sábado, 19 de dezembro de 2020

 

Natal é reconstruir a esperança

Deus amou tanto o mundo, que nos deu o seu Filho único, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

            Natal é Deus conosco, é reconstruir a esperança, em todos os tempos, também em tempos de pandemia.

             Natal é tempo de relembrar a bondade de Deus para conosco.

             Natal é tempo é acolher a proposta divina, o Príncipe da Paz.

             Natal é tempo de renovação: é tempo de perdoar, recomeçar, reinventar-se.

           Natal é tempo de ser solidário, não por um dia ou por uma semana: a vida toda, todos os dias, todos os anos. E ser solidário é ser humano, é ser justo, lutar pela igualdade e fraternidade, partilha e direitos iguais, onde a justiça e a paz se abraçarão.

               Natal é tempo de dizer não à corrupção e à violência.

               Natal é tempo de construir a paz.

             Natal é tempo de superar preconceitos e racismos e propor saídas para um mundo melhor.

             Natal é tempo de anunciar que é, sim, possível um mundo melhor, um outro mundo possível. Deus acreditou em nós e nos enviou o que tinha de mais precioso: o seu próprio Filho.

            Feliz e Abençoado Natal!

 






 

sábado, 28 de novembro de 2020

 

Deus está conosco:

Reconstruir a Esperança

          Advento: tempo de esperar, tempo de esperançar!

Advento: tempo de preparar, tempo de acolher.  

Advento: tempo de cuidar, tempo de reinventar a nossa fé e a capacidade de viver um NATAL diferente.

Estamos fazendo nossa travessia, como José e Maria:

·        Com cuidado, mas não com medo;

·        com distanciamento, mas não com isolamento;

·        com cautela, mas não com medo.

 Natal é vida que nasce, Natal é Cristo que vem, nós somos o seu presépio, a nossa casa é Belém.

Deus vem ao nosso encontro, assumindo a nossa condição humana, menos no pecado. Ele se faz um de nós: se torna humano para nos divinizar.

Que neste Natal cada um de nós reavive sua fé, fortifique seu compromisso de pertença ao seu projeto, alimente sua esperança. Em família, em comunidade. Somos todos irmãos e irmãs.

 

domingo, 20 de setembro de 2020

 

A Bíblia e o chimarrão 

          Setembro é lembrado por muitas comemorações e celebrações. Quero destacar duas neste nosso olhar de fé de hoje: mês da Bíblia (para os católicos) e a Semana Farroupilha.

            O que ambos têm em comum? A tradição. A hospitalidade. A busca e o cultivo da fraternidade. O criar laços e construir pontes.

          Tomar chimarrão é um hábito e uma tradição, herdada dos índios e cultivada por todos os gaúchos, sejam brasileiros ou não. Conhecemos toda a mística do tomar o mate.

            É bom tomar mate sozinho. Principalmente quando queremos estar sós, meditando, estudando, rezando... Nas madrugadas da vida ou nas solidões dos estudos. Mas é muito bom também sorver o chimarrão com a família, com os amigos, no lazer ou no trabalho, nas visitas ou nas reuniões.

            O mate aproxima, não afasta ninguém. Todo mundo, conhecido ou estranho, recebe a cuia, que irmana, cria amizade e cumplicidade.

 Para quem nunca tomou, faz cara estranha, fala que é “quente, amargo, ruim, horrível...” Mas na medida que vai se habituando, nunca mais deixa de tê-lo como companhia.

Tudo o que falei acima, vale igualmente para a Bíblia Sagrada. E ela é a Palavra de Deus.

Para quem nunca ou pouco lê a Bíblia, diz “que é muito difícil, insossa, não consigo entender o que leio, não tem graça”, etc... Mas na medida em que a vamos tornando próxima de nós e vamos criando o hábito da leitura diária e seu, nunca mais a deixamos.

É bom ler a Bíblia sozinho, no silêncio do quarto ou do escritório, na cozinha ou embaixo de uma árvore ou em outro local. Até acompanhado de um bom mate. Precisamos dela. Mas melhor ainda é lê-la com os outros: na família, no grupo de oração ou de estudo, na comunidade, na Igreja. Para quem não está habituado, vai estranhar nas primeiras vezes. Mas depois que criar o gosto, nunca mais vai largar. E vai sentir falta quando não puder participar.

