terça-feira, 31 de março de 2020


Qual o pior vírus?

        Raoul Follereau padre foi um dedicou a sua vida aos leprosos. Percorreu trinta e duas vezes o mundo, lutando contra este mal. E ele venceu. Mas dizia que a maior lepra, que traz tanto fome, violência e guerras ao mundo, é o egoísmo.

        O Papa Francisco, na sexta –feira, dia 27 de março, olhando para a nossa situação, falou: “Era ilusão pensar que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”. A Praça São Pedro completamente vazia. No momento de sofrimento e medo, em que o mundo cai de joelhos pela pandemia, o chefe da Igreja Católica propõe “fé e esperança”.

      “Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”.

        Na oração aos fiéis, ele escolheu um trecho do Evangelho segundo Marcos, que fala sobre uma tempestade. “Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Nos vimos amedrontados e perdidos. ” Mas, ao mesmo tempo, lembrou, isso faz lembrar que estão todos no mesmo barco, “chamados a remar juntos”, enquanto se questiona o atual modo de vida. “Sozinhos afundamos”, afirmou o papa.

      “A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade”. Segundo ele, “o Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança”.

       Ele também destacou as pessoas que, neste momento, estão arriscando suas vidas. “Médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos, mas muitos outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. ”

       No meio da tempestade chamada coronavírus, continuamos, porém, ainda notando muitas outras formas de vírus, que vem contaminar a memória desta grande obra da criação que é a nossa Casa Comum. Me refiro ao egoísmo, que sobrepõe interesses individuais aos coletivos, disputa de poder e do lucro à vida, bem maior.

     A fome mata, a lepra mata, a doença mata, mas o egoísmo mata muito mais. Que passada a tempestade, possamos reconstruir um mundo melhor, onde o nós seja mais importante que o eu, onde a solidariedade e o amor vençam o egoísmo e o individualismo.


Estamos no mesmo barco,
sem espaço para egoísmo e individualismo

Chegou o outono, esperançando a primavera que virá!
Nenhuma noite, por mais escura e longa que seja, dura para sempre...
Todas as noites, também as longas e escuras, estão grávidas do amanhecer! Esperancemos, pois temos um longo caminho a percorrer!

Não permitamos que o medo nos aprisione e paralise...

A COMPAIXÃO É O SERVIÇO MAIS ESSENCIAL!

Não pode haver espaço para o egoísmo e o individualismo: estamos no mesmo barco. Este é o momento para viver e mostrar solidariedade, uma oportunidade para sentirmo-nos cidadãos do mundo e membros da única família que é a humanidade.
Escrevo sobre a situação causada pelo coronavírus no mundo, pensando no bem comum e na saúde de todos.
Neste contexto, as regras colocadas devem ser observadas não por medo, mas por amor. Devemos agir respeitando estritamente as regras para não infectar os outros, ou seja, por amor aos outros. Devemos pensar no bem de todos. A suspensão dos encontros e da Missa dominical devem ser vistos como um ato de solidariedade por toda a humanidade e como um gesto de amor ao próximo, aos nossos vizinhos, aos nossos colegas.

Esta Quaresma que estamos vivendo nos convida a um jejum ao qual nunca havíamos pensado: a privação involuntária da Eucaristia. Mas tudo isso pode literalmente levar ao convite de Jesus em relação à oração onde ele diz: "Quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo".

O coronavírus nos recorda que somos mortais, que somos fracos, que o homem não é onipotente, que a tecnologia e a ciência não podem resolver tudo.
É uma lição de humildade para todos, pois o vírus não respeita fronteiras e não faz distinção entre um país e outro. E as medidas que um país toma têm repercussões imediatas em outros, na economia mundial, no comércio e nas comunicações. Não há espaço para o egoísmo e o individualismo: estamos no mesmo barco.

        Não devemos acreditar que o coronavírus seja um castigo de Deus, seria uma blasfêmia. Não responsabilizemos Deus por aquilo que é nossa responsabilidade, responsabilidade do nosso modo de vida, do nosso modo de agir.

           Retornemos a Deus na oração, para pedir a Ele que nos liberte desse flagelo, mas assumindo nossas responsabilidades. A pandemia nos faz parar, nos obriga a ficar em casa, nos dá tempo para nós mesmos e para a família. Mas o importante é viver tudo isso no contexto da fé.