domingo, 29 de dezembro de 2019

A paz como caminho de esperança



        “A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica” é o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2020, celebrado em 1º de janeiro. “A esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis”, escreve o Pontífice.


        Entre esses obstáculos, o Papa cita as guerras e os conflitos que continuam ocorrendo, que marcam a humanidade na alma. Toda guerra, reforça, é um fratricídio.

“Há nações inteiras que não
conseguem libertar-se das
cadeias de exploração e corrupção
que alimentam ódios e violências.”

           Francisco citou um trecho do seu discurso pronunciado em Nagasaki sobre as armas nucleares, recordando que “a paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total”. (...) “Neste sentido, a própria dissuasão nuclear só pode criar uma segurança ilusória.”

           Como então romper esta lógica do medo? Para Francisco, não há outro caminho senão na busca de uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua.

         O Papa mencionou os sobreviventes dos bombardeios atômicos em Hiroshima e Nagasaki, que “mantêm viva a chama da consciência coletiva, testemunhando às sucessivas gerações o horror daquilo que aconteceu em agosto de 1945 e os sofrimentos indescritíveis que se seguiram até aos dias de hoje”. A memória, portanto, é um dos aspectos ressaltados pelo Papa como elemento fundamental da construção da paz, definindo-a “horizonte da esperança”.

“O mundo não precisa de palavras vazias,
mas de testemunhas convictas,
artesãos da paz abertos ao diálogo
sem exclusões nem manipulações.”

     Neste diálogo, é preciso buscar a paz para além das ideologias. “O processo de paz é um empenho que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma esperança comum, mais forte que a vingança.” Em outras palavras, se trata de abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a olhar-se como pessoas, como filhos de Deus, como irmãos. Trata-se de superar as desigualdades sociais, construindo um sistema econômico mais justo.

        Para Francisco, a paz implica também a conversão ecológica, pois hoje vemos as consequências da hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais.

         A conversão ecológica, portanto, traz a uma nova perspectiva sobre a vida, levando em consideração a generosidade do Criador e a necessidade de partilha. Esta conversão, explica o Papa, deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com os irmãos.

        Para os cristãos, a paz requer um esforço ainda maior, porque engloba a dimensão do perdão seguindo o exemplo do Mestre. “Aprender a viver no perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz.”

        O Santo Padre então conclui: “Dia após dia, o Espírito Santo sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz. Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda.”



sábado, 21 de dezembro de 2019


Natal, renove a alegria de viver


    
  

    É Natal! Tempo de renovar a alegria de viver.
Tempo de viver e conviver.
Tempo de sair ao encontro do próximo.
Tempo de renovar a alegria de partilhar.
Tempo de alegrar-se, pois podemos contar sempre com Deus.




              O Natal nos coloca no grande mistério da nossa fé cristã, quando o divino desce para assumir a nossa humanidade, menos o pecado.
               Natal é vida que nasce e renasce, cada dia, cada instante.
              A vida é bela, mesmo diante das dificuldades. É preciso resgatar o prazer, a alegria de viver.

     O mundo precisa de muitas Marias, que saibam dizer seu sim, sem medo, sem desculpas, sem omissão. Entregar-se nas mãos de Deus: eis aqui a serva do Senhor, faça-me em mim conforme tua palavra. Assumir os riscos deste sim, sem lamentos e sem tormentos, assumindo não só os bônus, mas também os ônus desta escolha.

     O mundo precisa de Josés, homens bons e justos, corajosos e destemidos, que assumam a defesa da vida, especialmente dos mais fragilizados. Ser José é assumir os riscos, com suas consequências e dificuldades, colocar-se a caminho, começar sempre de novo, realizando não a nossa, mas a vontade do Pai.

      O mundo precisa de anjos, que anunciem a alegria da presença do Deus-conosco, o Emanuel. Que lembrem a todos e a todas que não podemos ter medo, que não podemos deixar roubar a fé e a esperança de nós.

       O mundo precisa de pastores, que se alegram com a vida do Deus-Menino no meio de nós e que não se calam, mas vão ao seu encontro, com suas vidas, com seus trabalhos, com sua admiração. E não se calam, mas anunciam a Boa Nova a todas as pessoas de boa vontade.

       O mundo precisa de homens sábios, como Baltazar, Gaspar e Melchior, que sejam capazes de colocar sua cultura, seus conhecimentos, seus talentos e seus bens a serviço da humanidade. Que saibam sair de si mesmos, não pen sar no seu mundinho, mas no todo, no bem da humanidade.

