quarta-feira, 24 de junho de 2020

Memórias dos 60 Anos da Diocese de Bagé
      
        Sou “crioulo” da Diocese de Bagé. Nascido, batizado, crismado, feito a primeira comunhão e ordenado aqui. Lembro quando em 1964, a Ir. Geni Bolzan, Missionária de Jesus Crucificado, que trabalhava na Creche Santa Elvira, em Livramento, passava pelas escolas, a pedido de D. José Gomes, e convidava quem quisesse entrar no Seminário São Pio X, que estava sendo aberto em Bagé, na Vila Santa Teresa. Eu era candidato, mas como estava com dez anos, no quarto ano primário, fiquei para a segunda turma, a de 1966.

        Lembro quando, em 1968, D. José foi transferido para Chapecó. D. Ângelo Mugnol foi seu substituto. Participei de sua posse, em março de 1969: peguei carona no carro que o conduziu de Santa Teresa até o Vinte e Um, onde ele foi recepcionado pelo Prefeito Municipal, autoridades e o povo.

        Lembro da doença de D. Ângelo (tumor cerebral), sua luta pela vida, sua profunda espiritualidade e aceitação. Acompanhei-o diversas vezes a Porto Alegre, no seu tratamento. Lembro de sua morte, no dia 12 de fevereiro de 1982, seu sepultamento na Catedral São Sebastião.

            Lembro da nomeação de D. Laurindo para Bispo de Bagé, dois dias antes da morte de D. Ângelo, sua posse, no dia 25 de abril de 1982, seu esforço de se inculturar na Região da Campanha, ser um dos nossos, com os pés fincados no chão deste pampa. Da sua clareza na visão de Igreja, dos objetivos e das prioridades, levando-as adiante, apesar dos conflitos e oposições de alguns, que lhe causaram antipatias e recusas. Mas ele ficou firme, até sua saída, após vinte anos entre nós.

            Lembro do período em que ficamos “sede vacante”, durante um ano (2002), quando os padres da Diocese me elegeram Administrador Diocesano. Lembro quando recebi o telefonema da Nunciatura Apostólica, em fins de outubro, anunciando D. Gilio para Bispo de Bagé, cujo anúncio se daria em dezembro e eu deveria guardar segredo. Participei da posse de D. Gilio como quarto Bispo da Diocese de Bagé, em março de 2003.

          Lembro da renúncia da D. Gilio, em junho de 2018, por motivo de saúde e como novamente o Conselho de Consultores me elegeu Administrador, apesar de estar em Dom Pedrito. E tão rápida como foi a renúncia de D. Gilio, foi também a nomeação de D. Frei Cleonir, em setembro e posse em dezembro.

          Em 60 anos conseguimos formar o nosso rosto: uma Igreja inserida na Região da Campanha, no nosso bioma pampa, nesta fronteira meridional. Uma Igreja gaúcha, inculturada, próxima de sua gente, distribuída nas mais de 330 comunidades urbanas e rurais. Grande em extensão e em generosidade.

        Temos ainda um longo caminho a percorrer, que vamos construindo juntos, inspirados pelos exemplos do passado, motivados pelos testemunhos do presente e animados pelas perspectivas do futuro.

Gratidão, compromisso e esperança!

terça-feira, 16 de junho de 2020


Cuidar do migrante, nosso irmão
“Eu era migrante e tu me acolheste” (Mt 25,36)
“Onde está o teu irmão? (Gn 4,9)

            Em tempos de coranavírus, o tema do cuidado faz-se muito atual e necessário. Cuidar-se para cuidar dos outros. Cuidar dos outros para cuidar da Casa Comum. É o intercâmbio do cuidado: cuidamos uns dos outros, cuidamos juntos da Casa Comum e Deus sempre cuida de todos nós.

            A Semana do Migrante, que celebramos entre os dias 14 e 21 de junho, retoma o tema do cuidado, já colocado na Campanha da Fraternidade deste ano. E nos desafia a olharmos a realidade da migração.

  “É fundamental nesta Semana do Migrante pensar o outro nessa alteridade evangélica, na espiritualidade encarnada e vivenciada nas experiências de acolhida, proteção, promoção e integração do migrante e refugiado. O próprio Papa Francisco, que trouxe o lema do 106º Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados, em sua mensagem tradicional “Como Jesus, forçado a fugir”, nos apela para olhar o desafio dos deslocamentos internos, que no mundo são mais de 41 milhões de pessoas.

   É Deus quem nos interpela: onde está o teu irmão, tua irmã? Qual a minha resposta a DEUS? É a mesma resposta de Caim?: “Por acaso eu sou o guarda do meu irmão?” Para que a minha resposta à Deus seja uma afirmação: “Eu sou o guarda do meu irmão!” Precisamos nos lembrar que somos humanos; porém, muitas vezes, acabamos não sendo irmãos uns dos outros, e nem nos dispomos a ajudar aqueles e aquelas que estão ao nosso redor, precisando de solidariedade, consolo, amizade e presença.” (Texto Base)

  Como nos lembra a parábola do bom samaritano, no evangelho de Lucas, capítulo 10, o ensinamento de Jesus nos leva ao encontro do nosso próximo, caído, necessitado de ajuda. E próximo aqui não é apenas alguém com quem possuímos vínculos, mas todo aquele que sofre diante de nós. Não é a lei que estabelece prioridades, mas a compaixão que impulsiona a fazer pelo outro aquilo que é possível, rompendo, dessa forma, a indiferença. A fé leva necessariamente à ação, à fraternidade e à caridade.

  A Campanha da Fraternidade nos lembrava que a “vida nos traz oportunidades de concretizar a fé em atitudes bem específicas. Para perceber os outros, principalmente em suas necessidades, não bastam os conceitos, mas, sim, a compaixão e a proximidade. Não se deve questionar quem é o destinatário do amor. Importa identificar quem deve amar e não tanto quem deve ser amado, pois todos devem ser amados, sem distinção. Não importa quem é o próximo. Importa quem, por compaixão, se torna próximo do outro (Lc10,36). A medida do amor para com o próximo não é estabelecida com base em pertença religiosa, grupo social ou visão de mundo. Ela é estabelecida pela necessidade do outro, acolhendo como próximo qualquer pessoa de quem se possa acercar com amor generoso e operativo. Isso abre uma nova perspectiva nos relacionamentos, excluindo a indiferença diante da dor alheia.” (Texto Base CF/2020).

  A nossa Semana do Migrante valoriza a dedicação e coragem para dar a Deus uma resposta positiva quando ele perguntar “Onde está teu irmão, tua irmã? Então iremos dizer:“SIM, EU CUIDO DO MEU IRMÃO, DA MINHA IRMÃ MIGRANTE e isso é coletivo, é comunitário, é alteridade, é Reino de Deus no meio de nós!