de Pedro fazem-no prolongar a paixão de Jesus. Não só aceita um
Messias que dá a vida, mas morre por Ele e com Ele. Convertido, Paulo se torna propagador do Evangelho de Cristo, sofrendo como
Ele sofreu, encarando a morte como Jesus a encarou.
A comunidade,
alicerçada no testemunho de Pedro e Paulo, nasce do reconhecimento de quem é Jesus. Esse
reconhecimento não é fruto de especulação ou de teorias, e sim de vivência do
seu projeto que passa pela rejeição, crucifixão, morte e ressurreição.
Quando o
testemunho cristão é pleno, o próprio Jesus age na comunidade, permitindo-lhe “ligar e desligar”. O poder que Jesus
tem, as chaves do Reino, é entregue a nós, seus seguidores. A comunidade não é
dona, apenas administra esse poder pelo testemunho e pelo serviço em favor da
vida. Organiza-se como continuadora do projeto de Deus, a partir da prática do
mestre, promove a vida e rejeita tudo o que provoca a morte.
Jesus de Nazaré é
para nós o mártir supremo, a testemunha fiel... Os mártires da caminhada
resistiram ao poder da morte e ao aparato repressor: “A memória subversiva de tantos mártires será o alimento forte da nossa
espiritualidade, da vitalidade de nossas comunidades, da dinâmica do movimento
popular”.
Animados pelo
testemunho de Pedro e Paulo, vamos ao encontro do Senhor que dá razão e sentido à
nossa vida. Acolhendo sua Palavra, renovamos nossa adesão a Cristo e ao seu
projeto.
(Inspirado no artigo do Pe. Gilberto
Kasper)