quinta-feira, 25 de abril de 2019

Gratidão, testemunho e compromisso


           Estamos vivendo o tempo pascal, tempo forte de renovar a nossa fé e de ter algumas atitudes importantes para a nossa caminhada eclesial e cidadã.

           A primeira atitude é de GRATIDÃO. “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho único, para que todo aquele Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Isso é graça. Não é por nossos merecimentos que somos salvos, mas por graça e misericórdia divina. A teologia da graça nos ensina que Deus é Amor, e o Amor tem necessidade de amar. Se o Amor não ama, deixa de ser amor. Se Deus não amasse, não seria Deus.
            Portanto, a salvação não é questão de meritocracia, mas dom divino. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,17). A Salvação já foi garantida a todos pela morte e ressurreição de Jesus Cristo.

            Daí decorre a segunda atitude: TESTEMUNHO. “E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra” (At 10,39). Ser cristão, usando o bom português, é ser um “Cristo grande” (é aumentativo). Se Jesus passou pelo mundo fazendo o bem, anunciando a Boa Nova aos pobres, abrindo os olhos aos cegos, libertando os oprimidos, incluindo os marginalizados, acolhendo e perdoando os pecadores, confortando e curando os sofredores, dando esperança aos que passam pela experiência da dor da morte, proclamando o Ano da Graça do Senhor, com o projeto de fazer do mundo um mundo justo e fraterno, a consequência para seus seguidores é fazer o mesmo que Ele fez, isto é, sermos suas TESTEMUNHAS.
            Ser cristão não é comprar o amor do Deus crucificado-ressuscitado com nossas obras, mas é continuar sua presença viva, atuante, eficaz e atualizada no hoje da história. As primeiras comunidades dos seus seguidores davam testemunho pela vivência em comunidade, perseverando em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na eucaristia e nas orações, participando da comunidade e vivendo a partilha. Seu testemunho fazia com que, entre eles, não houvesse necessitados e muitos queriam imitar o seu exemplo.

            A terceira atitude é o COMPROMISSO. “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho, e fazei discípulos meus entre todas as nações, ensinando-lhes tudo o que vos ensinei” (cf. Mt 28,18-20). Ninguém é batizado para ser cristão prá bonito. “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, e siga-me!” (Mt 16,24). Jesus fala em “perder a vida” por sua causa. Este “perder a vida” quer dizer gastar-se, doar-se, tomar a cruz prá valer, vestir a camisa, ser capaz de dar a vida pelo seu projeto. Em outras palavras, comprometer-se, ter uma militância capaz de colocar a proposta do crucificado-ressuscitado acima de interesses pessoais ou grupais, ideologias, dinheiro, status, tempo e até de religião.
            Quem ama se compromete.
            Quem se compromete, dá testemunho.
            Quem dá testemunho é grato por tudo o que o Senhor fez por nós.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

É Páscoa!


“Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos!”

            A Páscoa é uma festa religiosa que tem suas origens bíblicas e sempre quer ser uma memória de fatos vitoriosos. Não podemos desligar a Páscoa da libertação da escravidão, da passagem para a liberdade, da busca da terra prometida.
            O Cristianismo é a celebração memorial atualizada. Recorda o passado, celebra (=atualiza) no presente para projetar o futuro. Um povo que não tem memória repete os erros da história, dizem os pensadores.
            A Páscoa só aconteceu para os hebreus porque eles conseguiram se organizar, com a liderança de Moisés, e fazer a passagem para uma nova proposta de vida e de organização, que culminou, quarenta anos depois, com a entrada num novo jeito de viver e se se organizar. Os hebreus tiveram que se libertar não só da escravidão, mas também da ideologia e da idolatria dos faraós. Quarenta anos foi o tempo necessário para saírem não só com os pés, mas também com a cabeça e o coração do Egito.
          A Páscoa de Jesus recorda e atualiza esta Páscoa, para tornar a humanidade nova, recriada, libertada de todas as escravidões e de todas as dominações.
          Para acontecer a Páscoa de Jesus, Ele teve que ser rejeitado, caluniado, torturado e morrer numa cruz, injustamente. Mas Ele quis assumir sua missão, sem rejeitá-la nem recusá-la. Ser obediente até a morte. Não fugir de seu projeto nem trair a causa do Pai. A cruz foi consequência de sua opção e a Páscoa foi a confirmação de que estava sim no caminho certo. Por isso, sua Ressurreição é vitória. E na sua vitória, vitória de todos os que seguem o seu projeto de vida para todos.
          É Páscoa sempre que assumimos o projeto de Jesus Cristo, com todas as suas consequências, com seus ônus e com seus bônus.
          É Páscoa quando não temos medo de assumir a cruz, que nos leve à luz, de assumir a dor, que nos leva ao Amor, de assumir a nossa fé até às últimas consequências.
          É Páscoa quando não traímos o projeto de um mundo melhor, com melhores políticas públicas para todos, a começar pelos mais pobres e rejeitados.
        É Páscoa quando se é capaz de construir uma nova sociedade baseada não na violência, na exclusão, no preconceito e na discriminação, na morte e no ódio.
         É Páscoa quando somos capazes de investir na vida, na fraternidade, na solidariedade e dizemos sim ao perdão, à reconciliação e à misericórdia.
        É Páscoa sempre que não deixamos matar em nós a profecia a teimosia, que levantamos depois de cada e de tantas quedas, que não desacreditamos que um outro mundo é possível.
       É Páscoa quando, apesar das cruzes e dificuldades, apesar das sextas-feiras santas, nós apostamos na utopia da vida vencendo a morte, do dia vencendo a noite, do ódio vencendo o amor.
            Feliz Páscoa.
Pode até fazer escuro, mas vai amanhecer.
 Acreditar nisso é Páscoa!
             

