sábado, 30 de maio de 2020

Gentileza gera gentileza


A história começa com Paulo sendo levado a Roma como prisioneiro (At 27,1). Paulo está preso, mas mesmo numa viagem que se torna perigosa, a missão de Deus continua através dele.
          A narrativa é um clássico drama da humanidade. O relato informa que os passageiros do navio estão expostos às forças dos mares e das poderosas tempestades que se erguem ao seu redor. Essas forças os levam a um território desconhecido, onde estão perdidos e sem esperança. 

        As 276 pessoas a bordo são divididas em grupos distintos. O centurião e seus soldados têm poder e autoridade, mas dependem da perícia e da experiência dos marinheiros. Embora todos estejam assustados e vulneráveis, os prisioneiros são os mais vulneráveis de todos. Suas vidas são consideradas dispensáveis, eles estão em risco de uma execução sumária (At 27,42). À medida em que a história se desenvolve, sob pressão e temendo por suas vidas, vemos desconfiança e suspeita ampliando as divisões entre os diferentes grupos.

      Notavelmente, porém, Paulo se ergue como um centro de paz no tumulto. Ele sabe que sua vida não é governada por forças indiferentes ao seu destino, mas está segura nas mãos do Deus a quem ele pertence e serve (At 27,23). Por causa de sua fé, ele está confiante de que se erguerá diante do imperador em Roma. É a força da fé que encoraja Paulo a se erguer diante de seus companheiros de viagem e dar graças a Deus. Todos passam a ficar encorajados. Seguindo o exemplo de Paulo, eles partilham pão, unidos numa nova esperança e confiando em suas palavras.

       Esta experiência de confiança aponta para o tema principal dessa passagem: a providência divina. Foi decisão do centurião navegar em tempo ruim. Entretanto, durante a tempestade, os marinheiros é que deveriam decidir como conduzir o navio para garantir segurança à tripulação. Com o agravamento da situação, os planos dos marinheiros precisaram ser alterados. A única alternativa possível seria permanecer juntos e permitir que o navio naufragasse. Estão à deriva, nas mãos de Deus. Foram salvos pela divina providência. O navio e toda a sua valiosa carga se perderam, mas todas as vidas foram salvas.

            Esse grupo de pessoas diversas, e em conflito, desembarca em uma ilha (At 27,26). Tendo sido jogados juntos pelo mesmo navio, chegam ao mesmo destino. Lá, são recebidos com muita hospitalidade e amorosidade pelos nativos da ilha, que desconheciam os conflitos internos do grupo náufrago. Ao se unirem ao redor do fogo, cercados por um povo que nem os conhece nem os compreende, diferenças de poder e posição social se esvaem. Os 276 náufragos não estão mais na dependência de forças indiferentes, mas envolvidos pela amorosa previdência de Deus, que se revela através de um povo que os acolheu com uma “Gentileza fora do comum” (At 28,2). Com frio e molhados, eles podem se aquecer e secar perto do fogo. Com fome, recebem comida. São abrigados até que seja seguro para eles continuar a viagem. É uma Gentileza capaz de transformar qualquer conflito e animosidade.
(Texto do Subsídio para a Semana de Oração pela Unidade Cristã 2020)

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Tudo está conectado


Que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que vêm depois de nós, para as crianças que estão crescendo?”

 A Semana Laudato si’ faz parte de uma campanha global por ocasião do 5º aniversário da Encíclica sobre o Cuidado da Casa comum. O tema da semana é “Tudo está conectado”. De 16 a 24 de maio, os católicos são convidados a participar de seminários de formação on-line, interativos e colaborativos.

