quarta-feira, 31 de julho de 2019

Dom José Gomes, o primeiro bispo (1961-1968)

               
          A Diocese de Bagé, criada e instalada em 1960, administrada por D. Antônio Zattera e tendo como Vigário Geral o Cônego Luiz Gonzaga de Carvalho, recebe a notícia da nomeação de seu primeiro bispo no dia 25 de março de 1961. Era o Cônego José Gomes, natural de Erexim, pertencente ao presbitério da Diocese de Passo Fundo, onde era o Diretor da Faculdade de Filosofia. No dia do anúncio de sua eleição, ele completava quarenta anos de idade. Um jovem padre, agora bispo, para uma jovem e grande diocese.
          D. José foi ordenado na Catedral de Passo Fundo, no dia 25 de junho, quando a Diocese de Bagé completava um ano de sua criação. Tomou posse como Bispo Diocesano no dia 16 de julho, um dia antes das comemorações dos cento e cinquenta anos de fundação da cidade de Bagé. Escolheu como lema Amar um ao outro.
         A primeira missão como bispo foi a ordenação do Pe. Hermes da Silva Ignácio, na Igreja Matriz de Sant’Ana, em Livramento, no dia vinte e três de julho.
       No dia onze de outubro de 1962, iniciava o 21º. Concílio Ecumênico da Igreja, o Vaticano II, com a presença de 2.540 padres conciliares, entre eles D. José Gomes. Esta Primeira Sessão terminou no dia oito de dezembro, com a presidência do Papa João XXIII, que tinha convocado o Concílio no dia vinte e cinco de janeiro de 1959, na Basílica de São Paulo, em Roma. Ele faleceu aos três de junho de 1963, aos oitenta e um anos de idade. Em seu lugar foi eleito Cardeal Montini, de Milão, que passou a ser o Papa Paulo VI, confirmando a continuidade do Concílio Ecumênico. Na Segunda Sessão, ocorrida do dia trinta de setembro ao dia quatro de dezembro, quando foi promulgado o documento litúrgico mais importante e decisivo até hoje, a Sacrosanctum Concilium (Constituição sobre a Sagrada Liturgia), que, entre outras coisas, permitiu a missa na língua vernácula de cada país. Após esta sessão conciliar, D. José viajou à Terra Santa.
        Em abril de 1963 foi adquirido o terreno e o castelo do Visconde de Magalhães, na Vila Santa Teresa, em Bagé, para a construção do Seminário Menor. Em 1964, um ano de grande atividade para a Diocese, com a reforma do prédio e adequação para ali funcionar o seminário diocesano. D. José se absorve de tal maneira, sendo o grande mestre e operário da obra, que não consegue participar da Terceira Sessão Conciliar, onde foi aprovada a Constituição Lumen Gentium.
         Em março de 1965 foi inaugurado o Seminário São Pio X, tendo como primeiro reitor o frei capuchinho Pascásio de Araçá. Ainda neste ano D. José Gomes participa da Quarta e última Sessão Conciliar, que aconteceu entre os dias catorze de setembro e oito de dezembro.
          Na época de D. José os padres da Diocese se reuniam em dois pontos: Cacequi e Bagé, para facilitar e agilizar os encaminhamentos e a presença do Bispo e ou das Coordenações. Mais tarde também em Livramento. Foi o embrião das Áreas Pastorais.
       Foi neste período que surgiram os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, organizados pela Frente Agrária Gaúcha (FAG) e que no município de Bagé teve sua sede na antiga Casa Paroquial da Trigolândia, já que nesta época a sede da Paróquia foi transferida para Hulha Negra, que estava se emancipando e cuja criação foi anulada, depois da vitória do sim e de já estar assinado decreto que criava o então município de Rio Negro do Sul.
     É o tempo das reciclagens dos padres e religiosos, da elaboração do Plano Diocesano de Pastoral, a partir da Pastoral de Conjunto. Havia na Diocese várias organizações pastorais, que eram chamadas de Comissões, a saber: das Religiosas, Ação Social, Opinião Pública, Catequese, Liturgia, Educação, Vocações...
         No dia trinta de agosto de 1968 saiu a transferência de D. José Gomes para a Diocese de Chapecó, em Santa Catarina, onde permanecerá até a sua morte. Ele está sepultado na Catedral Diocesana daquela cidade catarinense. Para coordenar a Diocese durante a vacância, o Conselho de Presbíteros elegeu Padre Tarcísio Utzig, que era o Coordenador Diocesano de Pastoral, cedido que estava pela Diocese de Passo Fundo, e permaneceu na Diocese até abril de 1971, retornado após isso às suas origens.

