quarta-feira, 27 de março de 2019

Políticas Públicas: justiça, paz e alegria


 “Todos deveríamos construir uma sociedade em que qualquer pessoa que venha a este mundo possa se sentir atendido naquilo que são suas necessidades básicas”                                    (Francisco Orofino, leigo, professor de Teologia Bíblica em Nova Iguaçu (RJ) e assessor do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) e do ISER Assessoria (Instituto de Estudos da Religião).
              A palavra política é um termo da cultura grega, tem origem na palavra “pólis”. É voltada para o mundo urbano e Jesus era do mundo rural, na Palestina. Por isso, ele não usa a palavra política em si, mas a palavra justiça. O lema da Campanha da Fraternidade deste ano, “Serás libertado pelo direito e pela justiça”, uma passagem tirada do livro do profeta Isaías, é a grande chave para a ação de Jesus. Segundo Francisco Orofino “a prática política de Jesus a chamamos de prática libertadora de Jesus. O destinatário primeiro da ação de Jesus são os excluídos do mundo rural da Palestina. Posteriormente, com a evangelização do mundo grego, é que a proposta de Jesus vai se tornar uma proposta política. Ele não usa a palavra política, mas a palavra justiça. Para Jesus, a justiça é a inclusão de todos aqueles que estavam marginalizados pelo discurso hegemônico, inclusive o discurso teológico da época. A palavra-chave é dada pelo lema da CF deste ano. Temos que entender que Jesus traz uma proposta de libertação fundamentada no direito e na justiça.”
            A prática da justiça em Jesus tem como objetivo o Reino. Jesus não veio pregar sobre si mesmo. Ele trouxe uma proposta, que é a proposta do Reino. Como bem sintetiza São Paulo, o Reino de Deus é, antes de tudo, justiça, paz e alegria. “As nossas Políticas Públicas precisam ter uma construção a partir deste eixo: justiça, paz e alegria. O Reino de Deus é o Reino da alegria. Todo mundo deveria sentir dentro de si a alegria de viver, porque o grande objetivo de Jesus é trazer à vida. Eu vim para que todos tenham vida e vida em plenitude. A alegria de viver é a grande meta do Reino. Para que haja essa alegria de viver dentro das pessoas, faz-se necessário construir uma sociedade na paz. Sem paz não haverá essa alegria! Agora como construímos uma sociedade na paz? Vivendo a justiça! A igualdade de todos diante de Deus é o meio de se chegar à justiça. Deus não faz acepção de pessoas, portanto, todos nós deveríamos construir uma sociedade em que qualquer pessoa que venha a este mundo possa se sentir atendido naquilo que são suas necessidades básicas. O direito à moradia, trabalho, lazer, transporte, saúde, educação são as Políticas Públicas. Elas são um instrumento de justiça, para que haja paz na sociedade, para que as pessoas possam sentir dentro de si a alegria de viver. Este é o objetivo de Jesus: pregar o Reino de justiça, paz e alegria.”

quinta-feira, 21 de março de 2019

Deus é tudo!