Existem muitos jeitos de se fazer o chimarrão. Cada um descobre o seu. Não existe uma receita só. Assim também com a Bíblia. Quero apresentar um jeito. Cada um deve descobrir o seu.

Como ler a Bíblia

        É preciso dedicar um tempo diário para estudar e meditar a Bíblia: pode ser pela manhã, logo após o acordar; ou, depois do almoço ou da janta; ou, Antes de dormir; ou, ainda, qualquer outro horário que se adapte ao seu tempo livre. A quantidade de tempo também pode ser livremente estabelecida: dez, quinze, trinta minutos ou mais. Quanto mais tempo você tiver, melhor!

          É necessário dividir o tempo: um terço de leitura e dois terços de estudo e oração.   Assim se você resolver dedicar quinze minutos diários, use cinco minutos para leitura e dez minutos para o estudo. Após estabelecer o horário que melhor o satisfaça, cumpra-o rigorosamente, não esquecendo nem adiando nenhum dia, mesmo que se sinta cansado. Lembre-se: devemos amar a Deus sobre todas as coisas!

            Com a Bíblia na mão e o caderno de anotações, inicie o seu estudo com uma oração ao Espírito Santo, pedindo que o ilumine. Selecione a leitura. Você poderá seguir a sugestão da Igreja e ler as leituras programadas para o tempo litúrgico ou ler a Bíblia na forma sequencial, particularmente sugiro que se comece pelo Novo Testamento (este ano estamos sugerindo o livro do Deuteronômio). Após a leitura, inicie o estudo, tomando nota das passagens que mais o tocam e as coloque em prática.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

                                  Abre a tua mão para o teu irmão 

“Veja bem! Não deixará de haver pobres no meio da terra. 

É por isso que eu lhe ordeno:  abra a mão em favor do teu irmão, do seu pobre e do seu necessitado, na terra onde você está” Dt 15,11). 


 

         Em tempos especiais, mais do que nunca é preciso ter gestos e atitudes especiais. Este ano estamos mergulhando do tema do cuidado com a vida, ainda motivados pela Campanha da Fraternidade, mas sobretudo pela pandemia que atingiu a humanidade.  


         As leis sempre devem proteger os mais fracos e vulneráveis, os fracos e indefesos. Os fortes sabem se defender e os que têm igualmente. Uma lei que privilegia os ricos, os poderosos, os fortes, é uma lei injusta e discriminatória. 


        Três categorias são consideradas como as mais vulneráveis na Bíblia, especialmente no Antigo Testamento: os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. E Jesus, na Parábola do Juízo Final, em Mateus 25, 31-46, se identifica com eles, nas obras de misericórdia.  


      O Livro do Deuteronômio foi escrito para ajudar a organizar a sociedade pós exílio. É como se hoje o Papa Francisco está escrevendo uma encíclica para os tempos pós pandemia, recordando que somos todos irmãos. 


          É um livro que propõe que devemos usar a lei do amor. Se Deus nos ama, nós devemos amar a Deus. E amar a Deus é ser fiel à sua Aliança e colocar em prática os seus mandamentos, “que são gravados no coração” (Dt 6,6).

 

     O amor é gratuidade e exigência. Deus não escolheu Israel pela importância ou qualidades que ele não possui. Deus o ama e pede-lhe que retribua esse amor. “Foi por amor a vocês e para cumprir a promessa. É por isso que Javé os tirou com mão forte e os resgatou da casa da escravidão, da mão do faraó, rei do Egito” (Dt 7,8).  


         Deus é fiel à Aliança e quer que o seu povo também seja fiel. E todo o conjunto de leis, normas, decretos e prescrições do Livro do Deuteronômio são para ajudar neste caminho. E para quem observa estas leis “tudo correrá bem. Assim você vai prolongar sua seus dias” (Dt 4,40). 


          Vale a pena ler e estudar o Livro do Deuteronômio, sugerido como estudo para este ano.  

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Memórias dos 60 Anos da Diocese de Bagé
      
        Sou “crioulo” da Diocese de Bagé. Nascido, batizado, crismado, feito a primeira comunhão e ordenado aqui. Lembro quando em 1964, a Ir. Geni Bolzan, Missionária de Jesus Crucificado, que trabalhava na Creche Santa Elvira, em Livramento, passava pelas escolas, a pedido de D. José Gomes, e convidava quem quisesse entrar no Seminário São Pio X, que estava sendo aberto em Bagé, na Vila Santa Teresa. Eu era candidato, mas como estava com dez anos, no quarto ano primário, fiquei para a segunda turma, a de 1966.