         O mundo precisa de tanta gente anônima como aquelas pessoas em Belém e arredores, que, no primeiro Natal, mesmo sem entenderem o tamanho dos pequenos gestos, foram solidários com um casal e uma criança recém nascida, que os visitaram, ajudaram e protegeram contra a fúria do poder que não admitia concorrência nem sequer a possibilidade disso acontecer.

         O mundo precisa de muitos Franciscos – o de Assis e o Papa -, que venham renovar a alegria de viver, a alegria de servir, o cuidado com a natureza e a ecologia integral. Que sejam poetas e profetas, que ajudem a renovar o nosso mundo e que jamais permitam que nos roubem a esperança, as utopias e a certeza de que, com o Menino de Belém, um outro mundo é possível!

            F e l i z   N a t a l!

      

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Admirável sinal


          O Papa Francisco lançou, na abertura do Advento, em Greccio, lugar onde São Francisco de Assis fez o primeiro presépio, a Carta Apostólica “Admirabile signum” (Admirável sinal) que retoma a origem, os símbolos e significados presentes no presépio. Greccio, uma pequena cidade italiana com pouco mais de 1.500 habitantes, fica na região do Lazio, na província de Rieti, e a cerca de 60 Km de Roma.

        Segundo o Papa Francisco o nome da carta deve se ao fato de o presépio ser um sinal simples e maravilhoso da fé cristã. Trata-se de uma carta que “pode ajudar a se preparar para o Natal”. Em um trecho do documento, o Papa afirma: “Com esta Carta, quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças”. “Trata-se verdadeiramente dum exercício de imaginação criativa, que recorre aos mais variados materiais para produzir, em miniatura, obras-primas de beleza. Aprende-se em criança, quando o pai e a mãe, juntamente com os avós, transmitem este gracioso costume, que encerra uma rica espiritualidade popular. Almejo que esta prática nunca desapareça; mais, espero que a mesma, onde porventura tenha caído em desuso, se possa redescobrir e revitalizar.”

         Com a simplicidade daquele sinal, São Francisco realizou uma grande obra de evangelização. O seu ensinamento penetrou no coração dos cristãos, permanecendo até aos nossos dias como uma forma genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé.” Para o Santo Padre representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. “O Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura”, diz a Carta.

      “Armar o Presépio em nossas casas ajuda-nos a reviver a história sucedida em Belém. Naturalmente os Evangelhos continuam a ser a fonte, que nos permite conhecer e meditar aquele Acontecimento; mas, a sua representação no Presépio ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais.”

        “Queridos irmãos e irmãs, o Presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, educa-nos para contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está conosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria. E educa para sentir que nisto está a felicidade. Na escola de São Francisco, abramos o coração a esta graça simples, deixemos que do encanto nasça uma prece humilde: o nosso ‘obrigado’ a Deus, que tudo quis partilhar conosco para nunca nos deixar sozinhos.”



quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Advento, a espera vigilante


Iniciamos neste domingo o novo ano litúrgico, com o tempo do advento. Para os cristãos, ele possui duas características: é tempo de preparação para o Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus, e é também um tempo em que se voltam os corações para a expectativa da segunda vinda de Cristo, no fim dos tempos.

Advento é tempo da espera vigilante do Senhor. O verdadeiro discípulo deve estar sempre vigilante, não esquecendo que toda vida cristã é uma caminhada rumo ao encontro final com Cristo Salvador e Juiz; que vigiar é a atitude de quem se sente responsável pelo mundo, casa de Deus; significa vier sempre empenhado e comprometido na construção de um mundo de vida, de amor e de paz; cumprir os compromissos assumidos no dia do batismo e ser um sinal vivo do amor e da bondade de Deus no mundo; cumprir a missão recebida, dando testemunho de Jesus e do seu Evangelho; não viver como se a vida se reduzisse à duração terrena, mas viver sempre na expectativa da revelação plena do senhorio de Jesus.

