Uma das cenas mais
impressionantes e educadoras nos evangelhos é o da chamada “multiplicação dos
pães”, que os quatro evangelistas descrevem e Mateus chega a contar duas vezes.
Na verdade, é um grande ensinamento para todos nós.
Jesus ensina que a
dinâmica do Reino é a arte de compartilhar.
Talvez todo o dinheiro do mundo não seja suficiente para comprar o alimento
necessário para todos os que passam fome... O problema não se soluciona
comprando, o problema se soluciona compartilhando.
O pão nas mãos de
Jesus era pão para ser partido, repartido e compartilhado.
O pão armazenado, como o
maná no deserto, se corrompe, apodrece.
Também hoje Ele precisa
de nossas mãos para multiplicar os grãos; precisa de nossas mãos para triturar
esses grãos, amassar a farinha e fazer o pão. E precisa de nosso coração para
que o pão seja repartido.
O pão sem coração é pão “monopolizado”.
Pão indigesto, que engorda o egoísmo.
O pão sem coração gera divisões e
conflitos. Quantas guerras fraticidas provoca o pão sem coração!
Deus precisa de nosso coração para que o
pão leve o sinal da fraternidade, seja vitamina de solidariedade, alimento de
comunhão, para que possamos comungar.
No pão compartilhado, encontramos a luz da
vida. “Se
partes teu pão com o faminto... brilhará tua luz como a aurora” (Is. 58,7-8).
Uma refeição fraterna foi
servida por Jesus a todos, graças ao gesto generoso de um menino, com seus
cinco pães de cevada (pão dos pobres) e dois peixes.
Para Jesus, isso é suficiente.
Esse menino, sem nome e desconhecido, vai tornar possível o que parece ser
impossível. Sua disponibilidade para partilhar tudo o que tem é o caminho para
alimentar aquela multidão. Jesus fará o resto. Toma em suas mãos os pães, dá
graças a Deus e começa a “re-parti-los” entre todos.
Esta refeição compartilhada
era, para os primeiros cristãos, um símbolo atrativo da comunidade nascida do
movimento de Jesus para construir uma humanidade nova e fraterna. Esta cena, evocava-lhes,
ao mesmo tempo, a eucaristia, celebrada no dia do Senhor, para que todos
pudessem se alimentar do espírito e da força de Jesus, o Pão vivo vindo de
Deus.
Mas, os seguidores de Jesus
nunca esqueceram o gesto despojado daquele menino. Se há fome no mundo, não é
por escassez de alimentos, mas por falta de solidariedade. Há pão para todos,
falta espírito generoso para partilhar. Temos deixado a marcha do mundo nas
mãos do poder financeiro, nos dá medo partilhar o que temos, e as pessoas
morrem de fome devido ao nosso egoísmo irracional.
A dinâmica do mundo
neo-liberal é precisamente o dinheiro. Cremos que sem dinheiro nada se pode
fazer e procuramos converter tudo em dinheiro, não só os recursos naturais, mas
também os recursos humanos e os valores: o amor, a amizade, o serviço, a justiça,
a fraternidade, a fé, etc. Neste mundo capitalista nada é dado gratuitamente,
tudo tem seu preço, tudo é taxado e comercializado. Esquecemos que a vida acontece por pura gratuidade, por
puro dom de Deus. (texto elaborado a partir
de uma reflexão do Pe
Adroaldo Palaoro, SJ)
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