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Caminho pascal


              Caminhar é preciso. E há toda uma caminhada que nos chama para a frente (no velho latim se diria provocar).
           Hugo Assmann, um grande teólogo, gaúcho, já falecido, gostava de contar que em muitos idiomas originais africanos, há um montão de termos para caminhos e caminhar, com incríveis nuances:
·         Caminhar com criança se fala de um modo.
·         Caminhar com os pais se fala de outra maneira.
·         Caminhar com os amigos se diz de um jeito.
·         Caminhar com a pessoa amada, ainda de outro.
            Mas – segundo disseram esses amigos da África – apesar de tantas palavras para caminhar, nas línguas deles não existe nenhuma palavra para caminhar sozinho.
            Ser cristão é sempre caminhar juntos. Não se é Igreja sozinho. Entender isso faz a diferença.
       O tempo litúrgico nos ajuda a caminhar, tendo como centro o Mistério Pascal. Para os evangelistas, a vida pública de Jesus é sempre um caminhar para Jerusalém, onde ocorrem os momentos mais importantes de sua vida: sua entrega eucarística, seu sofrimento, paixão, crucifixão, morte, ressurreição e ascensão, seguida da vinda do Espírito Santo no Pentecostes.
          O povo das comunidades primeiras chamavam os seguidores de Jesus como sendo o povo do Caminho. Hoje, nas nossas comunidades eclesiais, para designar quem é, prá valer, da Igreja, se diz que é o povo da caminhada.
           Neste tempo quaresmal e pascal, especialmente na Semana Santa, celebramos tudo isso, como gratidão, memória, compromisso e esperança.
          A Semana Santa nos coloca no Caminho de Jesus. Nos faz caminhar com Ele. Durante estes quarentas dias, caminhamos com ele no deserto, onde ficamos em oração e jejum, para vencermos as tentações. Com Ele, subimos o Monte Tabor, onde participamos da transfiguração de Jesus. Com Ele, queremos entrar em Jerusalém, onde vamos, com Jesus, participar de sua Ceia maior, onde, ao celebrar a Páscoa com seus discípulos, Ele se dá como Cordeiro Imolado pela nossa remissão.
          Na Ceia maior, Jesus lava os pés dos seus seguidores, colocando-se como Servo de todos, como servidor, como Aquele que veio para servir e não para ser servido. E nos pede que sigamos o seu exemplo: “Compreendeis o que acabo de fazer? Vós e chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,12-15).
         E foi na sua despedida, no seu grande sermão sobre o amor, que o evangelista João nos transmite nos capítulos de treze a dezessete, que Jesus se apresenta como o Caminho, a Verdade e a Vida que nos leva à felicidade eterna. “Ninguém vai ao Pai a não ser por Mim” (Jo 14,6).
         O Pão da Eucaristia é o Pão da Vida, que nos ensina a amar e a caminhar
     Caminhemos. Mas caminhemos juntos. Que a humanidade comece a entender o que é esse “caminhar juntos” e a diferença que isso faz!



quarta-feira, 3 de abril de 2019

Cristo Vive


            O Papa Francisco publicou a Exortação Apostólica pós-sinodal “Christus vivit” (Cristo Vive), assinada dia 25 de março, dirigida especialmente aos jovens.
         No documento, composto por nove capítulos, o Papa explica que se deixou “inspirar pela riqueza das reflexões e diálogos do Sínodo dos jovens”, celebrado no Vaticano em outubro de 2018.
          Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso as primeiras palavras, que quero dirigir a cada jovem cristão, são estas: Ele vive e quer-te vivo!”
             Francisco aborda o tema dos primeiros anos de Jesus. Para ele, estes aspectos de Sua vida não deveriam ser ignorados na pastoral juvenil, “para não criar projetos que isolem os jovens da família e do mundo”: é necessário apresentar a figura de Jesus “de modo atraente e eficaz” e diz: “Por isso é necessário que a Igreja não esteja demasiado debruçada sobre si mesma, mas procure sobretudo refletir Jesus Cristo. Isto implica reconhecer humildemente que algumas coisas concretas devem mudar”.
         Reconhece que há jovens que sentem a presença da Igreja “como importuna e até mesmo irritante”. Há jovens que “reclamam uma Igreja que escute mais, que não passe o tempo a condenar o mundo. Não querem ver uma Igreja calada e tímida, mas tampouco desejam que esteja sempre em guerra por dois ou três assuntos que a obcecam”.
          A Exortação se detém em seguida sobre o tema do “ambiente digital”, que criou “uma nova maneira de comunicar”, mas é também um território de solidão, manipulação, exploração e violência. “A reputação das pessoas é comprometida através de processos sumários on-line. O fenômeno diz respeito também à Igreja e seus pastores.”
         A todos os jovens, o Papa anuncia três grandes verdades. A primeira: “Deus que é amor”. A segunda: “Cristo salva-te”. A terceira verdade é que “Ele vive!”. Nestas verdades, aparece o Pai e aparece Jesus. E onde estão o Pai e Jesus, também está o Espírito Santo, aconselhando os jovens a invocarem todos os dias o Espírito Santo: “Não perdes nada e Ele pode mudar a tua vida”.
        Francisco recorda ainda que a juventude não pode ser um “tempo suspenso”, porque é “a idade das escolhas”, por isso é importante buscar um desenvolvimento espiritual. O Papa propõe “percursos de fraternidade” e a importância de ser jovens comprometidos, que buscam o bem comum. “O empenho social e o contato direto com os pobres continuam a ser uma oportunidade fundamental para descobrir ou aprofundar a fé e para discernir a própria vocação”.
       A Exortação se conclui com “um desejo” do Papa Francisco: Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre… A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé… E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós.