Um Olhar de Fé:
Queria escrever algo sobre o que aconteceu no início desse ano em nosso
Brasil, com as rebeliões em nosso sistema prisional. E acabei encontrando este
comentário do Frei Miguel Debiasi, capuchinho, Pároco de Marau. E compartilho
neste Olhar de Fé.
“Poucos são os países que aprovaram a pena de morte. Estes, por sua vez,
ainda não conseguiram conter os crimes, a violência, as atrocidades. O ser
humano tem potencial para o mal quando instruído ou submetido a situações
desumanas, incultas. Violência e crimes são uma afronta para o bem-estar
coletivo e para o desenvolvimento humano.
Na madrugada de 6 de janeiro, na penitenciária agrícola de Monte Cristo,
em Boa Vista, Roraima, 37 detentos foram decapitados, degolados, mutilados.
Segundo o governo os tumultos envolveram os presos de duas facções, o Comando
Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC). As mortes em Roraima ocorreram
quatro dias após rebeliões no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (COMPAJ), em
Manaus, que deixaram um saldo de 56 mortos. Todos foram degolados, decapitados
e mutilados. Segundo as autoridades do Estado do Amazonas, o massacre do dia 1º
de janeiro deu-se entre duas facções, a Família do Norte, ligada ao Comando
Vermelho, contra integrantes do PCC. Os motivos das chacinas são a disputa de
poder, tráfico de drogas, superlotação e péssimas condições dos presídios,
demora nas sentenças condenatórias ou de soltura.
Na verdade, a matança em presídios brasileiros é algo rotineiro. O
ranking da matança é assustador. Em 1992 no Carandiru, São Paulo, foram 111
detentos mortos. Agora o de Manaus é o segundo no pódio com 56 vítimas e o de
Roraima em terceiro com 37. Seguido da Casa de Custódia de Benfica, no Rio de
Janeiro em 2014 com um saldo de 31 detentos mortos. Engrossa a lista o caso do
Urso Branco, Porto Velho, em Rondônia, com 27 vítimas em 2002, e a cachina de
Pedrinhas, São Luís, Maranhão com 18 mortos em 2010. E assim frequentemente
correm o mundo notícias das chacinas em presídios brasileiros. Uma situação que
já rendeu severas sanções da Organização Mundial dos Direitos Humanos.
O mais revoltante da situação, além de
ceifar vidas na sua maioria jovens, é ouvir as explicações dos poderosos
ministros da nação. É estarrecedor, um atentado à ética. O secretário nacional
de governo Bruno Júlio veio a público em defesa de novos massacres nos
presídios brasileiros: "Tinha era que matar mais. Tinha que fazer uma
chacina por semana". O que esperar do Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes,
que recebeu um pedido de ajuda do governo de Roraima 50 dias antes do massacre
de 37 detentos, e em entrevista coletiva negou a existência da solicitação.
Minutos depois o fato foi desmentido por documentos nominais ao ministro
protocolados pelo governo de Roraima junto ao Ministério da Justiça. É
inaceitável que ministros pagos para assegurar o direito à vida dos cidadãos
brasileiros faltem com a verdade e incentivem outros massacres. É por demais
alarmante que em cinco dias 90 pessoas sob a tutela do Estado foram
assassinadas. Muitos foram decapitados e tiveram seus corações arrancados.
Manter cidadãos assim em cargo públicos, ganhando altos salários, é uma
afronta. A postura de quem os mantém no poder fere qualquer bom senso político
e moral.”
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