quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Não compartilhar a violência


“Escutar a voz de Jesus implica em viver no amor fraterno”. Este é o ponto de partida da reflexão apresentada pelo arcebispo de Brasília (DF) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Sergio da Rocha. No texto, dom Sergio lamenta que muitos católicos têm compartilhado e alimentado agressividade nas redes sociais e exorta: “É pecado grave usar o nome de Deus ou qualquer religião para praticar ou justificar a violência”.
A Campanha da Fraternidade (CF) está entre os principais meios de vivência do amor ao próximo na Quaresma, segundo o presidente da CNBB: “Ela é um meio especial para a conversão e a verdadeira caridade”. Para dom Sergio, o lema “Vós sois todos irmãos” pretende contribuir para superar a violência e promover a paz.
O cardeal ressalta que muitas iniciativas podem ser desenvolvidas para alcançar os objetivos da CF deste ano e que cada um pode dar a sua contribuição “para superar a violência e construir a fraternidade e paz nos ambientes em que vive”. Mas lamenta a agressividade crescente “compartilhada e alimentada por muitos católicos nas redes sociais”.
“Diga não à violência nas redes sociais! Não compartilhe conteúdos ofensivos e desrespeitosos. Não participe de grupos de WhatsApp ou de outras redes sociais que disseminam fofocas, fazem linchamento moral e críticas destrutivas, atingindo até mesmo a Igreja”, conclama. 
Para o cardeal, é lamentável que haja pessoas ou grupos que se dizem cristãos ou católicos recorrendo à violência para fazer valer a sua opinião e interesses: “É pecado grave usar o nome de Deus ou qualquer religião para praticar ou justificar a violência”, exorta.
“Quem escuta a voz de Jesus Cristo não alimenta, nem reproduz a violência disseminada na sociedade. Ao contrário, contribui para a paz, através do respeito e do diálogo, da misericórdia e do perdão. Quem escuta a voz de Jesus testemunha a sua palavra “Vós sois todos irmãos”, jamais tratando o outro que pensa diferente como um inimigo a ser combatido, mas como um irmão a ser amando, se necessário com a correção fraterna e o perdão. A paz é dom de Deus a ser compartilhado nesta Quaresma”, finaliza.
            Estou convicto de que a violência divulgada e compartilhada cria um clima favorável à agressividade. Como seria bom se nossos jornais, redes sociais, portais de notícias, redes de televisão, emissoras de rádio não dessem tanto destaque às violências com a “desculpa” de que vendem ou trazem audiência.
            Está na hora de implantar uma cultura de paz. Violência divulgada e compartilhada com certeza aumenta a agressividade e dificulta a superação da violência.




quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Ações e atitudes da Campanha da Fraternidade

A Campanha da Fraternidade está nos propondo, neste tempo quaresmal, uma profunda reflexão sobre a violência, suas causas e consequências. E vem logo a pergunta: o que fazer para ajudar a construir a cultura de paz? A Campanha da Fraternidade 2018 convida à superação da violência. O assunto é de interesse de todos e atinge a todos.
Mas, o que cada um de nós pode fazer para superar a violência e construir a paz?
Uma indicação importante antes de considerar qualquer ação ou atitude nossa é ter como centralidade o Evangelho: “Um agir que supera a violência tem como fundamento o Evangelho que aponta para a grandeza da vida e da beleza de viver. Testemunhar a beleza da vida e a graça de vivermos todos como irmãos! Essa verdade do Evangelho deveria ecoar em nossos corações, em nossas comunidades e em nossa sociedade”. (cf. Texto-Base nº 205)
No agir do referido Texto-Base, existe uma lista com várias ações e atitudes que a Campanha da Fraternidade apresenta nesse ano de 2018. Encontre ações que você, sua comunidade ou grupo possam se identificar e assumir como compromisso nesse ano.
Começamos com algumas sugestões para a superação da violência no âmbito da pessoa e da família:
1. Misericórdia, solidariedade e desejo de superação devem ser os elementos que fundamentam a ação diante da injustiça, sofrimento, conflito, insegurança;
2. Ninguém deve pagar o mal com o mal, mas com o bem;
3. Renunciar a qualquer forma de violência;
4. Não colocar nas armas a solução para os conflitos humanos;
5. Criar novos relacionamentos, a partir da fraternidade e da necessidade de um projeto social comum;
6. A solidariedade para com as vítimas da violência;
7. O respeito pela dignidade em todas as condições da vida;
8. A luta pela conversão pessoal e pela conversão de todos;
9. Respeito às diferenças, contra o preconceito e a discriminação;
10. Refletir nas famílias sobre a cultura da reconciliação e da paz e sobre estratégias de solução;
11. Repensar a própria responsabilidade em relação à sociedade;
12. Promover momentos para exercer o discernimento evangélico acerca do que ocorre na comunidade, bairro, cidade, e identificar situações de violência;
13. Desenvolver o diálogo com outras religiões e posições diferentes.





