quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Quarta-feira de cinzas: início da Quaresma!


           A Quaresma é um tempo favorável para os cristãos saírem da própria alienação existencial, como fala o Papa Francisco. A força do Evangelho desperta para a grandeza e para profundidade da vida em Cristo. Graças à escuta da Palavra de Deus, somos levados a intuir a preciosidade da existência cristã e vivermos na liberdade e na verdade de sermos filhas e filhos de Deus. O tempo favorável é a possibilidade de nos deixarmos tomar pelo amor do Crucificado e pela transformação do Ressuscitado.
         A Quarta-Feira de Cinzas inicia na Igreja um período de quarenta dias de preparação à principal Festa dos Cristãos, que é Páscoa do Senhor! Daí o nome: QUARESMA! É um tempo muito rico e que nos propõe alguns exercícios penitenciais, que visam melhorar nossa qualidade de vida, como cristãos, filhos de Deus e irmãos uns dos outros. Os quarenta dias iniciam na Quarta-Feira de Cinzas e vão até o Domingo de Ramos, quando começa a Semana Santa. A Igreja prescreve tanto para a Quarta-Feira de Cinzas como para a Sexta-Feira Santa um Dia de Jejum e Abstinência, o que não significa que ao longo deste tempo não se façam tais ou outros exercícios que nos levem a uma maior solidariedade e fraternidade para com os mais pobres.
            Os exercícios quaresmais de penitência são: a oração, o jejum e a esmola! Os cristãos são chamados a aprimorar a qualidade de sua relação com Deus através de maior tempo de recolhimento e oração, na meditação da Palavra e na escuta da vontade de Deus para com a humanidade; a aprimorar a qualidade de sua relação consigo mesmos através do jejum e a aprimorar a qualidade de sua relação com os irmãos menos favorecidos, através da esmola, que melhor soaria como partilha!
             Nossa oração, como diálogo, só é capaz de chegar ao coração de Deus, quando brota do nosso próprio coração. Do contrário, seria a mesma coisa como falar num telefone desconectado. Nosso jejum não pode reduzir-se a uma simples dieta que nos ajude a emagrecer, porque deixamos de consumir certas guloseimas que geralmente engordam. Mais esbanjamos do que consumimos do necessário. Nossa esmola não pode reduzir-se a um simples desencargo de consciência ou ato de dó. Deve transcender ao esforço de que todos, principalmente os que têm menos do que nós, possam viver com igual dignidade humana.
       A Campanha da Fraternidade sugere a Coleta da Solidariedade que acontece em todas as Comunidades do Brasil no Domingo de Ramos. O resultado dessa Coleta é investido em projetos de promoção humana, favorecendo os que tantas vezes nossa sociedade de consumo exclui, mas que sempre foram os preferidos de Deus. Gosto de sugerir que esta Coleta seja o resultado dos exercícios quaresmais de penitência: a oração, o jejum e a abstinência que remetemos aos mais pobres do que nós.
      Sejamos, nesta Quaresma, melhores do que em todas as anteriores. Assim seremos mais autênticos diante de Deus, de nós mesmos e dos outros.

Fazer a diferença


Se cada um fizer a sua parte, tudo se resolverá!” A Campanha da Fraternidade deste ano nos propõe a reflexão da cidadania e a construção de uma sociedade com justiça e direitos respeitados.
            O manual publicado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil traz uma série de subsídios para conhecermos o que é a construção de políticas públicas e como podemos participar. Uma história, já conhecida, é relembrada;
            “Uma tempestade encheu a praia de estrelas-do-mar, caramujos e outros pequenos animais marinhos que não iriam sobreviver fora de seu ambiente natural. Uma senhora idosa começou a salvar essas criaturas, devolvendo-as ao mar uma a uma. Um turista ficou espantado e começou a questionar: - Por que a senhora está fazendo isso? Não vê que é inútil? São muitas criaturas marinhas, não vai dar para resolver isso. A senhora não vai resolver esse problema, não vai fazer diferença! A velhinha sorriu, pegou mais uma estrela-do-mar e, antes de jogá-la na água, disse: - Para essa, eu vou fazer a diferença!”
            Essa história é para pensar em algo que vai muito além de salvar um ou outro animalzinho. Ela quer nos fazer pensar que se cada um, de fato, fizer o que está ao seu alcance, algo bom pode se realizar. Não podermos fazer tudo não é motivo para ficarmos indiferentes às necessidades dos outros.
            Somos todos cidadãos, membros da cidade. A origem da palavra cidadania vem do latim civitas, que quer dizer cidade. Na Grécia antiga, considerava-se cidadão aquele nascido em terras gregas. Em Roma a palavra cidadania era usada para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer. 
            Juridicamente, cidadão é o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado. Em um conceito mais amplo, cidadania quer dizer a qualidade de ser cidadão.           A relação do cidadão com o Estado é dúplice: de um lado, os cidadãos participam da fundação do Estado, e portanto estão sujeitos ao pacto que o criou, no nosso caso a Constituição Federal de 1988. Portanto, sendo o Estado dos próprios cidadãos, os mesmos têm o dever de zelar pelo bem público e participar, seja através do voto, seja através de outros meios, formais e informais, do acompanhamento e fiscalização da atuação estatal.           Ao mesmo tempo, os agentes estatais, como cidadãos investidos de funções públicas, tem o dever de atuar com base nos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, prestando contas de todos os seus atos. Uma relação harmoniosa entre as expectativas dos cidadãos e a atuação estatal é o ideal a ser alcançado por qualquer sociedade.          O conceito de cidadania vai muito além do Estado, pois ser cidadão significa também tomar parte da vida em sociedade, tendo uma participação ativa no que diz respeito aos problemas da comunidade.            Colocar o bem comum em primeiro lugar e atuar sempre que possível para promovê-lo é dever de todo cidadão responsável. A cidadania deve ser entendida, nesse sentido, como processo contínuo, uma construção coletiva que almeja a realização gradativa dos Direitos Humanos e de uma sociedade mais justa e solidária. E isso faz a diferença!