           

           

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Oração poderosa


        
       Qual a oração mais poderosa que podemos rezar? Certamente é a oração que o próprio Jesus rezava e, a pedido dos discípulos, nos ensinou a rezar: o Pai Nosso.
         O evangelista Lucas nos transmite uma versão mais condensada desta coração. É um resumo genial do que podemos pedir a Deus, muito bem temperado com aquilo que Deus pode querer de nós.
         No Pai Nosso, pedimos que se santifique o nome do Senhor – e isso se faz pela prática da justiça.
           Pedimos que venha o Reino para que a vontade de Deus seja feita e a terra fique parecida com o céu – e com isso nos dispomos a trabalhar pelos valores do Reino.
             Pedimos o perdão e lembramos a nós mesmos o dever de perdoar.
          Pedimos o pão, mas é o pão de hoje, não a acumulação que enche algumas mesas e deixa muitas outras vazias.
            Tudo o que pedimos podia se resumir no final: não ceder à tentação e ficar livre do mal. É um típico pedido que coincide com o profundo desejo de quem o vai receber. Pois não sabemos que tudo o que Deus mais quer é que a gente resista ás tentações e que o poder do mal seja vencido? Nós pedimos e Deus é o primeiro a “torcer” para que a gente consiga tudo que está pedindo, com todas as consequências decorrentes.
            No Pai Nosso pedimos tudo que Deus está ansioso para nos dar e nos colocamos a serviço do Reino: seja feita a vossa vontade.
          Deus só quer o nosso bem, mas nós nem sempre sabemos o que pedir. Pedi e recebereis, diz Jesus. E exemplifica: um pai não dá uma pedra a um filho que pede pão, nem uma serpente ao filho que pede peixe. É verdade. Mas o pai certamente se recusaria a dar uma serpente ao garotinho que esperneia por ela, pensando que é bichinho de estimação. Nem sempre temos o discernimento de pedir o que é melhor.
         Por outro lado, há situações que têm que ser enfrentadas, para o crescimento da própria pessoa e o bem de outras. O próprio Jesus, que tinha a intimidade com o Pai, pede que ele afaste o cálice da dor, mas logo acrescenta que o mais importante é que o projeto de Deus vá para a frente, é o projeto da salvação da humanidade, que não deveria ficar incompleto.
          Na verdade, o grande dom não é receber presentes de Deus ou da vida, mas saber o que fazer com eles para que tudo sirva à construção do bem.
          Jesus afirma ainda que aquele que busca, encontra. Que busca o que? Quem busca encrenca, vício, corrupção, facilmente encontra: é a lei do convívio humano. Quem busca o bem com sinceridade também o encontrará: é promessa de Deus. Bom mesmo é ter o discernimento, a sabedoria, para perceber o que deve ser buscado, em que direção devemos empenhar nossas forças. Aí o Evangelho nos indica o que sempre devemos pedir: Deus não negará o Espírito Santo àqueles que o pedirem. Com esse dom estamos capacitados para avaliar as ofertas do outros, distinguindo entre tentações que nos afastam de Deus e oportunidades que nos desafiam a crescer no meio de possíveis dificuldades.

quarta-feira, 17 de julho de 2019


Amizade
         Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro (Bíblia)
Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito Milton Nascimento)