              A Árvore de Natal -  é um dos símbolos deste tempo. Simboliza a vida. Sua origem está no Hemisfério Norte, onde agora é inverno e todas as árvores perdem as folhas, com exceção do pinheiro. Por isso, a árvore se tornou símbolo de vida, celebrada no Natal com o nascimento do menino Jesus.
          A árvore deve começar a ser montada com o advento, não antes.
          O Presépio a montagem do presépio deve seguir a mesma linha de preparação. Pode-se começar a montar a gruta, colocar os animais e os pastores, mas Maria e José devem fazer parte do presépio apenas mais próximo do Natal. E o menino Jesus somente na véspera.
         O presépio foi uma criação de São Francisco de Assis para lembrar a simplicidade e as dificuldades enfrentadas por Maria e José no nascimento de Jesus. A orientação para quem pretende seguir a tradição católica é não sofisticar os presépios com luzes e enfeites.
           É muito importante envolver as crianças na montagem dos presépios. O ideal seria que eles fossem feitos nas próprias casas, pelas crianças, para que percebam o real sentido do Natal. E valorizar mais o sentido cristão, deixando de lado os “papais noéis” e outros símbolos que levem ao consumismo, ao luxo ou às extravagâncias.

           Advento a coroa do advento é um dos grandes símbolos desta preparação ao Natal. Formada com ramos verdes e em formato de círculo, a coroa simboliza a unidade e perfeição, sem começo e sem fim. Representa o nascimento do rei. E m cada um dos quatro domingos do advento uma vela é acesa. Com a proximidade do nascimento de Jesus, a luz se torna mais intensa e é o Natal enquanto festa da luz que celebramos.

           Hora de desmontar tradicionalmente o dia de desmontar a árvore de Natal, o presépio e toda a decoração natalina é seis de janeiro, o Dia dos Reis. É nesse dia que três magos, pessoas sábias, encontram o menino Jesus e ele é então revelado a todas as nações. Termina então o tempo de Natal, o tempo de expectativa, e começa o tempo comum para a Igreja.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Celebrar a beleza da vida

            Estamos encerrando o Ano Litúrgico, que não se encerra, mas começa sempre de novo, como o ano civil, que é cíclico. E o círculo não tem começo nem fim, embora seja dinâmico.

           A liturgia no ajuda a colocar a centralidade de nossa vida em Jesus Cristo e celebrar, sempre de novo, os momentos importantes da sua vida, da nossa vida e da vida do mundo.
                
          A liturgia nos ajuda a termos um olhar de fé para os acontecimentos, celebrá-los com intensidade e vivenciá-los com maturidade.

         Estamos sempre andando, sempre caminhando. Como diz o cantador das comunidades argentinas e uruguaias, “é preciso seguir andando no más”. Viver cada momento importante, celebrar estes momentos.

          Na liturgia, celebramos a semana, com o Domingo, que é o Dia do Senhor, que deve ter o seu ritual, a sua liturgia própria, até no vestir, pois é um dia de Festa.

          Celebramos os ciclos da Natal e da Páscoa, com suas cores, com seus cânticos, com seus símbolos, com suas leituras especiais, com seus ritmos e suas espiritualidades. Uma completa a outra, uma depende da outra, uma continua a outra.

          Celebramos aqueles e aquelas que são importantes na caminhada, como Maria, a Mãe de Redentor e nossa Mãe. E fazemos isso de muitas formas, de muitas cores, com muitos nomes, na diversidade dos tempos e das culturas, nas suas expressões variadas e inculturadas.

             Juntamente com Maria, celebramos na liturgia tantos irmãos e irmãs nossos que são modelos e exemplos, intercessores e auxiliadores, que são os santos e santas, muitos já reconhecidos e nos altares, outros canonizados pelo povo e sua religiosidade.

            Na liturgia somos capazes de celebrar o nascimento e a morte, a vida e a ressurreição. A liturgia é acompanhada de tanta beleza e tanta profundidade, que explica-la pode enfeiá-la, como me disse uma pessoa amante da mesma.

              É preciso que cada cristão, cada batizado possa descobrir esta grandiosidade. Tudo começa por valorizar a espiritualidade cristã, descobrir a força e a necessidade da mesma, colocar a centralidade de sua vida em Jesus Cristo. A vida é um círculo, mas o círculo tem um centro.
Celebrar significa se alegrar e dar graças por tudo.

           Celebrar significa colocar nossa confiança em Deus, “na alegria e na tristeza, na saúde e da doença, em todos os dias de nossas vidas”.