sábado, 17 de fevereiro de 2018

Quaresma


           A liturgia cristã acompanha o ciclo e a dinâmica da vida. Assim como o ano tem suas estações, a liturgia tem seus ciclos, onde a Páscoa é o centro. Tudo gira em torno deste Mistério Pascal. E o tempo que a antecede é a Quaresma, que, no Brasil, é acompanhada da Campanha da Fraternidade.

         “Convertei-vos e crede no Evangelho!” é o grande convite logo no seu início, na Quarta-feira de Cinzas. A Quaresma é um tempo forte de “penitência e de mudança de vida, que nos insere sempre mais no mistério de Cristo. Conversão possibilita o retorno da dispersão para a nascente inesgotável da vida: Jesus Cristo Crucificado-ressuscitado.” (Texto Base CF-2018, n. 9)
          A Quaresma nos encaminha para a Páscoa! É o tempo em que somos tocados pela Palavra, cultivamos a oração, o amor a Deus e a solidariedade fraterna. Somos despertados para os sentimentos de Jesus Cristo.
          Segundo o Texto Base da Campanha da Fraternidade 2018, “o insistente apelo à penitência e conversão não se apresenta na dinâmica da tristeza, mas de uma sóbria alegria, alimentada pela esperança. Vós concedeis, Senhor, aos cristãos esperar com alegria, cada ano, a festa da Páscoa. O tempo de conversão desperta em nós a alegria. Alegria do reencontro: a salvação! Se, por um lado, as recordação do sofrimento de Jesus com sua morte na cruz produz em nós uma dor, a Ressurreição nos deixa participar da vitória sobre a morte e o pecado. Assim, a Quaresma passa a ser um tempo de alegria, pois nos aproxima de Deus e de nossos irmãos” (TB n 11).
           Os quarenta dias desse tempo precioso são de graça e de bênção. Iluminados pela Palavra de Deus buscamos uma nova relação com as criaturas, com os irmãos e as irmãs, e com Deus. Um caminho sustentado pela oração, pelo jejum e pela esmola. “Oração como disponibilidade, entrega e docilidade à vontade do Pai: esmola como partilha de bens e de gestos solidários, de atenção misericordiosa com os pobres e necessitados: jejum como esvaziamento na imitação de Cristo na Cruz” (TB n. 12).
       Na Quaresma a liturgia despe-se dos seus aleluias e de suas glórias, convidando-nos à sobriedade e ao despojamento do supérfluo. “É um tempo de germinação silenciosa e profunda iluminada pela esperança e expectativa. Neste tempo somos convidados a reencontrar o nosso verdadeiro rosto em um esforço de autenticidade e lucidez, na oração e na caridade, para que, modelados à imagem de Cristo, sejamos capazes de uma comunhão mais profunda em seu mistério de morte e ressurreição. Mistério que não está fora de nós. Ele é o que somos e o somos convidados a ser. A nossa cruz não é outra senão a de Cristo, é o seu amor em nós que a carrega. A nossa verdadeira vida é a vida do Ressuscitado em nós. Se a liturgia nos conduz pelos passos de Cristo é para nos ensinar o caminho que também é nosso” (TB n. 13).
       Procuremos estar em sintonia com o espírito da liturgia deste tempo e acolher a seiva de vida que ela nos oferece.           

