A história começa com Paulo sendo levado a Roma como prisioneiro (At 27,1). Paulo está preso, mas mesmo numa viagem que se torna perigosa, a missão de Deus continua através dele.
A narrativa é um clássico drama da humanidade. O relato informa que os passageiros do navio estão expostos às forças dos mares e das poderosas tempestades que se erguem ao seu redor. Essas forças os levam a um território desconhecido, onde estão perdidos e sem esperança.
As 276 pessoas a bordo são divididas em grupos distintos. O centurião e seus soldados têm poder e autoridade, mas dependem da perícia e da experiência dos marinheiros. Embora todos estejam assustados e vulneráveis, os prisioneiros são os mais vulneráveis de todos. Suas vidas são consideradas dispensáveis, eles estão em risco de uma execução sumária (At 27,42). À medida em que a história se desenvolve, sob pressão e temendo por suas vidas, vemos desconfiança e suspeita ampliando as divisões entre os diferentes grupos.
Notavelmente, porém, Paulo se ergue como um centro de paz no tumulto. Ele sabe que sua vida não é governada por forças indiferentes ao seu destino, mas está segura nas mãos do Deus a quem ele pertence e serve (At 27,23). Por causa de sua fé, ele está confiante de que se erguerá diante do imperador em Roma. É a força da fé que encoraja Paulo a se erguer diante de seus companheiros de viagem e dar graças a Deus. Todos passam a ficar encorajados. Seguindo o exemplo de Paulo, eles partilham pão, unidos numa nova esperança e confiando em suas palavras.
Esta experiência de confiança aponta para o tema principal dessa passagem: a providência divina. Foi decisão do centurião navegar em tempo ruim. Entretanto, durante a tempestade, os marinheiros é que deveriam decidir como conduzir o navio para garantir segurança à tripulação. Com o agravamento da situação, os planos dos marinheiros precisaram ser alterados. A única alternativa possível seria permanecer juntos e permitir que o navio naufragasse. Estão à deriva, nas mãos de Deus. Foram salvos pela divina providência. O navio e toda a sua valiosa carga se perderam, mas todas as vidas foram salvas.
Esse grupo de pessoas diversas, e em conflito, desembarca em uma ilha (At 27,26). Tendo sido jogados juntos pelo mesmo navio, chegam ao mesmo destino. Lá, são recebidos com muita hospitalidade e amorosidade pelos nativos da ilha, que desconheciam os conflitos internos do grupo náufrago. Ao se unirem ao redor do fogo, cercados por um povo que nem os conhece nem os compreende, diferenças de poder e posição social se esvaem. Os 276 náufragos não estão mais na dependência de forças indiferentes, mas envolvidos pela amorosa previdência de Deus, que se revela através de um povo que os acolheu com uma “Gentileza fora do comum” (At 28,2). Com frio e molhados, eles podem se aquecer e secar perto do fogo. Com fome, recebem comida. São abrigados até que seja seguro para eles continuar a viagem. É uma Gentileza capaz de transformar qualquer conflito e animosidade.
(Texto do Subsídio para a Semana de Oração pela Unidade Cristã 2020)