       Celebrar é sair de nós mesmos, irmos com os irmãos e irmãs ao encontro da Comunidade, e ali juntos cantar, louvar, pedir perdão, ouvir o que Deus nos fala pela sua Palavra, comungar o projeto de Jesus Cristo, no Pão e na Palavra, comprometer-se a viver e testemunhar o que se celebrou.
É preciso descobrir – sempre de novo – a beleza da fé, da esperança, do amor, da liturgia, de participar da comunidade e da Eucaristia./

Que o novo Ano Litúrgico nos renove e nos faça redescobrir que sem Deus, nada somos e nada podemos.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A esperança dos pobres jamais se frustrará


             

         No próximo 17 de novembro, a Igreja celebra o Dia Mundial dos Pobres. O Papa Francisco publicou uma mensagem, que aqui queremos comentar nos seus dez pontos mais marcantes.

         1. O primeiro ponto é o título da mensagem: "A esperança dos pobres jamais se frustrará” (Sl 9, 19)Estas palavras do salmista são de incrível atualidade.
            E como esquecer os milhões de migrantes? E tantas pessoas sem abrigo e marginalizadas que vagueiam pelas cidades?

      2. O Papa diz que hoje temos muitas formas de novas escravidões a que estão submetidos milhões de homens, mulheres, jovens e crianças, como, por exemplo: famílias obrigadas a deixar a sua terra à procura de formas de subsistência; órfãos que perderam os pais ou foram violentamente separados deles para uma exploração brutal; jovens em busca de realização profissional, cujo acesso lhes é impedido por míopes políticas econômicas; a prostituição; as drogas.
         3. O contexto descrito pelo Salmo tinge-se de tristeza devido à injustiça, ao sofrimento e à amargura que fere os pobres. Apesar disso, dá uma bela definição do pobreé aquele que “confia no Senhor” (cf. 9, 11), pois tem a certeza de que nunca será abandonado.
        4. Constitui um refrão permanente da Sagrada Escritura a descrição da ação de Deus em favor dos pobres. É Aquele que escuta, intervém, protege, defende, resgata, salva… Em suma, um pobre não poderá jamais encontrar Deus indiferente ou silencioso perante a sua oração.
         5. A Palavra de Deus indica que os pobres são todos aqueles que, não tendo o necessário para viver, dependem dos outros. São os oprimidos, os humildes, aqueles que estão prostrados por terra. Mas, perante esta multidão inumerável de indigentes, Jesus não teve medo de Se identificar com cada um deles: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40).
        6. Ao aproximar-se dos pobres, a Igreja descobre que é um povo, espalhado entre muitas nações, que tem a vocação de fazer com que ninguém se sinta estrangeiro nem excluído, porque a todos envolve num caminho comum de salvação. A condição dos pobres obriga a não se afastar do Corpo do Senhor que sofre neles.
           7. É nos pobres que a caridade cristã encontra a sua prova real, porque quem partilha os seus sofrimentos com o amor de Cristo, recebe força e dá vigor ao anúncio do Evangelho.
            8. A tantos voluntários, a quem muitas vezes é devido o mérito de terem sido os primeiros a intuir a importância desta atenção aos pobres, o Papa pede para crescerem na sua dedicação e faz o seu reconhecimento.
           9. Basta pouco para restabelecer a esperança: basta parar, sorrir, escutar. Durante um dia, deixemos de parte as estatísticas; os pobres não são números, que invocamos para nos vangloriar de obras e projetos. Os pobres são pessoas a quem devemos encontrar. Os pobres salvam-nos, porque nos permitem encontrar o rosto de Jesus Cristo.
       10. O Senhor não abandona a quem o procura e a quantos o invocam; “não esquece o clamor dos pobres” (Sal 9, 13), porque os seus ouvidos estão atentos à sua voz. A esperança do pobre desafia as várias condições de morte, porque sabe que é particularmente amado por Deus e, assim, triunfa sobre o sofrimento e a exclusão.


terça-feira, 5 de novembro de 2019

Gratidão = 160 anos

            A paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio foi criada em 1859, no dia três de dezembro, por lei provincial de número 437, como era costume nos tempos do Império. Duas semanas mais tarde, foi criada a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, de Rosário do Sul, que também está completando seus 160 anos de criação.
            Antes disso, já em 1852, foi criada a capela curada, também por decreto provincial de 18 de novembro, que possibilitou a vinda do primeiro padre a fixar moradia em nosso município, que era o Padre José Tavares Rios Bastos, que aqui chegou em 1853, permanecendo em Dom Pedrito até a sua morte, ocorrida em 14 de outubro de 1887.

            Algumas atitudes nos movem nesta comemoração, unidos ao jubileu dos sessenta anos da Diocese de Bagé: gratidão, memória, santidade, compromisso, esperança.