        Lembro quando, em 1968, D. José foi transferido para Chapecó. D. Ângelo Mugnol foi seu substituto. Participei de sua posse, em março de 1969: peguei carona no carro que o conduziu de Santa Teresa até o Vinte e Um, onde ele foi recepcionado pelo Prefeito Municipal, autoridades e o povo.

        Lembro da doença de D. Ângelo (tumor cerebral), sua luta pela vida, sua profunda espiritualidade e aceitação. Acompanhei-o diversas vezes a Porto Alegre, no seu tratamento. Lembro de sua morte, no dia 12 de fevereiro de 1982, seu sepultamento na Catedral São Sebastião.

            Lembro da nomeação de D. Laurindo para Bispo de Bagé, dois dias antes da morte de D. Ângelo, sua posse, no dia 25 de abril de 1982, seu esforço de se inculturar na Região da Campanha, ser um dos nossos, com os pés fincados no chão deste pampa. Da sua clareza na visão de Igreja, dos objetivos e das prioridades, levando-as adiante, apesar dos conflitos e oposições de alguns, que lhe causaram antipatias e recusas. Mas ele ficou firme, até sua saída, após vinte anos entre nós.

            Lembro do período em que ficamos “sede vacante”, durante um ano (2002), quando os padres da Diocese me elegeram Administrador Diocesano. Lembro quando recebi o telefonema da Nunciatura Apostólica, em fins de outubro, anunciando D. Gilio para Bispo de Bagé, cujo anúncio se daria em dezembro e eu deveria guardar segredo. Participei da posse de D. Gilio como quarto Bispo da Diocese de Bagé, em março de 2003.

          Lembro da renúncia da D. Gilio, em junho de 2018, por motivo de saúde e como novamente o Conselho de Consultores me elegeu Administrador, apesar de estar em Dom Pedrito. E tão rápida como foi a renúncia de D. Gilio, foi também a nomeação de D. Frei Cleonir, em setembro e posse em dezembro.

          Em 60 anos conseguimos formar o nosso rosto: uma Igreja inserida na Região da Campanha, no nosso bioma pampa, nesta fronteira meridional. Uma Igreja gaúcha, inculturada, próxima de sua gente, distribuída nas mais de 330 comunidades urbanas e rurais. Grande em extensão e em generosidade.

        Temos ainda um longo caminho a percorrer, que vamos construindo juntos, inspirados pelos exemplos do passado, motivados pelos testemunhos do presente e animados pelas perspectivas do futuro.

Gratidão, compromisso e esperança!

terça-feira, 16 de junho de 2020


Cuidar do migrante, nosso irmão
“Eu era migrante e tu me acolheste” (Mt 25,36)
“Onde está o teu irmão? (Gn 4,9)

            Em tempos de coranavírus, o tema do cuidado faz-se muito atual e necessário. Cuidar-se para cuidar dos outros. Cuidar dos outros para cuidar da Casa Comum. É o intercâmbio do cuidado: cuidamos uns dos outros, cuidamos juntos da Casa Comum e Deus sempre cuida de todos nós.

            A Semana do Migrante, que celebramos entre os dias 14 e 21 de junho, retoma o tema do cuidado, já colocado na Campanha da Fraternidade deste ano. E nos desafia a olharmos a realidade da migração.

  “É fundamental nesta Semana do Migrante pensar o outro nessa alteridade evangélica, na espiritualidade encarnada e vivenciada nas experiências de acolhida, proteção, promoção e integração do migrante e refugiado. O próprio Papa Francisco, que trouxe o lema do 106º Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados, em sua mensagem tradicional “Como Jesus, forçado a fugir”, nos apela para olhar o desafio dos deslocamentos internos, que no mundo são mais de 41 milhões de pessoas.

