quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O pacto das catacumbas


       Ao final do Concílio Vaticano II, no dia 16 de novembro de 1965, um grupo de 40 participantes se comprometeram a viver uma vida de pobreza e sem privilégios. Entre os mais conhecidos estava Dom Hélder Câmara, na época arcebispo de Olinda e Recife – cujo processo de beatificação está em andamento no Vaticano.
           Durante o Sínodo para a Pan-Amazônia, que está sendo realizado em Roma desde o dia seis de outubro, o gesto foi repetido. Um grupo de duzentos participantes, se reuniram, no dia 20 de outubro, nas catacumbas de Domitila (catacumbas são os locais que recordam os primeiros cristãos de Roma).
       Liderados pelo Cardeal D. Cláudio Hummes, assumiram o compromisso de defender os pobres, os territórios e a "floresta em pé" na Amazônia. O novo compromisso tem quinze pontos "por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana". Em resumo, o texto diz que os signatários se comprometem a:

  • ·                  Assumir a defesa dos nossos territórios e com nossas atitudes a selva amazônica em pé;
  •                    Denunciar o aquecimento global e o esgotamento dos recursos naturais, mantendo um estilo de vida sóbrio, simples e solidário, reduzindo o desperdício e usando o transporte público;
  •                    Reconhecer que não somos donos da mãe terra, mas seus filhos e filhas;
  •                    Promover uma ecologia integral, na qual tudo está interligado;
  •                    Acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado;
  •                   Renovar em nossas igrejas a opção preferencial pelos pobres, especialmente pelos povos originários, e junto com eles garantir o direito de serem protagonistas na sociedade e na Igreja;
  •                   Ajudar a preservar terras, culturas, línguas, histórias, identidades e espiritualidades dos povos indígenas e denunciar todas as formas de violência contra eles e outras injustiças nos direitos dos pequenos;  
  •                  Abandonar, em nossas paróquias, dioceses e grupos toda espécie de mentalidade e postura colonialista, acolhendo e valorizando a diversidade cultural, étnica e linguística;
  •                  Anunciar a novidade libertadora do Evangelho de Jesus Cristo, na acolhida ao outro e ao diferente;
  •                        Caminhar ecumenicamente com outras comunidades cristãs no anúncio inculturado e libertador do evangelho, e com as outras religiões e pessoas de boa vontade, na solidariedade com os povos originários, com os pobres e pequenos, na defesa dos seus direitos e na preservação da Casa Comum;
              Instaurar em nossas igrejas particulares um estilo de vida sinodal;

·           Empenhar-nos no urgente reconhecimento dos ministérios eclesiais já existentes nas comunidades, exercidos por agentes de pastoral, catequistas indígenas, ministras e ministros e da Palavra;

·             Tornar efetiva nas comunidades a nós confiadas a passagem de uma pastoral de visita a uma pastoral de presença, assegurando que o direito à Mesa da Palavra e à Mesa de Eucaristia se torne efetivo em todas as comunidades;

·                   Reconhecer os serviços e a real diaconia do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia e procurar consolidá-los com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade;

·               Buscar novos caminhos de ação pastoral nas cidades onde atuamos, com protagonismo de leigos e jovens, com atenção às suas periferias e aos migrantes, aos trabalhadores e aos desempregados, aos estudantes, educadores, pesquisadores e ao mundo da cultura e da comunicação;

·               Assumir um estilo de vida alegremente sóbrio, simples e solidário com os que pouco ou nada tem; reduzir a produção de lixo e o uso de plásticos, favorecer a produção e comercialização de produtos agroecológicos, utilizar sempre que possível o transporte público;

·                Colocar-nos ao lado dos que são perseguidos pelo profético serviço de denúncia e reparação de injustiças, de defesa da terra e dos direitos dos pequenos, de acolhida e apoio a migrantes e refugiados. Cultivar amizades verdadeiras com os pobres, visitar as pessoas mais simples e os enfermos, exercitando o ministério da escuta, da consolação e do apoio que trazem alento e renovam a esperança.


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