             O calendário marca cada dia uma data e uma comemoração. Tem dia prá tudo: para a mulher, para o homem, para as crianças, para os idosos, para os jovens, para os pais, para as mães
para a sogra, para o vizinho. Para tudo que a gente imaginar.
            E dia vinte de julho marca como sendo o DIA DO AMIGO. A Bíblia Sagrada, no livro do Eclesiástico, capítulo seis, tem um texto sobre a amizade: “Uma boa palavra multiplica os amigos e apazígua os inimigos; a linguagem elegante do homem virtuoso é uma opulência. Dá-te bem com muitos, mas escolhe para conselheiro um entre mil. Se adquirires um amigo, adquire-o na provação, não confies nele tão depressa. Pois há amigos em certas horas que deixarão de o ser no dia da aflição. Há amigo que se torna inimigo, e há amigo que desvendará ódios, querelas e disputas; há amigo que só o é para a mesa, e que deixará de o ser no dia da desgraça. Se teu amigo for constante, ele te será como um igual, e agirá livremente com os de tua casa. Se se rebaixa em tua presença e se retrai diante de ti, terás aí, na união dos corações, uma excelente amizade. Separa-te daqueles que são teus inimigos, e fica de sobreaviso diante de teus amigos. Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo. Quem teme ao Senhor terá também uma excelente amizade, pois seu amigo lhe será semelhante” (Eclo 6,5-17).
            Milton Nascimento, na Canção da América, assim poetisou e cantou: “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. Assim falava a canção que na América ouvi, mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir, mas quem ficou, no pensamento voou, com seu canto que o outro lembrou. E quem voou no pensamento ficou, com a lembrança que o outro cantou. Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância, digam não, mesmo esquecendo a canção. O que importa é ouvir a voz que vem do coração. Pois, seja o que vier, venha o que vier qualquer dia amigo eu volto a te encontrar, qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.”
            E Jesus falou: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se praticais o que vos mando” (Jo 15,13-14).






quinta-feira, 11 de julho de 2019

Acolher o mais importante

       Uma das grandes queixas no mundo de hoje é a “falta de tempo”, o olhar para o outro, o conviver com o vizinho e ou familiar, o ser capaz de perceber que existe vida além das minhas ocupações e preocupações.
         Há pessoas que se deixam absorver de tal forma pelo trabalho e por suas tarefas profissionais que nem enxergam e percebem mais o que se passa ao seu lado.
         É claro que todos temos deveres a cumprir, e devemos cumpri-los bem. O poeta indiano Tagore escreveu: “O trabalho é o amor tornado visível”. É verdade! Tarefa bem feita é gesto de carinho com quem a vai receber. Mas nem sempre temos que ser apenas eficientes. “Há um tempo para tudo debaixo do céu”, diz a Bíblia no Livro do Eclesiastes. Há tempo de trabalhar e tempo de “jogar conversa fora” sem outra intenção que não seja apreciar a companhia das pessoas; há tempo de falar, de planejar, de executar e há tempo de ouvir, de fantasiar, soltando a imaginação, tempo de se contemplar e deixar o coração passear pelas coisas, paisagens, pessoas, numa pura celebração das alegrias simples da vida.
        O corre-corre da vida não pode nos tirar o prazer de viver e muito menos a sensibilidade em perceber as necessidades dos caídos às beiras das estradas. Talvez um dos grandes males do mundo de hoje, um dos grandes pecados nossos, é a indiferença e a omissão. Diante do sofrimento, ficarmos insensíveis. Diante da miséria ou da violência, nos acostumarmos com a situação, não nos indignarmos nem nos movermos em atitudes e gestos concretos.
         A Parábola do Bom Samaritano, no capítulo dez de Lucas, nos mostra bem isso. Diante de um caído à beira da estrada, a lei e a religião passam adiante, ocupados demais ou não querendo se comprometer.
      Ao vermos tantas situações de injustiça, ambição, corrupção, calamidade moral, às vezes achamos que o mundo não tem mais jeito, que “Deus saiu de férias”.
         Os mandamentos de Deus e o Evangelho estão aí nos dizendo o que Deus quer: respeito à vida, honestidade, fraternidade, amor a Deus e ao próximo. Este não é um programa impossível, Deus não nos pede o impossível. Deus nos deu mandamentos, orientações possíveis de serem cumpridos. Não diz que será fácil, mas afirma que o caminho da fidelidade à lei do Senhor é uma estrada aberta, onde se pode de fato andar. Nem teria cabimento se fosse de outra forma.  Ninguém nos conhece melhor do que Aquele que nos criou. Ele não nos indicaria uma estrada fechada que inevitavelmente levasse à frustração e ao desânimo. Além disso, Deus nos garante que não vamos sozinhos: há uma presença amorosa e animadora que nos sustenta e não nos deixa esquecer que, apesar de todos os pecados, somos obra preciosa que Ele não pode deixar perdida.
         Nós somos os samaritanos na vida de tantas pessoas. Não podemos passar ao largo. É preciso descer de nosso egoísmo, sós ou em lutas coletivas, e curar, e levantar, e ajudar tantos e tantas pessoas excluídas.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Criação e instalação da Diocese de Bagé


