Memórias dos 60 Anos da Diocese de Bagé
Sou “crioulo” da Diocese de Bagé. Nascido, batizado, crismado, feito a
primeira comunhão e ordenado aqui. Lembro quando em 1964, a Ir. Geni Bolzan,
Missionária de Jesus Crucificado, que trabalhava na Creche Santa Elvira, em
Livramento, passava pelas escolas, a pedido de D. José Gomes, e convidava quem
quisesse entrar no Seminário São Pio X, que estava sendo aberto em Bagé, na
Vila Santa Teresa. Eu era candidato, mas como estava com dez anos, no quarto
ano primário, fiquei para a segunda turma, a de 1966.
Lembro quando, em 1968, D. José foi transferido para
Chapecó. D. Ângelo Mugnol foi seu substituto. Participei de sua posse, em março
de 1969: peguei carona no carro que o conduziu de Santa Teresa até o Vinte e
Um, onde ele foi recepcionado pelo Prefeito Municipal, autoridades e o povo.
Lembro da doença de D. Ângelo (tumor cerebral), sua luta
pela vida, sua profunda espiritualidade e aceitação. Acompanhei-o diversas
vezes a Porto Alegre, no seu tratamento. Lembro de sua morte, no dia 12 de
fevereiro de 1982, seu sepultamento na Catedral São Sebastião.
Lembro da nomeação de D. Laurindo para Bispo de Bagé,
dois dias antes da morte de D. Ângelo, sua posse, no dia 25 de abril de 1982,
seu esforço de se inculturar na Região da Campanha, ser um dos nossos, com os
pés fincados no chão deste pampa. Da sua clareza na visão de Igreja, dos
objetivos e das prioridades, levando-as adiante, apesar dos conflitos e
oposições de alguns, que lhe causaram antipatias e recusas. Mas ele ficou
firme, até sua saída, após vinte anos entre nós.
Lembro do período em que ficamos “sede vacante”, durante
um ano (2002), quando os padres da Diocese me elegeram Administrador Diocesano.
Lembro quando recebi o telefonema da Nunciatura Apostólica, em fins de outubro,
anunciando D. Gilio para Bispo de Bagé, cujo anúncio se daria em dezembro e eu
deveria guardar segredo. Participei da posse de D. Gilio como quarto Bispo da
Diocese de Bagé, em março de 2003.
Lembro da renúncia da D. Gilio, em junho de 2018, por
motivo de saúde e como novamente o Conselho de Consultores me elegeu
Administrador, apesar de estar em Dom Pedrito. E tão rápida como foi a renúncia
de D. Gilio, foi também a nomeação de D. Frei Cleonir, em setembro e posse em
dezembro.
Em 60 anos conseguimos formar o nosso rosto: uma Igreja
inserida na Região da Campanha, no nosso bioma pampa, nesta fronteira
meridional. Uma Igreja gaúcha, inculturada, próxima de sua gente, distribuída
nas mais de 330 comunidades urbanas e rurais. Grande em extensão e em
generosidade.
Temos ainda um longo caminho a percorrer, que vamos
construindo juntos, inspirados pelos exemplos do passado, motivados pelos
testemunhos do presente e animados pelas perspectivas do futuro.
Gratidão,
compromisso e esperança!