“Gratidão pelos seus feitos / Neste pampa, neste chão
 Na coragem e bravura / Realizando sua missão.”

            Gratidão pelo caminho andado, mesmo antes da criação da Paróquia, com a devoção à Nossa Padroeira, a Mãe do Patrocínio, trazida pelos primeiros moradores, que lhe deram o nome de Nossa Senhora do Patrocínio de Dom Pedrito.

            Gratidão por tantos homens e mulheres que aqui cultivaram a sua fé e a sua religiosidade. Por tantos padres, religiosas e religiosos que assumiram este chão como sua terra.

            Gratidão pela evangelização, perseverança, por terem semeado tantos valores e plantados tantos testemunhos.
             Memória de tantas personagens que por aqui passaram, criaram raízes, deixaram marcas.

            Santidade que nos faz caminhar sempre, vivendo a fidelidade ao nosso Batismo, alimentados na Eucaristia, iluminados pela Palavra de Deus, fortificados na comunidade, na busca de sermos “santos como Deus é santo”.

“Compromisso deste povo/ No passado e no presente
Projetando seu futuro / São os elos da corrente.”

            Compromisso com o futuro, com a continuidade, com uma Igreja cada vez mais comunhão e participação, samaritana, misericordiosa, em profunda comunhão com o Papa Francisco, com o Bispo Diocesano, com a CNBB e suas Diretrizes de Ação Evangelizadora.

“Esperança, eis a meta / Na união buscando a Luz
De uma Igreja em saída / Seguidores de Jesus.”

                 A esperança é que nos move, nos anima, é nossa utopia, não nos deixa desanimar, nos faz acreditar que estamos construindo, juntos, o Reino de Deus. A esperança não nos deixa parados, nos faz caminhar sempre, desistir nunca.

                 Queremos fazer um grande canto de ação de graças à Maria, nossa Mãe, que deu o nome ao rio que alimenta nossa cidade e nossos campos, lavouras e rebanhos. Cantar nossa Mãe, que amparou e ampara seus filhos e filhas, como Mãe do Patrocínio, Mãe do Puro amor.
                
 Nossa Senhora do Patrocínio, rogai por nós.


quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Viver, morrer, ressuscitar!


                Nascemos, existimos, morremos!
                Morremos? Ou continuamos a nossa vida?
                Nascemos para morrer ou vivemos para ressuscitar?

      As respostas a essas perguntas dependem da visão que temos da vida, de Deus, qual nossa crença, onde colocamos nossa confiança...
    A comemoração de finados, lembrando os falecidos, é uma ótima oportunidade para refletirmos sobre a vida. Atrevo-me a afirmar que vivemos como cremos: se não cremos numa vida após a morte e não cultivamos uma fé, nossa vida pode ser levada de qualquer jeito. Afinal, viver para que, se tudo termina no caixão ou no cemitério?
   Uma pessoa que crê – e que crê na vida após a morte -, ela vive diferente. Vive não só “para esse mundo”, mas se prepara para a eternidade. Ela é uma pessoa mais dedicada à família, ao próximo, à solidariedade, ao perdão. Para quem não crê, viver para que? Um personagem de Shakeaspeare disse certa vez que “que se não existe vida depois dessa vida, melhor seria cravar-me um punhal no meu peito e acabar com tudo, pois a vida não tem sentido”.
     O que dá sentido à vida é a morte! Não se assuste: o que dá sentido a nossa existência é a preparação para a passagem para a vida eterna.
       Para nós, cristãos, o “último inimigo” já foi vencido. Cristo ressuscitou! Venceu a morte.
     Precisamos nos preparar para esse momento tão importante. E preparar nossos familiares, para evitar surpresas e desesperos.
     E no dia de finados, agradeçamos a Deus a existência de nossos entes queridos que partiram. Rezemos por eles. E lembremos: a melhor homenagem que podemos fazer para quem partiu é lembrar as coisas boas que eles nos ensinaram e imitar os bons exemplos que nos deram.