   É Deus quem nos interpela: onde está o teu irmão, tua irmã? Qual a minha resposta a DEUS? É a mesma resposta de Caim?: “Por acaso eu sou o guarda do meu irmão?” Para que a minha resposta à Deus seja uma afirmação: “Eu sou o guarda do meu irmão!” Precisamos nos lembrar que somos humanos; porém, muitas vezes, acabamos não sendo irmãos uns dos outros, e nem nos dispomos a ajudar aqueles e aquelas que estão ao nosso redor, precisando de solidariedade, consolo, amizade e presença.” (Texto Base)

  Como nos lembra a parábola do bom samaritano, no evangelho de Lucas, capítulo 10, o ensinamento de Jesus nos leva ao encontro do nosso próximo, caído, necessitado de ajuda. E próximo aqui não é apenas alguém com quem possuímos vínculos, mas todo aquele que sofre diante de nós. Não é a lei que estabelece prioridades, mas a compaixão que impulsiona a fazer pelo outro aquilo que é possível, rompendo, dessa forma, a indiferença. A fé leva necessariamente à ação, à fraternidade e à caridade.

  A Campanha da Fraternidade nos lembrava que a “vida nos traz oportunidades de concretizar a fé em atitudes bem específicas. Para perceber os outros, principalmente em suas necessidades, não bastam os conceitos, mas, sim, a compaixão e a proximidade. Não se deve questionar quem é o destinatário do amor. Importa identificar quem deve amar e não tanto quem deve ser amado, pois todos devem ser amados, sem distinção. Não importa quem é o próximo. Importa quem, por compaixão, se torna próximo do outro (Lc10,36). A medida do amor para com o próximo não é estabelecida com base em pertença religiosa, grupo social ou visão de mundo. Ela é estabelecida pela necessidade do outro, acolhendo como próximo qualquer pessoa de quem se possa acercar com amor generoso e operativo. Isso abre uma nova perspectiva nos relacionamentos, excluindo a indiferença diante da dor alheia.” (Texto Base CF/2020).

  A nossa Semana do Migrante valoriza a dedicação e coragem para dar a Deus uma resposta positiva quando ele perguntar “Onde está teu irmão, tua irmã? Então iremos dizer:“SIM, EU CUIDO DO MEU IRMÃO, DA MINHA IRMÃ MIGRANTE e isso é coletivo, é comunitário, é alteridade, é Reino de Deus no meio de nós! 

sábado, 30 de maio de 2020

Gentileza gera gentileza


A história começa com Paulo sendo levado a Roma como prisioneiro (At 27,1). Paulo está preso, mas mesmo numa viagem que se torna perigosa, a missão de Deus continua através dele.
          A narrativa é um clássico drama da humanidade. O relato informa que os passageiros do navio estão expostos às forças dos mares e das poderosas tempestades que se erguem ao seu redor. Essas forças os levam a um território desconhecido, onde estão perdidos e sem esperança. 

        As 276 pessoas a bordo são divididas em grupos distintos. O centurião e seus soldados têm poder e autoridade, mas dependem da perícia e da experiência dos marinheiros. Embora todos estejam assustados e vulneráveis, os prisioneiros são os mais vulneráveis de todos. Suas vidas são consideradas dispensáveis, eles estão em risco de uma execução sumária (At 27,42). À medida em que a história se desenvolve, sob pressão e temendo por suas vidas, vemos desconfiança e suspeita ampliando as divisões entre os diferentes grupos.

      Notavelmente, porém, Paulo se ergue como um centro de paz no tumulto. Ele sabe que sua vida não é governada por forças indiferentes ao seu destino, mas está segura nas mãos do Deus a quem ele pertence e serve (At 27,23). Por causa de sua fé, ele está confiante de que se erguerá diante do imperador em Roma. É a força da fé que encoraja Paulo a se erguer diante de seus companheiros de viagem e dar graças a Deus. Todos passam a ficar encorajados. Seguindo o exemplo de Paulo, eles partilham pão, unidos numa nova esperança e confiando em suas palavras.

       Esta experiência de confiança aponta para o tema principal dessa passagem: a providência divina. Foi decisão do centurião navegar em tempo ruim. Entretanto, durante a tempestade, os marinheiros é que deveriam decidir como conduzir o navio para garantir segurança à tripulação. Com o agravamento da situação, os planos dos marinheiros precisaram ser alterados. A única alternativa possível seria permanecer juntos e permitir que o navio naufragasse. Estão à deriva, nas mãos de Deus. Foram salvos pela divina providência. O navio e toda a sua valiosa carga se perderam, mas todas as vidas foram salvas.