             Somos caminheiros neste mundo. Acreditamos, como pessoas de fé, que foi Deus quem fez o mundo e tudo o que existe. E Deus fez o mundo para ser um lugar de felicidade, de convivência, de paz e de harmonia.
           Mas temos visto muitas situações contrárias à vontade divina. A violência está presente em quase todas as realidades. A drogadição aumenta. Os valores são voláteis (dizem que vivemos numa sociedade líquida...) A vida deixa de ser o valor maior em muitas situações... Aumentam as crises em todas as instâncias. As doenças “modernas”, como a depressão, o estresse, o consumismo mórbido, a ansiedade, a busca desenfreada do poder e do prazer, a ganância, a compulsão pelos gastos, levam as pessoas a procurarem fora de Deus a solução para seus problemas, muitas vezes anulando a própria vida.
          Nestes últimos dias vários fatos marcaram a nossa realidade. Tanto em nível mundial, quanto nacional e local. O que está faltando? Amor? Deus? Foco na vida?
          A Quaresma, cujo tempo estamos vivendo, nos ajuda a refletir e a buscar ajuda. Refletir sobre a nossa condição humana e pecadora. Sozinhos, somos nada. Ninguém é uma ilha. Precisamos uns dos outros. Somos seres sociais e precisamos interagir e nos relacionar. Somos todos irmãos e irmãs. Ninguém é mais que ninguém. Nem menos. Devemos aprender a caminhar juntos, não separados, nem na frente nem atrás. Juntos. Sozinhos podemos ir até mais depressa, mas juntos vamos bem mais longe.
       É tempo de refletir sobre como nós vivemos, em quem acreditamos, onde gastamos nossas energias, nosso tempo, nosso dinheiro. Em que investimos a nossa vida, quais as nossas metas, que mundo queremos construir, como estamos colaborando para que ele se torne realidade.
          É tempo de refletir sobre os valores e os limites, sobre a educação e a religião, sobre a Política e a politicagem, sobre fé e espiritualidade.
        É tempo de buscar ajuda. Buscar ajuda em Deus. Quando falta Deus, sobra prepotência, arrogância, autossuficiência... Em um mundo ou para uma pessoa sem Deus, tudo é permitido, tudo pode: matar, roubar, escravizar, armar, violar, explorar... Não tem limites. Não existem valores nem critérios. A primeira página da Bíblia, no livro do Gênesis, diz que “é um caos”.
            Precisamos buscar ajuda em nós mesmos. Acreditar em nós, em nossas capacidades, em nossa força de vontade, em nossa espiritualidade. Acreditar na força da superação.
            Precisamos ter utopias, alimentar as utopias.
           Precisamos ter esperança, não deixar a esperança morrer em nós, não deixar que nos roubem ou nos matem a esperança e as utopias.
            Precisamos deixar Deus agir em nós. E nós agirmos conforme o projeto de Deus. Uma relação filial, fraterna e amiga. Ele é o nosso Bom Pastor. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.
            Se Deus é por nós, quem será contra nós?
            Deus é Tudo!


quinta-feira, 14 de março de 2019

A Igreja tem que ter amor aos pobres



            A Doutrina Social da Igreja evidencia a necessidade de uma participação ativa e consciente dos cristãos leigos e leigas na vida da sociedade, sendo esse um de seus princípios permanentes. Para Fernando Altemeyer Junior, chefe do Departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A preocupação social da Igreja nasce do exemplo de Jesus Cristo. “Olhar para os pequenos é a maneira de ser da Igreja”, afirma.
            – Precisamos ir ao coração de Jesus para entender que a preocupação com os irmãos é o coração do Evangelho. Está na oração do Pai Nosso. Tudo nasceu da encarnação de Jesus, ao voltar-se para os mais pobres. Ele mesmo era pobre, mas não miserável. Ele era um carpinteiro, um operário qualificado, mas vivia cercado dos mais simples e mais pobres, zelando pela vida dos camponeses, desempregados, de pessoas doentes. Essa preocupação com o simples, o pobre, o último já nasceu da própria experiência de Jesus. A Igreja, no seu início, tem o exemplo de Paulo e os demais apóstolos, como Pedro e Tiago, que ficaram em Jerusalém. Eles andavam pelo mundo e tinham essa preocupação. É só ver as cartas de Paulo aos Gálatas, a preocupação de Tiago numa das cartas apostólicas que fala mais forte na defesa dos pobres. Essa preocupação social nasceu com a Igreja, é uma espécie de pedra de toque da Igreja. Uma boa Igreja tem que ter grande amor aos pobres. Não é somente uma questão moderna, vem lá dos Profetas, da Igreja primitiva. Olhar para os pequenos é a maneira de ser da Igreja. Essa é a nossa maneira de viver a religião!
            – No passado, a Igreja sempre falou em favor dos pobres. Todo mundo se lembra de São Francisco de Assis. Mas voltando no tempo, lembramos de Gregório de Nissa, São Vicente de Paulo. Sempre veremos alguém pregando um ensino social em nome da Igreja, das Dioceses e Congregações. Em 15 de novembro de 1891, o Papa Leão XIII escreveu a Encíclica Rerum Novarum: sobre a condição dos operários”, que se tornou o primeiro documento da Doutrina Social da Igreja (DSI). Os outros Papas seguiram aprofundando os temas, como Pio XI, São João XXIII e agora o Papa Francisco. Isso construiu uma espécie de corpo do ensino da Igreja, como se fosse uma pequena biblioteca, que trata do pensamento social, o que a Igreja pensa sobre política, economia, agricultura, meio ambiente. Ou seja, grandes temas da sociedade. A Doutrina Social é viva, ela começou lá atrás, em 1891, e vai se aprofundando. Alguns preferem até chamar de Ensino Social da Igreja, mas ficou famosa como Doutrina Social da Igreja. Hoje é uma disciplina em todas as faculdades de Teologia. Todos que estudam Teologia
 aprendem sobre isso.


