Qual o pior vírus?
Raoul
Follereau padre foi um dedicou a sua vida aos leprosos. Percorreu trinta e duas
vezes o mundo, lutando contra este mal. E ele venceu. Mas dizia que a maior
lepra, que traz tanto fome, violência e guerras ao mundo, é o egoísmo.
O
Papa Francisco, na sexta –feira, dia 27 de março, olhando para a nossa
situação, falou: “Era ilusão pensar que continuaríamos sempre saudáveis num
mundo doente”. A Praça São Pedro completamente vazia. No momento de sofrimento
e medo, em que o mundo cai de joelhos pela pandemia, o chefe da Igreja Católica
propõe “fé e esperança”.
“Na
nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela
pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a
guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso
planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos
sempre saudáveis num mundo doente”.
Na
oração aos fiéis, ele escolheu um trecho do Evangelho segundo Marcos, que fala
sobre uma tempestade. “Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas
cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas,
enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Nos vimos
amedrontados e perdidos. ” Mas, ao mesmo tempo, lembrou, isso faz lembrar que
estão todos no mesmo barco, “chamados a remar juntos”, enquanto se questiona o
atual modo de vida. “Sozinhos afundamos”, afirmou o papa.
“A
tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e
supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos
projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido
e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa
comunidade”. Segundo ele, “o Senhor interpela-nos e, no meio da nossa
tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança”.
Ele
também destacou as pessoas que, neste momento, estão arriscando suas vidas.
“Médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza,
transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e
muitos, mas muitos outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. ”
No
meio da tempestade chamada coronavírus, continuamos, porém, ainda notando
muitas outras formas de vírus, que vem contaminar a memória desta grande obra
da criação que é a nossa Casa Comum. Me refiro ao egoísmo, que sobrepõe
interesses individuais aos coletivos, disputa de poder e do lucro à vida, bem
maior.
A
fome mata, a lepra mata, a doença mata, mas o egoísmo mata muito mais. Que
passada a tempestade, possamos reconstruir um mundo melhor, onde o nós seja
mais importante que o eu, onde a solidariedade e o amor vençam o egoísmo e o
individualismo.