            Esse grupo de pessoas diversas, e em conflito, desembarca em uma ilha (At 27,26). Tendo sido jogados juntos pelo mesmo navio, chegam ao mesmo destino. Lá, são recebidos com muita hospitalidade e amorosidade pelos nativos da ilha, que desconheciam os conflitos internos do grupo náufrago. Ao se unirem ao redor do fogo, cercados por um povo que nem os conhece nem os compreende, diferenças de poder e posição social se esvaem. Os 276 náufragos não estão mais na dependência de forças indiferentes, mas envolvidos pela amorosa previdência de Deus, que se revela através de um povo que os acolheu com uma “Gentileza fora do comum” (At 28,2). Com frio e molhados, eles podem se aquecer e secar perto do fogo. Com fome, recebem comida. São abrigados até que seja seguro para eles continuar a viagem. É uma Gentileza capaz de transformar qualquer conflito e animosidade.
(Texto do Subsídio para a Semana de Oração pela Unidade Cristã 2020)

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Tudo está conectado


Que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que vêm depois de nós, para as crianças que estão crescendo?”

 A Semana Laudato si’ faz parte de uma campanha global por ocasião do 5º aniversário da Encíclica sobre o Cuidado da Casa comum. O tema da semana é “Tudo está conectado”. De 16 a 24 de maio, os católicos são convidados a participar de seminários de formação on-line, interativos e colaborativos.

 Numa mensagem de vídeo, divulgada recentemente, o Papa Francisco encoraja os fiéis a participar e a pensar no futuro da nossa Casa comum. “Que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que vêm depois de nós, para as crianças que estão crescendo?” A partir dessa pergunta, o Papa renova seu “apelo urgente a fim de responder à crise ecológica, ao grito da terra e ao grito dos pobres que não podem mais esperar. Cuidemos da criação, presente do nosso bom Deus criador. Celebremos juntos a Semana Laudato si’. Que Deus os abençoe e não se esqueçam de rezar por mim”, afirma o Papa.
 Os ensinamentos da Encíclica são particularmente relevantes no contexto atual da pandemia de coronavírus, que parou muitas partes do mundo. A Laudato si’ oferece a visão de construir um mundo mais justo e sustentável. “A pandemia”, sublinha o diretor da Caritas Italiana, dom Francesco Soddu, “afetou todos os lugares e nos ensina que somente com o compromisso de todos podemos nos levantar e vencer também o vírus do egoísmo social com os anticorpos da justiça, caridade e solidariedade, para sermos construtores de um mundo mais justo e sustentável, de um desenvolvimento humano integral que não deixa ninguém para trás”.
“Em particular”, acrescenta dom Soddu”, “essa pandemia pode ser uma oportunidade para arraigar o nosso futuro no valor da fraternidade.

 A teóloga britânica Celia Deane-Drummond escreve: "A Covid-19 está ensinando ao gênero humano lições importantes que ele aprendeu pela primeira vez no crisol do seu surgimento inicial no tempo profundo. Nossas vidas estão emaranhadas entre si e com as outras espécies, e essa é a fonte da nossa força singular, mas também da nossa vulnerabilidade. Honraremos melhor aqueles que sofreram e morreram ao aprendermos a levar muito mais a sério a nossa interconectividade com Deus, entre nós e com as outras criaturas".

        O que mais se ouve falar e perguntar é: “Quando voltaremos ao normal?”. E a resposta deve ser: “Não podemos voltar ao normal, se por normal entendemos o tipo de vida que tínhamos até agora”.
       
       Ou o mundo muda, ou vamos todos morrer! Precisamos refazer conceitos, atitudes e relações. Que a pandemia nos ajude a refletir sobre que tipo de mundo queremos, que sociedade sonhamos e que passos podemos dar para construí-la.




sábado, 2 de maio de 2020

A travessia na escuridão

Caminhar é preciso

         Havia um jovem que estava na encruzilhada da sua vida vocacional. Tinha que decidir, fazer sua escolha: ou seguir sua vocação à vida religiosa, ou tomar outro rumo, assumindo uma profissão e construir uma família. Esta decisão lhe trazia angústia, medo, insegurança... O que fazer?
         Foi então pedir orientação ao seu mestre e orientador espiritual. Este o ouviu, deixou que abrisse seu coração e lhe contou uma história.  - Havia uma vez um caminhante que deveria atravessar uma floresta desconhecida. Ele não conhecia seus caminhos nem seus perigos. Sabia que era grande e até perigosa. Todos os cuidados eram necessários. Ele se preparou, levou sua mochila, não esquecendo uma lanterna. Mas não conseguiu atravessá-la durante o dia. A noite o pegou em pleno caminho. O que fazer? De repente, acabaram as pilhas de sua lanterna. Escuridão total. Seguir adiante seria perigoso, pois poderia cair num rio ou num precipício ou bater em algum obstáculo. O que fazer?
       