Campanha da Fraternidade 2019


       O tema escolhido para a Campanha da Fraternidade deste ano é “Fraternidade e Políticas Públicas”. Para Dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário-geral da CNBB, a escolha do tema, feita há dois anos, foi providencial, pois acontece num momento histórico em que o país debate uma série de mudanças e reformas, como a reforma da Previdência e a reforma trabalhista, que fragilizam direitos, sobretudo dos mais pobres. Ele destaca que a democracia exige a participação de todos, através do exercício da cidadania e da busca do bem comum, com atenção especial aos mais necessitados. O ponto de partida é sempre o exemplo de Jesus Cristo, segundo o bispo.“O que levou os bispos a escolherem esta realidade 
foi a necessidade de sermos uma presença de Igreja mais ativa nas questões sociais. Qual é a nossa presença ao discutirmos as questões da saúde, por exemplo? Ou quando queremos discutir educação, participação nos diversos conselhos, nos municípios, nas comunidades, onde os católicos e cristãos vivem? Olhando para esta realidade e a necessidade de uma participação maior dos cristãos e dos bispos, escolhemos as Políticas Públicas como o tema a ser refletido”, afirma D. Leonardo.
            O tema nos remete a refletirmos sobre o que é ser política. Segundo os gregos, política é essencialmente o cuidado pela cidade. Continuamos nessa tradição ao perceber que política é o cuidado de um país, de um município. Não estamos falando de partidos políticos, mas da participação das pessoas na vida da comunidade. Essa participação é fundamental e necessária para que a comunidade seja sinal do Reino de Deus. É por isso que existe uma ligação entre a fé e a política. O discípulo-missionário de Jesus não desvincula sua fé das ações concretas onde vive. Quem vive a sua fé percebe que a realidade deve ser sempre transformada, para construir uma sociedade em que todas as pessoas tenham oportunidade de participação, dignidade, saúde, educação. Nesse sentido, política não está desvinculada da fé. Como lembrou o Papa Francisco, retomando um texto de São Paulo VI, a política é a ação mais nobre da caridade. A fé tem relação com a política e vice-versa. Nós, cristãos, participamos da vida da sociedade. Como diz a oração da CF, ajudamos a construir uma sociedade humana e solidária. A CF deste ano mostra justamente que existe uma relação muito íntima entre a fé e política. Os exercícios quaresmais – jejum, oração e esmola – estão relacionados com a pessoa do outro, com a comunidade. O Tempo da Quaresma não é um tempo intimista, mas um tempo de transformação. A fé exige transformação na sociedade em que vivemos.
            O profeta Isaías inspira o lema Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1, 27). O Objetivo Geral da Campanha deste ano de 2019 é: Estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade”.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

263 anos da morte de Sepé


Nas Missões dos Sete Povos
Nasceu um dia Sepé
Trazendo uma cruz na testa
Cicatriz sinal da fé
Quando o sol batia nele
Essa cruz resplandecia
Por isso lhe deram o nome
“Tiaraju” a luz do dia

Quando o exército de Espanha
E Portugal chegou aqui
Pra expulsar dos Sete Povos
Toda a gente guarani
Tiaraju que era cacique
Reuniu os seus guerreiros
E sem medo dos canhões
Atacou, só com lanceiros

Tiaraju morreu peleando
No arroio Caiboaté
Mas depois, noutro combate,
Todos viram São Sepé
Que vinha morrer de novo
Junto à gente guarani
Pra embeber seu sangue todo
Neste chão onde eu nasci

Foi o primeiro gaúcho
A morrer pelo seu pago
É por isso que seu nome
Pra o Rio Grande é sagrado
São Sepé subiu pra o céu
Sua cruz ficou no azul
Cai a noite, ela rebrilha
Ele é o Cruzeiro do Sul!”
(Luiz Carlos Barbosa Lessa)

         No dia sete de fevereiro recordamos os 263 anos da morte de Sepé Tiaraju, ocorrida em São Gabriel, e no dia dez de fevereiro o massacre de seus 1.500 companheiros guaranis, durante a luta contra o Tratado de Madri e a permanência nas reduções.
         Sepé Tiaraju nasceu na redução de São Luiz Gonzaga, em torno na década de vinte do século dezoito e foi batizado com o nome cristão de José. Quando ele ainda era criança, a escarlatina, também conhecida como " peste indígena ", atingiu e dizimou em torno de 30% da comunidade guarani. O menino foi entregue aos Padres Jesuítas, que o levaram para a Redução de São Miguel, e lá o criaram e educaram.
        Santo popular, herói rio-grandense e brasileiro, seu nome está presente em todo o nosso estado. Facho de luz, “o nosso Moisés gaúcho” para Dom Roque Paloschi, tem agora o seu processo de reconhecimento de sua santidade já encaminhado para a Sagrada Congregação da Causa dos Santos e Santas, no Vaticano. O sinal verde foi dado. Agora é somarmos forças para que sejam recolhidos os dados históricos e as virtudes de santidade deste cristão que, movido pela fé e pela justiça, foi contra a injustiça e a opressão.
São Sepé, servo de Deus, rogai por nós!