 Numa mensagem de vídeo, divulgada recentemente, o Papa Francisco encoraja os fiéis a participar e a pensar no futuro da nossa Casa comum. “Que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que vêm depois de nós, para as crianças que estão crescendo?” A partir dessa pergunta, o Papa renova seu “apelo urgente a fim de responder à crise ecológica, ao grito da terra e ao grito dos pobres que não podem mais esperar. Cuidemos da criação, presente do nosso bom Deus criador. Celebremos juntos a Semana Laudato si’. Que Deus os abençoe e não se esqueçam de rezar por mim”, afirma o Papa.
 Os ensinamentos da Encíclica são particularmente relevantes no contexto atual da pandemia de coronavírus, que parou muitas partes do mundo. A Laudato si’ oferece a visão de construir um mundo mais justo e sustentável. “A pandemia”, sublinha o diretor da Caritas Italiana, dom Francesco Soddu, “afetou todos os lugares e nos ensina que somente com o compromisso de todos podemos nos levantar e vencer também o vírus do egoísmo social com os anticorpos da justiça, caridade e solidariedade, para sermos construtores de um mundo mais justo e sustentável, de um desenvolvimento humano integral que não deixa ninguém para trás”.
“Em particular”, acrescenta dom Soddu”, “essa pandemia pode ser uma oportunidade para arraigar o nosso futuro no valor da fraternidade.

 A teóloga britânica Celia Deane-Drummond escreve: "A Covid-19 está ensinando ao gênero humano lições importantes que ele aprendeu pela primeira vez no crisol do seu surgimento inicial no tempo profundo. Nossas vidas estão emaranhadas entre si e com as outras espécies, e essa é a fonte da nossa força singular, mas também da nossa vulnerabilidade. Honraremos melhor aqueles que sofreram e morreram ao aprendermos a levar muito mais a sério a nossa interconectividade com Deus, entre nós e com as outras criaturas".

        O que mais se ouve falar e perguntar é: “Quando voltaremos ao normal?”. E a resposta deve ser: “Não podemos voltar ao normal, se por normal entendemos o tipo de vida que tínhamos até agora”.
       
       Ou o mundo muda, ou vamos todos morrer! Precisamos refazer conceitos, atitudes e relações. Que a pandemia nos ajude a refletir sobre que tipo de mundo queremos, que sociedade sonhamos e que passos podemos dar para construí-la.




sábado, 2 de maio de 2020

A travessia na escuridão

Caminhar é preciso

         Havia um jovem que estava na encruzilhada da sua vida vocacional. Tinha que decidir, fazer sua escolha: ou seguir sua vocação à vida religiosa, ou tomar outro rumo, assumindo uma profissão e construir uma família. Esta decisão lhe trazia angústia, medo, insegurança... O que fazer?
         Foi então pedir orientação ao seu mestre e orientador espiritual. Este o ouviu, deixou que abrisse seu coração e lhe contou uma história.  - Havia uma vez um caminhante que deveria atravessar uma floresta desconhecida. Ele não conhecia seus caminhos nem seus perigos. Sabia que era grande e até perigosa. Todos os cuidados eram necessários. Ele se preparou, levou sua mochila, não esquecendo uma lanterna. Mas não conseguiu atravessá-la durante o dia. A noite o pegou em pleno caminho. O que fazer? De repente, acabaram as pilhas de sua lanterna. Escuridão total. Seguir adiante seria perigoso, pois poderia cair num rio ou num precipício ou bater em algum obstáculo. O que fazer?
       
          Foi justamente esta pergunta que o mestre fez ao jovem. O que ele faria se estivesse no lugar daquele caminhante? Ele pensou um pouco e respondeu: - Esperaria amanhecer!
          Estamos numa travessia difícil. Precisamos estar preparados, mas sem perder a serenidade. Se faltar pilha na lanterna da vida, paremos e esperemos amanhecer. Pode ser que a saída esteja bem próxima de nós.

         As crises nos ajudam a amadurecer. As grandes tragédias são parteiras de grandes transformações. Na travessia da vida é preciso nos despojar de tudo aquilo que é pesado demais. Caso contrário, vamos cansar e não conseguir seguir adiante. Levar somente o essencial.

         Caminhar é preciso. Sem desistir, mas também sem estressar nem tomar atalhos ou querer apurar o passo. Caminhar sempre, se possível juntos. Poderemos ir até mais devagar, mas com certeza iremos mais longe!