         


Ainda o 14º Intereclesial de CEBs

    Entre os dias 23 a 27 de janeiro de 2018, na Arquidiocese de Londrina, PR, aconteceu o 14º Intereclesial de CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) com a participantes de 3.300 representantes das comunidades de todo o Brasil, onde foi partilhada a valiosa experiência vivenciada neste encontro.
           Da carta final, trazemos alguns trechos para nosso conhecimento e partilha. “Diante dos clamores e desafios apresentados, fizemos a experiência de Moisés na sarça ardente, ao ser desafiado por Javé, o Deus libertador, que viu, ouviu e, ao descer, o enviou para libertar o seu povo do sistema de escravidão que aprisiona os corpos e coloniza as mentes.
        Na vivência de uma Igreja em saída, como cristãos leigos e leigas, padres, religiosos, religiosas, diáconos, pastores e pastoras, bispos, lideranças de povos originários e tradicionais, nos colocamos numa postura de diálogo, em que cada pessoa tem algo a aprender com a outra e todas à escuta do ‘Espírito da verdade’ (Jo 14, 17), procuramos conhecer o que Ele ‘diz às Igrejas’ hoje (Ap 2, 7).
         Reafirmamos nosso compromisso com uma Igreja da escuta e do diálogo. Queremos colaborar para que todos os organismos de serviços pastorais permaneçam conectados com a base e partam das pessoas, sobretudo, dos pobres e excluídos, dos desafios de cada dia e de seus clamores. Assim nos tornaremos uma Igreja em saída.
         As CEBs continuam sendo um “sinal da vitalidade da Igreja” (RM 51). Os discípulos e as discípulas de Cristo nelas se reúnem na escuta e na partilha da Palavra de Deus. Buscam relações mais fraternas, igualitárias e inclusivas. Superam a cultura machista e o clericalismo. Celebram os mistérios cristãos e assumem o compromisso de transformação da sociedade e a defesa da criação, a nossa casa comum.
         As mudanças culturais, os desafios e clamores da sociedade globalizada e da cultura urbana, o desmonte das estruturas democráticas em nosso País, a perda dos direitos civis e sociais e a degradação da dignidade humana e da criação levam as CEBs a assumirem os seguintes compromissos:


  •        transmitir às novas gerações as experiências e os valores das gerações anteriores;
  •        promover a cultura da vida;
  •      tornar-se uma Igreja de comunidades em rede, com novos ministérios, que inclua a mulher em sua plena dignidade eclesial;
  •        incentivar o protagonismo das juventudes e combater o seu extermínio;
  •   apoiar as lutas dos povos indígenas, da população negra e quilombola, dos pescadores  artesanais, da população em situação de rua, dos migrantes e refugiados, da população encarcerada, das crianças e dos idosos por cidadania plena;
  •    cobrar políticas públicas de inclusão social, participar dos conselhos de cidadania, promover a democracia direta e participativa e a autodeterminação dos povos;
  •       promover práticas de economia popular, solidária e sustentável;
  •      reafirmar a vocação política dos cristãos e cristãs;




Paz e superação da violência


       A Campanha da Fraternidade, que oficialmente inicia na Quarta-feira de Cinzas, dia catorze de fevereiro, em 2018 vai abordar o tema da Fraternidade e a superação da violência e como lema a frase bíblica de Jesus: Vós sois todos irmãos (Mt 23,8).

       O grande objetivo – objetivo geral – é “construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus como caminho de superação da violência”.

         E nos propõe alguns objetivos específicos:

  •            Anunciar a Boa-Nova da fraternidade e da paz, estimulando ações concretas que expressem a conversão e a reconciliação no espírito quaresmal;
  •         Analisar as múltiplas formas de violência, especialmente as provocadas pelo tráfico de drogas considerando suas causas e consequências na sociedade brasileira;
  •        Identificar o alcance da violência, nas realidades urbana e rural de nosso país, propondo caminhos de superação, a partir do diálogo, da misericórdia e da justiça, em sintonia com o Ensino Social da Igreja;
  •          Valorizar a família e a escola como espaços de convivência fraterna, de educação para a paz e de testemunho do amor e do perdão;
  •          Identificar, acompanhar e reivindicar políticas públicas para superação da desigualdade social e da violência;
  •          Apoiar os centros de direitos humanos, comissões de justiça e paz, conselhos paritários de direitos e organizações da sociedade civil que trabalham para a superação da violência.