Exéquias

Padre Zezinho
Como nuvem passageira é nossa  vida                                                                                                    
e quem nos leva quem nos leva é o sopro do Senhor,
e não importa, não importa nem dinheiro nem poder
feliz daquele que ao chegar aquela hora
está sereno e preparado para morrer.
não importa quantos anos viveremos.
Ao chegar a nossa hora derradeira
o Senhor perguntará o que fizemos.
os que amaram como Deus mandou amar
quem lutou pra ver feliz outras pessoas
eternamente lá no céu irá morar.
acreditamos que ao Senhor pertence tudo
o que Ele fez, Ele fez foi por amor.
Como nuvem passageira é nossa vida
Somos todos como nuvem passageira,
Lá no céu só vão entrar os amorosos





quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O pacto das catacumbas


       Ao final do Concílio Vaticano II, no dia 16 de novembro de 1965, um grupo de 40 participantes se comprometeram a viver uma vida de pobreza e sem privilégios. Entre os mais conhecidos estava Dom Hélder Câmara, na época arcebispo de Olinda e Recife – cujo processo de beatificação está em andamento no Vaticano.
           Durante o Sínodo para a Pan-Amazônia, que está sendo realizado em Roma desde o dia seis de outubro, o gesto foi repetido. Um grupo de duzentos participantes, se reuniram, no dia 20 de outubro, nas catacumbas de Domitila (catacumbas são os locais que recordam os primeiros cristãos de Roma).
       Liderados pelo Cardeal D. Cláudio Hummes, assumiram o compromisso de defender os pobres, os territórios e a "floresta em pé" na Amazônia. O novo compromisso tem quinze pontos "por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana". Em resumo, o texto diz que os signatários se comprometem a:

  • ·                  Assumir a defesa dos nossos territórios e com nossas atitudes a selva amazônica em pé;
  •                    Denunciar o aquecimento global e o esgotamento dos recursos naturais, mantendo um estilo de vida sóbrio, simples e solidário, reduzindo o desperdício e usando o transporte público;
  •                    Reconhecer que não somos donos da mãe terra, mas seus filhos e filhas;
  •                    Promover uma ecologia integral, na qual tudo está interligado;
  •                    Acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado;
  •                   Renovar em nossas igrejas a opção preferencial pelos pobres, especialmente pelos povos originários, e junto com eles garantir o direito de serem protagonistas na sociedade e na Igreja;
  •                   Ajudar a preservar terras, culturas, línguas, histórias, identidades e espiritualidades dos povos indígenas e denunciar todas as formas de violência contra eles e outras injustiças nos direitos dos pequenos;  
  •                  Abandonar, em nossas paróquias, dioceses e grupos toda espécie de mentalidade e postura colonialista, acolhendo e valorizando a diversidade cultural, étnica e linguística;
  •                  Anunciar a novidade libertadora do Evangelho de Jesus Cristo, na acolhida ao outro e ao diferente;
  •                        Caminhar ecumenicamente com outras comunidades cristãs no anúncio inculturado e libertador do evangelho, e com as outras religiões e pessoas de boa vontade, na solidariedade com os povos originários, com os pobres e pequenos, na defesa dos seus direitos e na preservação da Casa Comum;
              Instaurar em nossas igrejas particulares um estilo de vida sinodal;

·           Empenhar-nos no urgente reconhecimento dos ministérios eclesiais já existentes nas comunidades, exercidos por agentes de pastoral, catequistas indígenas, ministras e ministros e da Palavra;

·             Tornar efetiva nas comunidades a nós confiadas a passagem de uma pastoral de visita a uma pastoral de presença, assegurando que o direito à Mesa da Palavra e à Mesa de Eucaristia se torne efetivo em todas as comunidades;

·                   Reconhecer os serviços e a real diaconia do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia e procurar consolidá-los com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade;

·               Buscar novos caminhos de ação pastoral nas cidades onde atuamos, com protagonismo de leigos e jovens, com atenção às suas periferias e aos migrantes, aos trabalhadores e aos desempregados, aos estudantes, educadores, pesquisadores e ao mundo da cultura e da comunicação;

·               Assumir um estilo de vida alegremente sóbrio, simples e solidário com os que pouco ou nada tem; reduzir a produção de lixo e o uso de plásticos, favorecer a produção e comercialização de produtos agroecológicos, utilizar sempre que possível o transporte público;

·                Colocar-nos ao lado dos que são perseguidos pelo profético serviço de denúncia e reparação de injustiças, de defesa da terra e dos direitos dos pequenos, de acolhida e apoio a migrantes e refugiados. Cultivar amizades verdadeiras com os pobres, visitar as pessoas mais simples e os enfermos, exercitando o ministério da escuta, da consolação e do apoio que trazem alento e renovam a esperança.