      Era o ano de 1958. O Núncio Apostólico no Brasil, D. Armando Lombardi, atendeu a solicitação dos bispos do Rio Grande Sul para a criação de mais quatro dioceses: Santa Cruz do Sul, Bagé, Santo Ângelo e Frederico Westphalen. A primeira a ser criada foi Santa Cruz do Sul, aos vinte de junho de 1959, com D. Alberto Etges como primeiro bispo diocesano.
     Em seguida foi anunciada a criação da Diocese de Bagé, fato que fez a população da cidade exultar de contentamento. “Visando um maior bem espiritual do Estado, resolveu a Santa Sé dividir as Dioceses de Uruguaiana e Pelotas para criar a Diocese de Bagé” (Livro Tombo da Diocese, pg. 01).

     Para preparar a criação da nova Diocese, D. Antônio Zattera, Bispo de Pelotas, que ficou encarregado pela Santa Sé de fazer os encaminhamentos, designou o Pe. Firmino Henrique Dalcin, com provisão datada de vinte e sete de novembro de 1958. Ele ficou autorizado a organizar a nova Diocese que abrangeria os municípios de Bagé, Pinheiro Machado e Lavras do Sul (desmembrados de Pelotas), mais Dom Pedrito, Santana do Livramento, São Gabriel, Rosário do Sul, Cacequi e General Vargas (São Vicente) (desmembrados de Uruguaiana), com catorze Paróquias. Mata, que ainda não era emancipado de São Vicente do Sul, também fazia parte da futura Diocese. É bom lembrar que as Paróquias de Mata, Hulha Negra, Nossa Senhora do Rosário e Santa Teresinha, de Livramento, foram criadas em 1959, antes da criação da Diocese.

        Padre Firmino percorreu todas as Paróquias, formando as Comissões de Patrimônio, preparando o povo e angariando donativos para formar um patrimônio, conforme exigências da Nunciatura. Na cidade de Bagé, foi criada uma Comissão Executiva, constituída com Pe. Firmino Henrique Dalcin como presidente e uma extensa lista de pessoas envolvidas.

        A nova Diocese tinha uma população estimada em 254.690 habitantes. A criação foi no dia 25 de junho de 1960, através da Bula Papal Qui Divino consilio, do Papa João XXIII, onde fixava a sede na cidade de Bagé e a sua Catedral sendo a Igreja Matriz de São Sebastião.
     A instalação da Diocese de Bagé aconteceu no dia 24 de outubro de 1960, com a presença do Núncio Apostólico no Brasil, D. Armando Lombardi, do Arcebispo de Porto Alegre, D. Vicente Scherer, de vários bispos do Estado, autoridades e povo da diocese.

        A Diocese começou sem bispo. No ato da instalação, o Núncio nomeou D. Antônio Zattera como Administrador Apostólico da Diocese de Bagé. Por ele não residir na Diocese, nomeou como Vigário Geral o Cônego Luiz Gonzaga de Carvalho. Não havia uma casa episcopal, ficando a Casa Canônica de São Sebastião como sede provisória e futura moradia do novo bispo.        

      Assim começou a Diocese. Criada em junho, sem Bispo, sem residência e não instalada. Mas muito amada e querida por todos. Desafiadora realidade. Guiada pelo Espírito Santo e levada adiante pelo zelo de sacerdotes, religiosos e religiosas e do Povo de Deus desta região da fronteira meridional do Brasil.