O Texto Base, elaborado com a metodologia do ver, julgar e agir, nos alerta que a experiência de estar exposto a situações de violência é relatada por um grande número de brasileiros. Não se trata de uma percepção isolada e meramente subjetiva. Os episódios de violência intensificaram-se e tornaram-se comuns também em cidades pequenas e médias, deixando de ser um fenômeno típico das grandes metrópoles. No entanto, sempre encontramos muitos lugares onde existe a preservação da harmonia e da paz ou foi construída uma vida pacífica e fraterna.
E continua: “a violência direta é que chama a atenção. Essa forma de violência acontece quando uma pessoa usa a força contra outra. Mais de um agressor e mais de uma vítima podem tomar parte em tal evento. Porém, vemos crescer sempre mais as formas coletivas e organizadas da prática e violência”.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência se caracteriza pelo uso intencional da força contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo de pessoas. Essa violência pode resultar em danos físico, sexual, psicológico ou morte.
A violência não será superada com medidas que ignorem a complexidade do problema. É preciso compreender que a “violência não é um caso apenas reservado ao tratamento policial, à lei, mas é uma questão social, que requer a atenção e a participação de toda a sociedade para ser enfrentada”.

Nesta Campanha da Fraternidade desejamos refletir a realidade da violência, rezar por todos os que sofrem violência e unir as forças da comunidade para superá-la. Vamos lançar um olhar também para os rumos e os impasses que, há décadas, vêm dominando as políticas públicas de segurança.



Comunidades se encontram em Londrina


Londrina sedia, de 23 a 27 de janeiro de 2018, o 14º Intereclesial das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), que reúne cerca de 3.300 participantes de todo o Brasil, representantes das CEBs dos países do Conesul e parceiros das Igrejas da Europa.

O encontro tem como tema “As CEBs e os desafios no mundo urbano” e lema “Eu vi, ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Êxodo, 3:7). “A sociedade tem de estar preparada para lidar com os problemas atuais e, acima de tudo, pensar e refletir as soluções para enfrentar essas dificuldades”, afirma Dirceu Fumagalli, da Formação e Articulação das Equipes de Serviços do 14º Intereclesial. “A Igreja tem o compromisso de ajudar na formação e na articulação de seus membros para pensar essas soluções.”
Segundo o arcebispo de Londrina, dom Geremias Steinmetz, anfitrião do encontro, a temática do evento, que trata a questão da realidade urbana, é necessária e urgente e, por isso, atraiu um grande número de participantes. “Hoje já temos um percentual de mais de 80% dos brasileiros vivendo em cidades, os que nelas não habitam vivem a cultura urbana de qualquer jeito, seja através da televisão, do rádio, da internet, e isso está tomando conta do nosso país”.
O mundo urbano é um sinal dos tempos que nos convoca a uma “conversão pastoral e urbana”.  Hoje precisamos nos dar conta, como Igreja, que “o mundo urbano é prioridade da missão”. Não nos roubem o entusiasmo missionário, não nos roubem o projeto “Comunidade de comunidades”, não nos roubem o profetismo e a dimensão social do Evangelho, escreve dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida, na introdução do texto base em preparação ao encontro.
O bispo de Tocantinópolis (TO) e referencial das Cebs, dom Giovane Pereira de Melo afirma que este é um grande encontro celebrativo. Para ele, o evento é uma grande assembleia do povo de Deus que vive nas Comunidades Eclesiais de Base e que se encontra periodicamente para celebrar a caminhada, as conquistas, a luta e o testemunho de ser presença profética nas pequenas comunidades: “É um voltar da Igreja através das Comunidades Eclesiais de Base sobre toda a realidade, os desafios de evangelizar e ser presença profética no mundo urbano”.
O encontro intereclesial das CEBs tem uma metodologia de trabalho, baseada no método “Ver, Julgar e Agir” Para ampliar as reflexões dos desafios, o encontro foi organizado em 13 mini plenárias que irão discutir temas como acesso e condições de moradia; mobilidade urbana; formação e educação; acesso e participação na cultura e lazer; trabalho e emprego; juventude; ecologia; saúde e saneamento; violência e segurança; direito à comunicação; diálogo inter-religioso; movimentos e organizações sociais e populares; democratização e participação na política.
            A Diocese de Bagé estará presente com seis delegados, representantes das quatro Áreas Pastorais.