quinta-feira, 7 de março de 2019

Mensagem do papa Francisco à Campanha da Fraternidade


Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

            Com o início da Quaresma, somos convidados a preparar-nos, através das práticas penitenciais do jejum, da esmola e da oração, para a celebração da vitória do Senhor Jesus sobre o pecado e a morte. Para inspirar, iluminar e integrar tais práticas como componentes de um caminho pessoal e comunitário em direção à Páscoa de Cristo, a Campanha da Fraternidade propõe aos cristãos brasileiros o horizonte das “políticas públicas”.
            Muito embora aquilo que se entende por política pública seja primordialmente uma responsabilidade do Estado cuja finalidade é garantir o bem comum dos cidadãos, todas as pessoas e instituições devem se sentir protagonistas das iniciativas e ações que promovam «o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição» (Gaudium et spes, 74).
            Cientes disso, os cristãos – inspirados pelo lema desta Campanha da Fraternidade «Serás libertado pelo direito e pela justiça» (Is 1,28) e seguindo o exemplo do divino Mestre que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28) – devem buscar uma participação mais ativa na sociedade como forma concreta de amor ao próximo, que permita a construção de uma cultura fraterna baseada no direito e na justiça. De fato, como lembra o Documento de Aparecida, «são os leigos de nosso continente, conscientes de sua chamada à santidade em virtude de sua vocação batismal, os que têm de atuar à maneira de um fermento na massa para construir uma cidade temporal que esteja de acordo com o projeto de Deus» (n. 505).
            De modo especial, àqueles que se dedicam formalmente à política – à que os Pontífices, a partir de Pio XII, se referiram como uma «nobre forma de caridade» (cf. Papa Francisco, Mensagem ao Congresso organizado pela CAL-CELAM, 1/XII/2017) – requer-se que vivam «com paixão o seu serviço aos povos, vibrando com as fibras íntimas do seu etos e da sua cultura, solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados, que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e mediáticos, sendo competentes e pacientes face a problemas complexos, sendo abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático, conjugando a busca da justiça com a misericórdia e a reconciliação» (ibid.).
            Refletindo e rezando as políticas públicas com a graça do Espírito Santo, faço votos, queridos irmãos e irmãs, que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, ajude todos os cristãos a terem os olhos e o coração abertos para que possam ver nos irmãos mais necessitados a “carne de Cristo” que espera «ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós» (Bula Misericórdia vultus, 15). Assim a força renovadora e transformadora da Ressurreição poderá alcançar a todos fazendo do Brasil uma nação mais fraterna e justa. E para lhes confirmar nesses propósitos, confiados na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, de coração envio a todos e cada um a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.