          Foi justamente esta pergunta que o mestre fez ao jovem. O que ele faria se estivesse no lugar daquele caminhante? Ele pensou um pouco e respondeu: - Esperaria amanhecer!
          Estamos numa travessia difícil. Precisamos estar preparados, mas sem perder a serenidade. Se faltar pilha na lanterna da vida, paremos e esperemos amanhecer. Pode ser que a saída esteja bem próxima de nós.

         As crises nos ajudam a amadurecer. As grandes tragédias são parteiras de grandes transformações. Na travessia da vida é preciso nos despojar de tudo aquilo que é pesado demais. Caso contrário, vamos cansar e não conseguir seguir adiante. Levar somente o essencial.

         Caminhar é preciso. Sem desistir, mas também sem estressar nem tomar atalhos ou querer apurar o passo. Caminhar sempre, se possível juntos. Poderemos ir até mais devagar, mas com certeza iremos mais longe!


terça-feira, 31 de março de 2020


Qual o pior vírus?

        Raoul Follereau padre foi um dedicou a sua vida aos leprosos. Percorreu trinta e duas vezes o mundo, lutando contra este mal. E ele venceu. Mas dizia que a maior lepra, que traz tanto fome, violência e guerras ao mundo, é o egoísmo.

        O Papa Francisco, na sexta –feira, dia 27 de março, olhando para a nossa situação, falou: “Era ilusão pensar que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”. A Praça São Pedro completamente vazia. No momento de sofrimento e medo, em que o mundo cai de joelhos pela pandemia, o chefe da Igreja Católica propõe “fé e esperança”.

      “Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”.

        Na oração aos fiéis, ele escolheu um trecho do Evangelho segundo Marcos, que fala sobre uma tempestade. “Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Nos vimos amedrontados e perdidos. ” Mas, ao mesmo tempo, lembrou, isso faz lembrar que estão todos no mesmo barco, “chamados a remar juntos”, enquanto se questiona o atual modo de vida. “Sozinhos afundamos”, afirmou o papa.

      “A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade”. Segundo ele, “o Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança”.

       Ele também destacou as pessoas que, neste momento, estão arriscando suas vidas. “Médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos, mas muitos outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. ”

       No meio da tempestade chamada coronavírus, continuamos, porém, ainda notando muitas outras formas de vírus, que vem contaminar a memória desta grande obra da criação que é a nossa Casa Comum. Me refiro ao egoísmo, que sobrepõe interesses individuais aos coletivos, disputa de poder e do lucro à vida, bem maior.

     A fome mata, a lepra mata, a doença mata, mas o egoísmo mata muito mais. Que passada a tempestade, possamos reconstruir um mundo melhor, onde o nós seja mais importante que o eu, onde a solidariedade e o amor vençam o egoísmo e o individualismo.


Estamos no mesmo barco,
sem espaço para egoísmo e individualismo

Chegou o outono, esperançando a primavera que virá!
Nenhuma noite, por mais escura e longa que seja, dura para sempre...
Todas as noites, também as longas e escuras, estão grávidas do amanhecer! Esperancemos, pois temos um longo caminho a percorrer!

Não permitamos que o medo nos aprisione e paralise...

A COMPAIXÃO É O SERVIÇO MAIS ESSENCIAL!

Não pode haver espaço para o egoísmo e o individualismo: estamos no mesmo barco. Este é o momento para viver e mostrar solidariedade, uma oportunidade para sentirmo-nos cidadãos do mundo e membros da única família que é a humanidade.
Escrevo sobre a situação causada pelo coronavírus no mundo, pensando no bem comum e na saúde de todos.
Neste contexto, as regras colocadas devem ser observadas não por medo, mas por amor. Devemos agir respeitando estritamente as regras para não infectar os outros, ou seja, por amor aos outros. Devemos pensar no bem de todos. A suspensão dos encontros e da Missa dominical devem ser vistos como um ato de solidariedade por toda a humanidade e como um gesto de amor ao próximo, aos nossos vizinhos, aos nossos colegas.

