quinta-feira, 11 de julho de 2019

Acolher o mais importante

       Uma das grandes queixas no mundo de hoje é a “falta de tempo”, o olhar para o outro, o conviver com o vizinho e ou familiar, o ser capaz de perceber que existe vida além das minhas ocupações e preocupações.
         Há pessoas que se deixam absorver de tal forma pelo trabalho e por suas tarefas profissionais que nem enxergam e percebem mais o que se passa ao seu lado.
         É claro que todos temos deveres a cumprir, e devemos cumpri-los bem. O poeta indiano Tagore escreveu: “O trabalho é o amor tornado visível”. É verdade! Tarefa bem feita é gesto de carinho com quem a vai receber. Mas nem sempre temos que ser apenas eficientes. “Há um tempo para tudo debaixo do céu”, diz a Bíblia no Livro do Eclesiastes. Há tempo de trabalhar e tempo de “jogar conversa fora” sem outra intenção que não seja apreciar a companhia das pessoas; há tempo de falar, de planejar, de executar e há tempo de ouvir, de fantasiar, soltando a imaginação, tempo de se contemplar e deixar o coração passear pelas coisas, paisagens, pessoas, numa pura celebração das alegrias simples da vida.
        O corre-corre da vida não pode nos tirar o prazer de viver e muito menos a sensibilidade em perceber as necessidades dos caídos às beiras das estradas. Talvez um dos grandes males do mundo de hoje, um dos grandes pecados nossos, é a indiferença e a omissão. Diante do sofrimento, ficarmos insensíveis. Diante da miséria ou da violência, nos acostumarmos com a situação, não nos indignarmos nem nos movermos em atitudes e gestos concretos.
         A Parábola do Bom Samaritano, no capítulo dez de Lucas, nos mostra bem isso. Diante de um caído à beira da estrada, a lei e a religião passam adiante, ocupados demais ou não querendo se comprometer.
      Ao vermos tantas situações de injustiça, ambição, corrupção, calamidade moral, às vezes achamos que o mundo não tem mais jeito, que “Deus saiu de férias”.
         Os mandamentos de Deus e o Evangelho estão aí nos dizendo o que Deus quer: respeito à vida, honestidade, fraternidade, amor a Deus e ao próximo. Este não é um programa impossível, Deus não nos pede o impossível. Deus nos deu mandamentos, orientações possíveis de serem cumpridos. Não diz que será fácil, mas afirma que o caminho da fidelidade à lei do Senhor é uma estrada aberta, onde se pode de fato andar. Nem teria cabimento se fosse de outra forma.  Ninguém nos conhece melhor do que Aquele que nos criou. Ele não nos indicaria uma estrada fechada que inevitavelmente levasse à frustração e ao desânimo. Além disso, Deus nos garante que não vamos sozinhos: há uma presença amorosa e animadora que nos sustenta e não nos deixa esquecer que, apesar de todos os pecados, somos obra preciosa que Ele não pode deixar perdida.
         Nós somos os samaritanos na vida de tantas pessoas. Não podemos passar ao largo. É preciso descer de nosso egoísmo, sós ou em lutas coletivas, e curar, e levantar, e ajudar tantos e tantas pessoas excluídas.

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