Esta Quaresma que estamos vivendo nos convida a um jejum ao qual nunca havíamos pensado: a privação involuntária da Eucaristia. Mas tudo isso pode literalmente levar ao convite de Jesus em relação à oração onde ele diz: "Quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo".

O coronavírus nos recorda que somos mortais, que somos fracos, que o homem não é onipotente, que a tecnologia e a ciência não podem resolver tudo.
É uma lição de humildade para todos, pois o vírus não respeita fronteiras e não faz distinção entre um país e outro. E as medidas que um país toma têm repercussões imediatas em outros, na economia mundial, no comércio e nas comunicações. Não há espaço para o egoísmo e o individualismo: estamos no mesmo barco.

        Não devemos acreditar que o coronavírus seja um castigo de Deus, seria uma blasfêmia. Não responsabilizemos Deus por aquilo que é nossa responsabilidade, responsabilidade do nosso modo de vida, do nosso modo de agir.

           Retornemos a Deus na oração, para pedir a Ele que nos liberte desse flagelo, mas assumindo nossas responsabilidades. A pandemia nos faz parar, nos obriga a ficar em casa, nos dá tempo para nós mesmos e para a família. Mas o importante é viver tudo isso no contexto da fé.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Cuidar da Vida


É tempo de quaresma, tempo de escuta da Palavra  que converte o coração.    
Tempo de verdadeira atenção pelos outros.
Tempo de romper com a indiferença frente ao sofrimento.
          Tempo de disponibilidade para o serviço. 
     
Tempo de Campanha da Fraternidade, com o tema da Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso. Com o lema inspirado na parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37): Viu, sentiu compaixão e cuidou dele.
         A CF nos quer conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido  da vida como dom e compromisso, que se traduz em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum.
         É tempo de sairmos de nossa alienação existencial e nos abrirmos ao mistério da dor e da morte, da cruz e do Crucificado, Vencedor da morte.
Que a quaresma e a CF seja um caminho para nos fortalecer em nossa caminhada paroquial e diocesana. Que os exercícios quaresmais – jejum, oração e partilha – nos levem a cuidar mais e melhor da vida, dom e compromisso.

Intercâmbio de vida
“Somos vocacionados ao intercâmbio do cuidado: cuidamos uns dos outros, cuidamos juntos da Casa Comum, porque Deus sempre cuida de todos nós”. (Campanha da Fraternidade 2020)





terça-feira, 14 de janeiro de 2020

7 de fevereiro, dia de Sepé


         No dia 7 de fevereiro vamos celebrar 264 anos do martírio de Sepé Tiaraju, líder guarani que foi morto na Sanga da Bica, hoje cidade de São Gabriel. Alguns eventos estão sendo agendados para celebrar o dia daquele que já é servo de Deus, cuja causa de reconhecimento de suas virtudes cristãs estão sendo encaminhadas. 

          A Comissão da Causa de São Sepé estará presente em São Gabriel neste dia, com a seguinte programação, aberta a toda comunidade:
             • 8 h – visita à imprensa e entrevistas nas rádios e jornais locais;

          • 10 h – palestra sobre Sepé Tiaraju, anunciando também como estão os encaminhamentos para a continuidade do processo, próximos passos a serem dados, distribuição da oração ao servo de Deus São Sepé, tendo como local as dependências do Salão Paroquial. Esta palestra é aberto a toda comunidade;

               • 14 h – visita da Comissão à Coxilha de Caiboaté, onde ocorreu o massacre do dia 10 de fevereiro de 1756, quando mil e quinhentos guaranis foram chacinados;

                • 17 h – Celebração da Via Sacra Missioneira, na Sanga da Bica. Esta Via Sacra foi composta por D. Tomás Balduíno, para a celebração do Ano dos Mártires, que aconteceu em Caiboaté, no dia 7 de fevereiro de 1978. Para este evento, está sendo convidada toda a comunidade gabrielense e outros devotos de São Sepé.

         Para este ano de 2020 está prevista a abertura inquérito diocesano para a causa da beatificação de São Sepé, em conformidade com a Instrução Sanctorum Mater (Mãe dos Santos), Instrução para a realização dos inquéritos diocesanos nas causas dos santos, publicado pela Congregação para a Causa dos Santos, publicado em 2007.

Pintura de Adriano Alves